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As histórias de quem vê o rim como sinônimo de vida

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Ao menos 10% da população sofre com renais, e esse número pode chegar aos 20%, em alguns casos. Os principais sintomas da doença renal crônica são falta de apetite, cansaço, palidez cutânea, inchaços nas pernas, aumento da pressão arterial, alteração dos hábitos urinários como urinar mais à noite e urina com sangue ou espumosa.


João Renato Jácome

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 Dados da Sociedade Brasileira de Nefrologia apontam que a doença renal crônica atinge 10% da população mundial e afeta pessoas de todas as idades e raças. A estimativa é que a enfermidade afete um em cada cinco homens e uma em cada quatro mulheres com idade entre 65 e 74 anos, sendo que metade da população com 75 anos ou mais sofre algum grau da doença.


Ao menos oito perguntas devem ser feitas em meio à análise de risco da doença renal crônica: Você tem pressão alta? Você sofre de diabetes mellitus? Há pessoas com doença renal crônica na sua família? Você está acima do peso ideal? Você fuma? Você tem mais de 50 anos? Você tem problema no coração ou nos vasos das pernas (doença cardiovascular)? Se uma das respostas for sim, a orientação é procurar um médico.


Na semana do Dia Mundial do Rim, o ac24horas vai mostrar um pouco de quem sofre com esse tipo de problema e como é a rotina dessas pessoas. Além disso, fala dos investimentos alocados no setor de Nefrologia, que fica no Hospital das Clínicas, e conta, também, histórias de quem já passou por um transplante e, ainda, daqueles que esperam a hora de receber um rim, fator essência á manutenção da vida.


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Legenda: Paciente explica como descobriu a doença e conta sobre o tratamento que faz

Morador de Senador Guiomard (AC), município distante 23 quilômetros da capital, Braz da Silva Carvalho tem 51 anos. Ele faz hemodiálise três vezes por semana em Rio Branco, e para tanto, conta com o transporte cedido pela Prefeitura daquela cidade. Ele segue uma rotina semelhante há nove anos, tempo em que já sofreu três paradas cardíacas, precisou lidar com um acidente vascular cerebral por duas vezes, e acabou perdeu a visão de um dos olhos, o direito.


“Essa rotina aqui não é de hoje. Estou há nove anos esperando um doador compatível, e ainda não apareceu ninguém. Se eu não fizer a hemodiálise, eu morro, e isso é inegável. Eu tenho dezesseis filhos, acredita? Pode acreditar! Eu descobri esse problema quando comecei a ter dificuldades para urina. Era um urina muito escura, e bem no fim, tinha uma dor. Aí, eu desconfiei que algo estava certo. Eu tomei remédio por um ano, mas não resolveu”.


Braz é uma das vítimas da automedicação, e como que sofreu com erros médicos, o que ele classifica como “negligência”. Como eu “muitas pessoas não sabia, e é bom que as pessoas fiquem atentas, que descubram rápido esses problemas, que destroem uma vida. Eu acho que é também uma consequência das picadas de cobra que eu tive, quando era mais novo. Até eu fazer o tratamento, eu nem sabia o que era a hemodiálise. Eu nem sabia que tinha jeito”, diz o paciente do Hospital das Clínicas.


Braz conta que nenhuma familiares se ofereceu para doar o rim a ele, nem os filhos, nem irmãos. “Meus filhos acham que não podem doar porque também terão esse tipo de problema. Eu não posso julgar eles, então eu levo a vida como dá. Até hoje, nenhuma pessoa de dispôs a me doar o rim. Então, é a vida. É a vida, é assim mesmo…”, finaliza Braz.


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Legenda: Jovem perdeu a visão e já não escuta bem, consequência da diabete

Quem também é paciente no Hospital das Clínicas é a jovem Janaína Matias de Oliveira. Aos 25 anos, já não enxerga mais, consequência da diabete alta que ataca órgão essenciais do corpo. Ela também tem apresentado problemas na audição, por isso, tem dificuldades para caminhar, e precisa sempre do auxílio da mãe.


