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Em depoimento, Cícera revela medo de morrer por causa de queda do esquema na Sehab

Por
Jairo Carioca e Luciano Tavares


As novidades da Operação Lares não param. Desde que ac24horas teve acesso aos autos do processo que está sob a responsabilidade do juiz da segunda Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Acre, Gilberto Matos de Araújo, que apura a ação de uma quadrilha criminosa e que comprou e vendeu casas populares que deveriam ser distribuídas para a população de baixa renda.



Numa demonstração de ameaça e deboche,  os acusados Marcos Huck e Daniel Gomes – homens de confiança do ex-secretário Jamyl Asfury –  chegam a denominar a operação de “A Casa Mata”, sugerindo este nome para CPI da SEHAB. Ele usou o tom de ameaça quando foi procurar pela assistente social Gerciane para amenizar perseguição implacável feita à Cícera Dantas depois que os rolos praticados com compra e venda de unidades habitacionais do Programa Minha Casa, Minha Vida se tornaram público.


 



A reportagem do ac24horas teve acesso exclusivo ao depoimento de Cícera concedido na sede da Policia Civil do Estado do Acre, que revela mais detalhes do balcão de negócios instalado dentro da Secretaria de Habitação e Interesse Social e confirma o tráfico de influência de políticos da Frente Popular do Acre e gestores do alto escalão do governo de Sebastião Viana (PT-AC) no pedido de facilitação na distribuição de unidades habitacionais.


“Eles ficavam passando direto na frente da minha casa; o Marcos pegou a pistola e fez assim (faz gestos para o delegado) tipo me mostrando”, disse Cícera Dantas durante o depoimento de quase 20 minutos concedido na sede da Policia Civil ao delegado Roberth Alencar, na fase de inquérito da Operação Lares.


“O Marcos foi lá em casa e me orientou que eu deveria negar tudo que acontecia dentro da secretaria”, acrescentou Cícera à Polícia Judiciária.



O que a dupla tentava esconder é o que esta série de reportagem vem esclarecendo. A fraude na distribuição de casas iniciada em abril de 2014 dentro da SEHAB, na gestão do ex-secretário Rostênio Souza, não cessou com a nova equipe nomeada pelo governador Sebastião Viana (PT-AC).


Cícera Dantas, que segundo Rossandra Melo, com base em informações repassadas por Cleuda Maia, era quem tinha ficado no lugar de Irlan Lins na chefia do sistema, consegue dar mais riqueza nos detalhes de regulamentação das unidades que foram facilitadas, vendidas e compradas no processo. Tudo com a participação de Marcos Huck e Daniel Gomes e amplo conhecimento, segundo Cícera, do ex-secretário Jamyl Asfury.


“Eles [Marcos Huck e Daniel Gomes] chamavam a gente e diziam que tal família tinha que ser beneficiada. Ia para o georeferenciamento e depois que passava pra gente. Eu percebi que os nomes que eles me passavam não eram de pessoas do escritório, das zonas de atendimento prioritário, ZAPs”, acrescentou Cícera durante interrogatório.


Novos nomes surgem a partir das confissões de Cícera para o organograma da suposta quadrilha que atuava na sala ao lado do gabinete do secretário Jamyl Asfury.



Outra informação importante que o depoimento de Cícera apresenta para o amplo conhecimento é o fato de, em tese, as mudanças sugeridas pela auditoria instalada dentro da SEHAB, relacionadas as falhas detectadas no sistema que disciplina procedimentos e diretrizes referentes aos programas habitacionais não terem sido feitas. E se foram feitas, sem a ampla transparência e publicidade, o sistema continuava falho.


Cícera, que segundo informações não confirmadas,  fez delação premiada ainda não homologada pelo Judiciário, segue informando em seu depoimento que além de vender casas nos habitacionais Cidade do Povo, Cabreúva e Rui Lino III, Daniel tinha uma planilha de negócios feitos entre 1 de novembro e 5 de dezembro, de famílias supostamente contempladas no Conjunto Andirá.


“Nessa lista tinha o nome das famílias e na frente de quem pedia Jamyl…”. Nesse momento Cícera foi interrompida pelo delegado Roberth que perguntou quem mais pedia casas através de influência política.


“Tem muitos nomes, tinha lá Jamyl, Daniel, Marcos e outros políticos (…)”, acrescentou a delatora.


Veja como estavam repartidos os contratos homologados para o Conjunto Andirá, conforme depoimento de Cícera à Polícia Judiciária:



As provas documentais de alguns processos citados por Cícera Dantas no depoimento ao delegado Roberth foram extraídas do seu computador após o seu depoimento e colocadas à disposição da investigação. Em relação a uma outra lista comprometedora, Cícera afirmou ter arquivado, “com medo” em um computador de uma amiga. Mas ficou de repassar no dia seguinte ao delegado que presidiu o inquérito.


Após suspeitarem de que Cícera estava escondendo documentos e provas em seu computador, a servidora pública foi afastada sem nenhum tipo de documentação. Neste caso, vale ressaltar, que o afastamento foi uma decisão do ex-secretário de Habitação, Jamyl Asfury. “O Jamyl disse para mim não entrar mais aqui! Não tive direito de sequer tirar meus objetos pessoais” , disse a depoente.


QUEM É CÍCERA DANTAS – O conjunto de informações levado ao conhecimento da Policia Judiciária é de alguém experiente que trabalha no governo da Frente Popular do Acre desde 2001, quando ingressou na Secretaria das Cidades, foi para a Secretaria de Habitação e Interesse Social em 2006.


Cícera confirmou que é amiga de Cleuda Maia, que a conheceu em 2003 quando trabalhava na Secretaria das Cidades e que trabalhou diretamente em campanhas eleitorais do atual governo, precisamente, na eleição de Raimundo Angelim.


O QUE OS CITADOS DISSERAM:


O ex-diretor social da Sehab, Marcos Huck, disse por telefone ao ser indagado por ac24horas que não ia dar qualquer declaração e que precisava primeiro consultar seu advogado. Marcos Huck é agente penitenciário.


Já o ex-diretor executivo da Secretaria de Habitação, Daniel Gomes, continua preso.


O deputado estadual Jamyl Asfury (ex-secretário de Habitação) recebeu a reportagem de ac24horas em seu gabinete na Assembleia Legislativa nesta quinta-feira, 02.


Asfury negou a existência de qualquer lista feita por indicação dele.  “Não existe lista pra isso, existe critério técnico. A gente não pode trabalhar com lista porque isso aí é uma coisa ilegal. A gente pode trabalhar com as referências que tem.”


O parlamentar também diz que não tinha qualquer conhecimento das fraudes cometidas por Daniel Gomes e Marcos Huck, seus dois homens de confiança. Ele voltou a repetir que as investigações dentro da Sehab foram feitas por sua iniciativa.


“Quem começou a investigação foi eu. Então não tem a menor possibilidade de eu que sou o autor, né, que iniciou todo esse trabalho de investigação, que foi encaminhado pra polícia, que foi encaminhado pro Ministério Público, ter qualquer participação disso.”


O ex-secretário de Habitação afirmou ainda que Cícera era “a mulher, a personagem que fraudava. Essa mulher dizia na secretaria antes de eu chegar que ninguém teria coragem de peitá-la porque ela quem conhecia todo processo, conhecia tudo. E quando eu soube dessa ação fraudulenta, eu soube num dia e a partir do outro dia nunca mais ela pisou na Sehab”.


LEIA SÉRIE DE
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