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Samba e rojões no velório

Por
Roberto Vaz

A pretexto de qualquer notícia ou assunto que pode minar o governo interino de Michel Temer (PMDB), os companheiros costumam soltar rojões enquanto velam a moribunda Dilma Rousseff. Só que às vezes o barulho, além de ser desproporcional ao estrago que causa ao inimigo, é disparatado por chamuscar também a cúpula do PT.


Um exemplo são as gravações clandestinas do ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado. Ao colocar na berlinda os peemedebistas Romero Jucá, Renan Calheiros, Eduardo Cunha (este, na verdade, nunca saiu dela) e José Sarney, trouxe à baila, junto com o estrago nos entornos do governo interino, mais evidências de que a presidente afastada tem culpa no cartório.


O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ante o fuzuê, resolveu aumentar o volume do samba do crioulo doido ao pedir a prisão do quarteto fantástico. No fundo, apenas mais pirotecnia às vésperas do enterro.


De imediato e na contramão de todas as evidências, houve quem tenha cruzado os dedos para que Renan fosse encarcerado, uma vez que, assim, o petista Jorge Viana seria guindado ao comando do Senado Federal e poderia protelar ao máximo o julgamento do impeachment.


O banho de água fria veio nesta fria manhã de quinta-feira, quando os jornais revelaram que os senadores entraram em consenso sobre a questão. Ainda que o STF decida a favor do pedido de Janot, eles não deverão permitir que se cumpra a determinação.


Outro exemplo de gritaria inoportuna é a recente pesquisa CNT/MDA, que aponta o governo do presidente interino com praticamente o mesmo percentual de aprovação (11,3%) que a presidente Dilma tinha em fevereiro (11,4%). Como a interinidade do peemedebista não completou um mês pode-se concluir que o índice não é completamente ruim, sobretudo se comprada a rejeição de Dilma (63,4% em fevereiro) com a de Temer (28%).


A pesquisa mostrou ainda um alto grau de desconhecimento dos eleitores em relação a Temer. Chegam a 30,5% os entrevistados que não souberam opinar a respeito da atual administração, o que leva à suposição também de que sua aprovação esteja atrelada ao desconhecimento do eleitor. Do mesmo modo, a desaprovação do governo (28%) pode se dar a partir de fatores alheios à sua gestão – como a crise econômica que persiste.


Mas na medida em que mínguam as possibilidades, vicejam as expectativas. A “política da terra arrasada”, do “quanto pior, melhor” e do “somos diferentes por sermos iguais” são as únicas alternativas aos que condenam a conduta desonesta dos outros enquanto seguem a acoitar a obscenidade dos seus.


Não é à-toa que o presidente do PT, Rui Falcão, sugere greve geral em protesto contra Michel Temer. Como sob certas condições essa gente perde a sensatez com a mesma facilidade com que perdeu a vergonha na cara, Falcão esqueceu que na atual conjuntura os trabalhadores estão mais preocupados em manter os empregos.


Sim, tem certas horas que rojão vira traque.


 


 


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Roberto Vaz

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