Conversei com a vereadora Fernanda Hassen (PT), pré-candidata a prefeita de Brasiléia. Numa semana de muita repercussão do caso da vereadora do Jordão, Zeina Melo (PMDB), que teve suas fotos de nudez roubadas e espalhadas pelo whatsApp, Fernanda pediu respeito à intimidade das mulheres que fazem política. Ela mesma foi envolvida recentemente num caso rumoroso de suposta infidelidade matrimonial. Nessa entrevista exclusiva ao AC24horas, a pré-candidata petista, fala dos motivos que a levaram para a vida pública, dos seus planos de governar Brasiléia e também de toda a boataria e repercussão dos momentos tensos que viveu ao ser acusada de trair o seu marido pelo suposto amante. Fernanda tem 34 anos, é assistente social, casada, tem um casal de filhos, milita no PT há 17 anos, foi secretária de comunicação da ex-prefeita Leila Galvão (PT) e está no seu primeiro mandato como vereadora.
ac24horas – Vereadora por que você entrou na política?
Fernanda Hassem – Sou filha de Brasiléia e sempre militei nos movimentos estudantis e sociais. Estou na vida pública há 16 anos e trabalhei no primeiro mandato do governador Jorge Viana (PT) e depois como secretária de comunicação da Leila Galvão. Atendendo pedidos de amigos e pela identificação acabei me tornando política. Em 2012, fui a vereadora mais votada de Brasiléia e desde então venho fazendo um mandato participativo conversando com as comunidades. Nesse momento político em que estamos passando é preciso que os políticos tenham licitude nas coisas que fazem e venho procurando imprimir isso no meu mandato. Com isso, meu nome foi surgindo naturalmente como candidata a prefeita do município.
ac24horas- Qual o motivo principal que te leva a querer ser a prefeita do município?
FH – A situação em que Brasiléia está atualmente requer uma pessoa com a experiência de vida pública toda dedicada ao município. Requer um olhar técnico e administrativo. Desejamos resgatar o município e reestruturá-lo. Enxergo Brasiléia a nível regional como um polo industrial. O setor econômico da região do Alto Acre tem Brasiléia como uma referência e precisamos potencializar essas condições. Não dá para pensar em trabalhar apenas com ruas e ramais, mas sim desenvolver o município para vencer essa crise econômica nacional. Brasiléia passou por dois problemas de enchentes, mas indiferente dessas questões naturais a gente enfrenta um grave problema de gestão e isso é notável.
ac24horas – Você é do PT que atravessa um momento difícil nacionalmente. Você não acha que isso poderá atrapalhar a sua candidatura a prefeita?
FH- Todas as siglas partidárias estão passando por problemas de credibilidade com a população. Quando se fala do PT é porque estava a frente com a nossa presidente Dilma (PT). Nós temos também o Governo do Estado do PT e acho natural que hajam manifestações de descontentamento com quem está no poder. Mas a falta de credibilidade com alguns políticos é com todas as siglas. No casos dos interiores as pessoas se conhecem entre si. Brasiléia tem 23 mil habitantes, portanto, é uma eleição de pessoas e de trabalhos realizados. No nosso município quem enfrenta o desgaste maior atualmente é o PMDB, que tem o prefeito.
ac24horas – Até por você ter falado que todos se conhecem em Brasiléia. A gente sabe que você foi envolvida numa questão de infidelidade conjugal através de boatos. Inclusive com o personagem chave que também pode ser candidato a prefeito. Você acha que isso aconteceu por você ser mulher? Como isso te afetou e o quê pode trazer de danos à sua campanha?
FH – Lamento tudo isso profundamente como mulher, como mãe e como cidadã. É triste a gente passar por esse tipo de exposição da nossa vida particular de mãe e de uma pessoa que toda a vida trabalhou. Brasiléia me conhece como uma mulher séria, honesta e trabalhadora. Não tem nada que desabone a minha vida. Com o tempo todo mundo percebeu que o ator de tudo isso pouco tempo depois lançou seu nome como pré-candidato a prefeito. Todo mundo percebeu que aquilo era um ataque ridículo a uma pessoa, a um ser humano. Mesmo porque não estou falando da Fernanda política, mas da Fernanda mãe, da Fernanda mulher. E a sociedade soube separar isso de forma muito justa. As pessoas me conhecem. Em relação a política não acredito que isso me afete. Eu não seria tola de imaginar que por ter um mandato público um caso assim não chamaria mais atenção e repercutiria mais. Mas eu ando todos os dias pelo município porque não baixei a minha cabeça nenhum dia, internalizei a problemática, procurei meus direitos e acionei a Justiça como uma pessoa que não deve e não teme. Como acredito nas instituições espero que a Justiça dê a melhor resposta. Já conseguimos uma medida protetiva, o cidadão não pode se aproximar do meu trabalho, tem que ficar a 200 metros de distância, nós contra argumentamos com provas através do meu advogado. Quando você é uma mulher que está descasada tem a sua vida pessoal para viver.
