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MAL ACOSTUMADO

Por
Da redação ac24horas

Por Luiz Calixto


Aos 17 anos meu segundo emprego com carteira assinada foi numa loja de tintas.


Muitos fregueses questionavam como eu aguentava respirar o dia inteiro o cheiro que exalava dos solventes, da tinta à óleo e de outros derivados químicos.


Eu não sentia nenhuma diferença porque já havia me acostumado com os odores da loja.


O fedor dos resquícios de fezes, urina, suor e da pira de animais criados dentro de uma residência só são neutros nas narinas dos moradores por um motivo simples: o costume


Uso estes exemplos como passaporte para opinar sobre a perigosa ambientação que acontece no Acre: a banalização da violência.


Os índices crescentes do crime nos deixaram mal acostumados e passamos a admiti-los como normais.


Assaltos, arrombamentos, famílias em condição de reféns, sistema de segurança paralisado, etc. só assustam quando o bandido invade o nosso terreiro e sobe na nossa escada.


Junto com a ineficiência do sistema de segurança, a perda da capacidade de indignação da população é um vetor preocupante na disparada da violência.


De certa forma o maior beneficiário desse conformismo é o governo.


Acostumados com a situação, não cobramos, com deveríamos, ações efetivas de quem tem a obrigação de mostrar serviço.


Faz falta até um programa jornalístico nos moldes do “Mundo Cão”, outrora apresentado pelo saudoso locutor Estevão Bimbi, que pingava sangue no rádio e não deixava os corpos esfriarem.


Como poucos se revoltam, as armas escaladas pelo governo são as operações paliativas e cinematográficas cuja finalidade é somente encher lingüiça na imprensa aliada.


Na ausência de ações enérgicas a bandidagem leva o governo no pagode. Até delegacias foram alvos.


Viaturas pifadas ou sem gasolina, helicóptero no hangar por falta de pagamento da manutenção, delegacias caindo aos pedaços, policiais civis e militares no limite do estresse em razão da carga de trabalho são algumas das deficiências exploradas com muita competência pelo crime.


A comoção gerada pelo balanço cadavérico de hoje será rapidamente esquecida e substituída pelo balaio que ficou amarrado para morrer no dia seguinte.


Como nada tivesse acontecido a vida continua.



*Luiz Calixto é economista,
foi deputado estadual por
três mandatos e atualmente
é Auditor da Receita estadual.


 


 


 


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