Professor Raimundo faleceu no último sábado, 19, em um hospital em Goiânia (GO), vítima de complicações no coração. Ele tinha 74 anos.
Raimundo “Cabeludo” é pai do jornalista Stalin Melo e de outros cinco filhos. Era figura bastante conhecida no meio universitário, principalmente por suas relevantes atividades no departamento de Geografia da Universidade Federal do Acre.
Em sua página no Facebook, o senador Jorge Viana (PT) lembrou do professor como “um militante de vida toda, um ativista e, eu queria aqui, fazer esse registro em respeito à sua memoria, dos seus familiares e amigos.”
Em seu Facebook, o jornalista Régis Paiva fez uma homenagem ao professor. Veja:
Hoje, a noite vai ser triste, assim como os demais dias que virão. Aquela risada rasgada se calou. O fuzileiro acreano que estava amotinado no sindicato dos metalúrgicos em 1964 – o que deu azo ao golpe militar, aquele cabeludo que movimentava festas no Acre dos anos 60 com discos debaixo do braço e que alguns até nominaram “Nico Fidenco”, o mesmo que enfrentou os censores e perseguidores da ditadura ao nominar o filho tal qual o ditador soviético primeiro, o professor da UFAC que quando dava aulas os outros pavilhões também escutavam, perdeu a guerra da vida.
A história viva de um passado distante não pode mais ser ouvida. Calou-se a voz de trovão. Silenciou o guerreiro.
Amigo de todos. Não importava se era um desembargador, professor doutor ou simples peão. A todos reconhecia. Mas era no campo que se identificava. Homem de mãos calejadas e sabedoria fina. Quem lhe apertava a mão por vezes não lhe entendia o cérebro, pois por trás da figura estava um grande conhecimento.
Tinha uma grande paixão: a Ufac. Ali, onde um dia fora sua propriedade – sim, uma das terras desapropriadas para a construção da universidade era dele – ele pode contribuir para a formação de muitos. Mesmo depois de aposentado, nunca deixou de contribuir com o movimento dos docentes.
Mas, foi traído pelo coração. O mesmo coração que tantas vezes o levou por caminhos amorosos, desta vez o laçou e derrubou.
Às vezes nos perguntamos se a vida é justa, pois perdemos pessoas que nos são caras. Mas vida é apenas a vida, um fio a partir-se em um instante. Não é uma questão de justiça, mas apenas nosso único destino. Espero que ele tenha sido recepcionado pela minha mãe e com ela esteja tomando um mate agora – sempre tomava chimarrão quando ia lá em casa – e que os Céus estejam mais alegres com a sua risada potente e rasgada.
A mim, restará sempre a lembrança de nossas andanças pelo Acre, as conversas no carro e as lágrimas vertidas ao escrever este texto de muito longe do Acre.
Adeus, Raimundo Lopes de Melo, meu amigo.