ac24horas- No momento que isso aconteceu você estava separada do seu marido?
FH- Exatamente. Tanto que isso consta do processo e tem todas as provas, inclusive, ficou muito feio para a pessoa que fez isso. Eu fui muito agredida.
ac24horas – Fernanda o fato de você ser mulher o seu comportamental sexual, principalmente de uma pessoa pública, é visto com preconceito?
FH – Sem dúvida que a mulher na política sofre bem mais preconceitos do que o homem. Todos os dias a gente vê casos desse tipo com um homem que não têm a mesma repercussão que com uma mulher. Mas eu creio que na hora da decisão eleitoral acredito que não tenha efeito nenhum. Não aconteceria com um homem aquela exposição toda. Inclusive, houve no momento em que aconteceu o episódio, as mulheres em minha defesa, até mesmo de oposição. Políticos e jornalistas se uniram e ali as coisas foram separadas. Porque nenhuma mulher merece uma agressão dessa forma. 52% da população é de mulheres e os 48% que sobram são filhos de mulheres. O meu caráter e o meu trabalho não serão medidos por isso. Reagi por temência a Deus, amor à minha família e por ter orgulho do meu trabalho. As pessoas podem não gostar de mim por questões de projetos políticos diversos, mas não em relação ao meu caráter. Não há nada que desabone o meu trabalho.
ac24horas – Fernanda queria que você comentasse outras situações em que mulheres políticas foram agredidas. Primeiro o caso da deputada estadual e pré-candidata a prefeita de Rio Branco, Eliane Sinhasique (PMDB) que tem sido atacada por membros do seu partido, o PT, pelas redes sociais.
FH – A minha postura sempre foi muito reta. A candidatura da Eliane Sinhasique é legitima e tenho respeito por ela. Acredito que esses ataques sejam ações isoladas de alguns militantes, mas não é uma ação que represente a sigla do PT. O PT, inclusive, tem a obrigação de combater esse tipo de coisa. Você já deve ter visto em redes sociais outros militantes do PT partindo em defesa da deputada Eliane Sinhasique. Isso é uma ação isolada de pessoas e não do partido.
ac24horas – E esse caso da vereadora Zeina Melo do Jordão que teve suas fotos nuas roubadas e expostas pelo WhatsApp. Como você analisa essa situação?
FH- Quem tem uma vida pública está sujeito a certas situações. Tem que saber que qualquer passo em falso será notado. Se o você der algum vacilo isso vai repercutir porque você é um jornalista renomado no Estado todo. Mas uma pessoa comum não terá a mesma repercussão que uma pública. Portanto, a minha solidariedade vai lá para a vereadora do Jordão que teve a sua intimidade exposta. Eu não a julgo, jamais iria julgá-la. Eu defendo a liberdade das pessoas, os seus direitos, a garantia à liberdade que lutamos por anos e a gente não pode retroceder. Nós brasileiros, eu como parlamentar, você como jornalista que tem a mente aberta, temos que combater qualquer tipo de preconceito. Inclusive ouvi uma entrevista da vereadora falando da solidariedade da população do Jordão nesse episódio. Isso é um crime que a legislação penaliza. Eu, por exemplo, quando aconteceu o caso comigo não me calei mesmo sendo pré-candidata no município de Brasiléia. O trabalho sobrepõe essas coisas. A gente não pode permitir esse tipo de exposição, seja a mulher política do partido que for. Eu sempre vou sair em defesa de direitos.
ac24horas – Chegaram a pedir a sua cassação de vereadora por conta do episódio em que você foi envolvida?
FH – Na verdade uma pessoa muito ligada ao autor das agressões contra mim tentou entrar com uma ação. Mas foi rejeitada pelo colegiado da Câmara de Brasiléia.