“Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas qualquer
um pode recomeçar e fazer um novo fim”- Chico Xavier.
Narciso Mendes*
A exceção do regime presidencialista vigente nos EUA, de nenhum outro país que adota o referido regime se consegue extrair bons exemplos. Pelo contrário. Só maus exemplos. Para tanto, bastaria analisarmos as crises que tem acontecido, e de forma recorrente, no nosso continente latino-americano. Nestes, as crises, sobretudo de natureza política, tem sido a regra. Vide o que está acontecendo na Venezuela, Bolívia, Equador e o suposto alivio que a Argentina está vivendo após a era Kirchner e, particularmente, no Brasil. Cá entre nós, há mais de um ano, não se fala em outra coisa a não ser no impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Sem dúvidas, a aceitação e estabilidade do presidencialismo vigente nos EUA não se deram por acaso, e sim, pelo seu constante aprimoramento, a começar, pela qualidade dos seus partidos políticos. Lá, embora sua estrutura partidária comporte quase uma centena de partidos, apenas dois deles, o democrata e o republicano, vem se revezando do comando do país, e em suas casas legislativas, predominantemente, seus integrantes pertencem aos dois partidos acima referidos. Lá a manutenção das regras político-eleitorais, permitiu que se estabelecesse algo ainda mais importante: a consolidação de uma cultura política.
Volto a repetir: o sistema presidencialista de governo não deu certo em nenhum outro país do mundo, a não ser, nos EUA. Na Europa, o regime presidencialista foi varrido do seu mapa. No nosso continente, inclusive no nosso país, o referido regime tem se revelado um fomentador de crises. A provar que sim, nos nossos 126 anos de República, já vimos de tudo que uma crise política pode provocar: renúncia, suicídio e impeachment de presidentes, e em particular, duas terríveis ditaduras. Presentemente, estamos metidos na mais grave crise de nossa história. E o pior: sem solução à vista.
Como não aprendemos as lições deixadas pelas crises passadas, como tragédia, a história volta a se repetir. E o mais preocupante: somente o impeachment da presidente Dilma Rousseff nos está sendo oferecido. Se esse for o único e derradeiro remédio para evitarmos que o paciente Brasil possa sobreviver, vá lá que seja. Ocorre que, se o processo em curso resultar apenas no bota fora da presidente Dilma Rousseff e continuarmos com os mesmos vícios e costumes que levaram ao apodrecimento do nosso sistema de governo e dos nossos representantes políticos, aí sim, seu impeachment terá sido um golpe.
Em resumo: aprovado ou não o impeachment da presidente Dilma Rousseff, ato continuo terá que ser feita uma ampla e radical reforma política, quem sabe até, mudando o nosso regime de governo, do presidencialista para o parlamentarista.
Precisamos recomeçar para que possamos fazer um novo.