Conselho editorial
O noivado de Michel Temer com a boa-fé do eleitor brasileiro caminha para um desfecho nostálgico. Depois de reunir na imaginação um time de notáveis para comporem o ministério dos sonhos, Temer aos poucos teve que destituí-los de suas prioridades e abrir espaço aos aliados de ocasião.
Ora é o próprio PMDB que precisa ser apascentado em suas múltiplas representações na Câmara e no Senado; ora é o PP que fala em abocanhar três ministérios para endossar a governabilidade; ora são os partidos menores querendo, cada um, a sua fatia do bolo estatal; ora é o PSDB que pretende compensações à altura do desgaste que será fazer parte de um time que os tucanos não queriam ver em campo.
Por conta da realidade política que se impõe, a tal Ponte para o Futuro vai se tornando estreita pra comportar a romaria de sequiosos por um quinhão.
Desse modo, a reforma ministerial anunciada por Temer, que inicialmente previa a redução dos 39 ministérios para 20, teve que ser ampliada para 26. E, pelo andar da carruagem, esse número ainda será insuficiente pra acomodar os prestadores de serviço do governo em ascensão.
A isso se acresça que o futuro presidente teve de sobrepor à biografia dos que tencionava convidar a conveniência de atender aos que se ofereciam. E foi assim que o PRB emplacou no Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação o pastor licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e presidente da sigla, Marcos Pereira.
Que não nos enganemos, pois, quanto à pressão das raposas felpudas que cobram agora a fatura do vice-presidente. E este, sabendo-se devedor, foi obrigado a ir aos microfones defender a nomeação de políticos profissionais cujos nomes figuram nas investigações da Lava Jato.
Temer, com a permissão do trocadilho, nos acena com um governo temerário. Pois a despeito de suas boas intenções – se é que as teve algum dia –, dá sinais de que sucumbirá ao jogo bruto das relações perniciosas que imperam na Capital Federal.
Isso nada mais é do que o reflexo de um sistema político carcomido desde as bases, a revelar-se na passagem de um governo cambaleante para outro, que também já cambaleia antes mesmo de começar.
Resta aos otimistas ao menos a esperança de que a troca de seis por meia dúzia seja capaz de induzir, por si só, o país a sair da cova.
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