Essa é a história de três mortos, uma nota de esclarecimento e questões a ponderar.
A ordem natural das coisas pressupõe a lógica de que os pais sejam enterrados pelos filhos. Até mesmo a dor da perda é menor quando o mundo segue seu curso espontâneo. Mas o mesmo não ocorre quando são os pais a enterrarem os filhos, sobretudo aqueles cujo primeiro sorriso nem sequer chegaram a ver.
Há, portanto, algo de antinatural acontecendo no Acre, onde jovens casais são obrigados a se despedirem dos seus rebentos de forma abrupta, prematura e, claro, dolorida.
Nesta semana, a Maternidade Bárbara Heliodora foi denunciada pelo falecimento de três bebês, que se juntam a outros mais numa batalha perdida por quem confiou no serviço público de saúde.
O governo do Estado, quanto mais tenta explicar tantas mortes em tão curto espaço de tempo, menos consegue convencer os cidadãos sobre a eficiência dos serviços que presta.
Em nota divulgada no início da noite de quinta-feira, 26, após a divulgação da notícia segundo a qual mais três bebês teriam morrido durante o trabalho de indução do parto, o Estado tentou justificar os fatos. O texto dizia que:
1) dois bebês deram entrada na maternidade com “óbito fetal confirmado”;
2) o terceiro caso será objeto de “todo rigor investigatório pela Secretaria de Estado de Saúde”.
O primeiro item se desdobra em argumentos para explicar o “óbito fetal” das duas crianças, alegando que ambas eram do interior do Estado – uma de Santa Rosa do Purus e a outra de Capixaba. Conforme a nota da Sesacre, Santa Rosa é “um dos municípios mais distantes da capital”, e a moradora de Capixaba teve de se deslocar “numa viagem de quase 80 quilômetros”.
Quanto ao “rigor investigatório”, o governo ainda deve explicações à sociedade sobre casos anteriores, nos quais os pais também perderam os seus rebentos.
Sobre a distância que as mães dos primeiros bebês tiveram de percorrer para chegar a Rio Branco, cabem algumas perguntas simples: não há assistência médica nos municípios do interior capaz de evitar que outras mortes aconteçam? Ou tudo é apenas uma questão de distância entre o que prega a propaganda oficial do governo e a realidade da saúde no Acre?
Além do mais, estranha que a Sesacre não explique por que uma mulher de origem indígena, residente no município de Santa Rosa, tenha que se deslocar à capital para dar à luz, quando deveria haver, senão no local onde reside, pelo menos em um município mais próximo, uma unidade que a acolhesse.
Mais sensato e honesto por parte do governo de Sebastião Viana seria admitir que, além de estrutura, faltam médicos e outros profissionais habilitados que atendam aos moradores do interior. E revelar de uma vez por todas o que tem acontecido na Maternidade Bárbara Heliodora.
O gesto, claro, não traria de volta os que morreram. Mas pacificaria um pouco o coração dos que – tão cedo – tiveram que enterrá-los.
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