Maldita a democracia que se sustenta numa estrutura, partidária tal qual a nossa: fisiológica e indecente.
A PEC-113/2015, recém aprovada, possibilitou que no curtíssimo espaço de 30 dias, 84 dos nossos deputados federais se evadissem dos através dos quais haviam sido eleitos, e sem prejuízo de seus mandatos. E de lambuja, ainda conseguiram reduzir de um ano para seis meses, o tempo de filiação partidária para àqueles que pretendam se candidatar a prefeito nas eleições de outubro próximo. Outro não foi o motivo que os levaram a aprovar a referida emenda constitucional.
À época nossos parlamentares, tanto quanto agora, já eram tão ou mais desacreditados e impopulares que o governo da então presidente Dilma Rousseff. Aliás, na nossa atividade político-partidária, coisa desta ordem, ou mais precisamente, dessa desordem, já virou rotina.
Em se tratando de uma debandada de 84 deputados federais, só para se ter idéia do que isto veio significar, o partido detentor da maior bancada na nossa câmara dos deputados, o PMDB, tem apenas 69 deputados federais. Isto é o que podemos chamar, categoricamente, de legalização de uma imoralidade.
Um país cuja legislação permite que isto aconteça jamais poderá se surpreender com seus recorrentes escândalos, nem mesmo que ele venha ter as dimensões de um petrolão, até porque, com representantes de 28 partidos políticos no nosso Congresso Nacional, o relacionamento entre o nosso poder executivo e o legislativo, quando não precedido do atendimento das mais espúrias exigências dos nossos parlamentares, o governo jamais conseguirá aprovar coisíssima nenhuma.
A partidarização da nossa máquina pública federal, ou mais precisamente, a ocupação dos nossos ministérios e das nossas empresas estatais por elementos indicados pelos partidos políticos já está mais que suficientemente comprovado que tem sido a causa determinante dos nossos mais cabeludos escândalos, e continuará a ser, enquanto nossos governantes só conseguirem compor suas maiorias parlamentares caso se submetam as chantagens, e a expressão é esta mesma, de mais de uma dezena de líderes partidários. Do contrário, terão que enfrentarão as suas sabotagens.
Lamentavelmente, quando era de se esperar que o governo Michel Temer viesse por alguma ordem na referida desordem, ou seja, que não viesse se curvar às pressões partidárias, sobretudo, dos parlamentares que votaram pelo afastamento da presidente Dilma, seus principais ministérios, a se destacar, o da saúde, o da educação e do segurança pública foram repartidos consoante o velho e velhaco critério.
Por esta e outras, não em menosprezo a aprovação das demais reformas constitucionais, mas nenhuma outra deveria se antecipar a aprovação da nossa reforma política, até porque, aprovada esta, mais facilmente seriam as outras.