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Os votos que podem derrubar Dilma vieram do povo brasileiro

Por
Nelson Liano Jr.

O principal argumento da bancada do PT sobre o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) é que ela venceu a eleição com o voto popular. Que retirá-la do poder seria um “golpe”. Mas, por outro lado, os deputados federais e senadores, que eventualmente votarem a favor do seu “impedimento” também tiveram votos diretos da população. Também são representantes da vontade popular. O Brasil é uma democracia baseada em três poderes, Executivo, Legislativo e Judiciário. Na Constituição está previsto que quem está no Executivo e cometer um crime poderá sofrer o impeachment. E esse impeachment, segundo a nossa Constituição, será ou não aprovado pelo Congresso Nacional formado por deputados federais e senadores eleitos pelo voto direto. Se houve ou não crime cometido pela presidente quem vai julgar é o Legislativo. Isso que prevê a Constituição. Golpe seria se alguma força externa ao processo democrático depusesse a presidente. Mas pelo que me consta deputados e senadores também fazem parte da democracia. Se o povo escolheu bem ou mal os seus representantes no Congresso já é outra coisa. Mas eles representam a totalidade da população brasileira que os colocou lá.


A mesma origem


Mais um detalhe, os atuais deputados federais e senadores foram eleitos nas mesmas eleições da presidente Dilma. Então quer dizer que o voto na presidente vale e o dos parlamentares não? Dilma está sofrendo um processo de impeachment dentro da máquina democrática brasileira.


Tem que aguentar?


Conversei essa semana com alguns deputados do PT na ALEAC. Eles admitem que o segundo governo da Dilma é realmente muito ruim. Pior ainda, uma gestão estagnada que não contenta ninguém. E a população brasileira tem que esperar mais três anos para isso acabar? O Brasil tem que ficar parado? Ações e medidas básicas não estão sendo tomadas e a população tem que aceitar? Houve claramente uma diferença enorme entre o que Dilma prometeu na campanha e aquilo que realizou. Mas mesmo assim todos têm que se calar?


Apego ao poder


Diante do agravamento da crise política provocada pela incompetência do atual Governo do PT, Dilma, se tivesse dignidade, deveria renunciar. E imediatamente serem convocadas novas eleições presidenciais. Mas o apego ao poder do PT não permite esse gesto. Querem manter as benesses conquistadas a qualquer preço.


Desastre maior


A maneira como foi conduzido o processo terá um resultado pior que o esperado para o PT. Serão depostos pelo Congresso Nacional, segundo os mais recentes prognósticos dos votos dos deputados federais e senadores. E mais uma vez: o Congresso Nacional é fruto de votação direta e não de nomeações.


Pouca lucides 


Alguns poucos parlamentares petistas que ainda mantém a lucides do que está acontecendo defendem a presidente nas tribunas legislativas, mas criticam nos bastidores. Um dos mais importantes petista do Acre me disse em off : “Não havia condições políticas para um segundo mandato da Dilma.”


Ele tinha razão


Esse mesmo petista lutou muito no ano de 2013 para convencer seus pares do PT que o ex-presidente Lula (PT) deveria ser sido o candidato. Mas perdeu a parada. Lula se colocou como uma espécie de “Rainha da Inglaterra” só trabalhava nos bastidores. O petista acreano tinha razão afinal.


Exemplos da história


Não ouvi falar em impeachment nos dois governos do Lula e nem no primeiro da Dilma. O país estava sob controle. As administrações também tinham opositores, mas não ao ponto de desejarem derrubar esses governos. Então o quê aconteceu agora?


O “atrapalho” Cunha


A grande questão desse processo de impeachment é o presidente Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB). Realmente o parlamentar não é exemplo de nada e deve ser cassado. Mas mesmo com tantas suspeitas e comprovações de uma conduta condenável, Cunha acabou sendo um instrumento das insatisfações da sociedade brasileira.


Nada justifica


Longe de querer defender o Cunha. Tenho certeza que o presidente da Câmara deve ser punido e perder o seu mandato. Assim como todos, sejam de que partido forem, que estejam envolvidos em corrupção.


Julgamento da história 


Se houvesse um julgamento entre Dilma e Cunha no quesito honestidade, creio que Dilma sairia melhor. Mas por outro lado, se o julgamento fosse por competência política, a presidente perderia para Cunha. Dilma está sendo derrubada pelo péssimo governo que está realizando.


Política de amadores


Num determinado momento, no atual Governo Dilma, colocaram o vice, Michel Temer (PMDB) como articulador político. Isolaram assim quem representava uma ameaça à estabilidade do Governo. Tacada correta e achei que o Governo evoluiria. Mas entregaram a articulação ao Temer e, por outro lado, não deram autonomia para ele agir. O PT minou as atribuições de Temer que, obviamente, renunciou ao cargo.


Cada um cria os seus “inimigos” 


O PT está caindo pelas mãos dos principais aliados que escolheu para marchar em 2014. A maioria dos deputados federais do PMDB, PSD e PP votarão a favor do impeachment. Dilma não conseguiu controlar nem mesmo os seus aliados políticos. Como iria conseguir comandar o Brasil com todas as suas contradições?


As razões da queda do PT


O PT ao ganhar a eleição de 2014 deveria ter aberto o diálogo com as forças de oposição. A diferença eleitoral foi de menos de 1% o que denotava um país literalmente dividido. A crise econômica mundial batia às portas do Brasil. Qualquer principiante em política faria uma leitura de um campo minado para a governabilidade. Sem falar nas frágeis alianças que o PT fez para vencer as eleições. Soma-se a isso uma enxurrada de denúncias de corrupção envolvendo o PT e seus partidos aliados com relações diretas com o processo eleitoral. Obviamente que o cenário estava criado para que tudo isso que está acontecendo. Mas mesmo assim o discurso arrogante de quem achava que teria o poder por toda a eternidade não arrefeceu. O PT se acha melhor, mais puro, mais imaculado. E nesse autoengano cometeu um erro primário ao dar às costas a um tesouro que tinha à sua disposição, a sua militância. Trocou os seus militantes da esquerda verdadeira por “aliados” oportunistas vindos de partidos de direita que só tinham interesse numa fatia do bolo do poder. Encheu esses oportunistas de cargos comissionados. Qualquer um sabia que a traição aconteceria na primeira curva mal feita. E foi isso o que aconteceu. Então, seja qual for o resultado da votação no plenário da Câmara Federal, neste domingo, 17, na minha opinião, esse atual governo já caiu. Só falta a confirmação institucional.


 


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Nelson Liano Jr.

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