Archibaldo Antunes
Indiferente aos embates retóricos que tomam conta dos palcos em Brasília, decorrentes do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, a crise econômica segue fazendo vítimas Brasil afora. Para medir seus efeitos, basta que se dê um pulo no supermercado, onde se pode aferir no próprio o bolso a extensão de suas consequências.
Enquanto a base aliada do governo, na tentativa de livrar a pele de sua representante maior, insiste na tese de que não houve crime de responsabilidade, o consumidor que foi às compras volta pra casa com cada vez menos produtos. Cortar aqui e ali é a sina dos que, ao contrário dos governos, têm de lidar com intransponíveis restrições no orçamento.
A retração na economia tem efeitos conhecidos. Com menos dinheiro em circulação, empresas fecham as portas, as filas do desemprego aumentam e, com a perda da fonte de renda, muitos deixam de comprar. Acresça-se a isso que os governos arrecadam menos, o que lhes deixa menor margem para investimentos. O resultado é uma sobreposição de problemas cuja tendência é se agravar. Ad infinitum.
Desde que a marolinha virou maremoto e a presidente Dilma Rousseff se viu ameaçada de impeachment que ela e seus acólitos não fazem outra coisa senão se segurar nos cargos. Os ajustes na economia cederam à pirraça dos companheiros, que nunca engoliram Joaquim Levy no Ministério da Fazenda. E a verdadeira razão por trás da antipatia, suspeito, era porque uma das metas de Levy – a de suprimir gastos públicos – implicava em corte de cargos de livre nomeação.
Com Dilma praticamente afastada da presidência, essa gente vai engrossar as filas do desemprego. E num momento em que o mercado de trabalho está longe de ser um mar de rosas.
A crise, como faz a fome aos animais sem dono, exibiu a espinha dorsal do martírio de estados e municípios, sujeitos todos eles à repartição injusta do bolo orçamentário. Do total arrecadado pela União, 70% compõe o orçamento federal, 20% são destinados aos estados e 10% aos municípios. No que diz respeito às despesas obrigatórias, esse percentual se inverte de forma desproporcional aos recursos assegurados.
A despeito disso, não há uma eleição, seja no mais miserável município brasileiro, para a qual não apareça uma penca de candidatos iludidos com o tamanho dos problemas que herdarão caso tenham a infelicidade de ser eleitos. E quanto maior for a fome dos postulantes por verbas públicas, piores serão os tormentos da população.
Outro grande problema das crises econômicas é que elas não são pedagógicas.