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Esqueletos no armário

Um dia depois de menosprezar o uso de CPI para investigar os desvios na Secretaria de Habitação, o líder do governo na Assembleia Legislativa, deputado Daniel Zen (PT), apresentou, de uma única vez, três propostas de criação de comissões parlamentares de inquérito. É algo inédito na história do parlamento.


A iniciativa visa embaraçar a disposição dos oposicionistas de investigarem a BR-364 e a venda de casas do programa Minha Casa Minha Vida.


Ao se referir à proposta do colega Gehlen Diniz (PP), que emplacou as oito assinaturas necessárias à criação da CPI da Sehab, Daniel Zen afirmou que o trabalho da Polícia Civil era mais do que suficiente para deslindar a verdade por trás das denúncias de que a secretaria havia se tornado um balcão de negócios.


Em outras palavras, o líder petista defendeu a inutilidade de investigações adicionais por parte da Assembleia Legislativa, instituição para a qual foi eleito e cujas prerrogativas deveria defender.


Não obstante o descaso inicial, Zen parece ter acordado com a disposição contrária nesta quarta, quando protagonizou o ineditismo a que nos referimos acima.


E se ele acredita mesmo que deputados estaduais não devem imiscuir-se em inquéritos que precisam ficar restritos à alçada da Polícia Civil – como o gravíssimo tema da venda de casas populares –, assuntos que deveriam ser investigados pela polícia de repente lhe pareceram dignos da perscrutação do parlamento. Um deles é a agiotagem que domina o Acre, objeto de um dos pedidos de CPI de Daniel Zen.


Nas conjeturas amalucadas do deputado petista, o desvio de finalidade de imóveis construídos com recursos públicos, e que acabaram nas mãos de quem tinha dinheiro para negociá-los, ao invés de abrigar os que não tinham teto nenhum, é menos grave dos que fazem da usura um modo de vida.


E não espanta apenas o equívoco da hierarquização das prioridades constitucionais na cachola do líder do governo, bem como ofende o desplante dos que maquinam uma manobra tão explícita a ponto de não disfarçarem sequer os objetivos espúrios que ela encerra.


Daniel Zen, bem como os outros 23 deputados que compõem o parlamento acriano, tem a prerrogativa de mudar de ideia e contraditar os próprios discursos, assim como apresentar quantas propostas de CPIs achar conveniente.


O que parece vedado ao petista é que ele desrespeite não apenas seus eleitores como os demais cidadãos acrianos, ao tratar a todos como gradíssimos idiotas incapazes de entender qual a verdadeira razão por trás de sua atitude.


Ao tentar barrar principalmente a CPI da BR-364, o PT admitiu temer a exumação dos esqueletos enterrados lá.


 


 


 


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