Natural de Cruzeiro do Sul (AC) vive de favor na casa de uma amiga da família. Para se ter uma ideia, a jovem já ficou 21 dias em coma, numa UTI. Janaína aguarda por um transplante há sete anos, mesmo tempo que faz o nefrológico no HC. Mesmo com todos esses problemas, a jovem não perde o brilho nem deixa passar a oportunidade de um sorriso. Ela dispara: “É assim que temos que viver a vida: com alegria, mesmo que haja problema!”.


“Depois que eu fiquei em coma, o problema se agravou. Depois que comecei a hemodiálise, minha vida não melhorou. É isso aqui que me mantém viva. A cada anos, vou ficando mais debilitada. Isso aqui é um processo muito, muito rigoroso. Minha expectativa é que apareça um rim compatível. As pessoas da minha família não tentaram doar, aliás, só uma tia minha, mas não foi compatível”, comenta a paciente do HC.


Ela deixa uma mensagem aos leitores, e diz que é preciso “beber sempre muita água, fazer um acompanhamento da saúde, periodicamente, evitar que problemas como a doença crônica renal apareça”. Ela diz, ainda, que “as pessoas não podem sair por aí tomando remédio sem saber do que se trata. É preciso ter cuidado e sempre procurar um médico”, finaliza.


SERVIÇOS


A médica nefrologista Jarine Nassarela, responsável pelo setor de Nefrologia do Hospital das Clínicas de Rio Branco explica que o número de pessoas com problemas renais crônicos pode chegar a 10% da população acreana, saltando para até 30%, em alguns casos, dependendo do perfil do paciente. Ela explica sobre os serviços ofertados no complexo nefrológico da capital e explicou que o espaço funciona diariamente, sem folga. Ao todo, cinco especialistas atendem na unidade.

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Médica garante atendimentos e diz que população precisa ficar atenta aos sintomas

 “Para que esses pacientes cheguem até nós, temos um ambulatório. Eles também podem vir dos postos de saúde. Às vezes, vem até do Pronto Socorro, porque nós temos uma emergência. Estamos preparados para isso. Quem tem problemas renais, e quiserem conhecer, pode, sim, vir até aqui, que daremos toda a atenção necessária. Geralmente, o diagnóstico da doença crônica é tardio, o que prejudica o quadro do paciente. A pessoas precisam fazer os exames regularmente.”, explica a médica.


Questionada sobre os motivos que levam os pacientes da nefrologia a ficarem bastante debilitadas, Jarine classifica a questão como um “tabú”, porque os pacientes pensam sempre que vão ficar naquele estado. “Há uma consequência de o rim não funcionar. Tem a anêmica, diminuição do cálcio, tem o fósforo… Quando um órgão não funcional, outros órgãos são atingidos. Até o coração é prejudicado. É por isso que os paciente ficam debilitados. Muitos já são idosos, e há um conjunto de fatores que leva o paciente a ficar assim, debilitado. O paciente vem aqui para melhorar, e não para piorar”, afirma a nefrologista.


 


Segundo a médica, o HC recebe hoje cerca de 230 pacientes entre hemodiálise e diálise. Há também o setor que trata dos transplantes. Para ela, uma das maiores deficiências do serviço é a questão estrutural e que a ideia é, em breve, ampliar a parte física do complexo nefrológico, possibilitando o aumento no numero de atendimentos que são feitos atualmente. “Se aparecer mais gente, mesmo com esse espaço, a agente dá um jeito e atende. Esse paciente nunca vai ficar sem atendimento”, finaliza ao dizer que esse é o único centro de referencia para o tratamento.


 TRANSPLANTES


O número de doações e de transplantes vem crescendo continuamente nos últimos anos no Brasil. Mas o esforço para aumentar a captação de mais órgãos é uma tarefa crucial para se chegar ao sucesso. São 38 mil brasileiros que ainda aguardam um órgão para transplante. E, mesmo no caso do rim, que pode ser doado em vida, o transplante com órgão de pessoa falecida é mais recomendado devido aos riscos inerentes a qualquer cirurgia.


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“Doar um rim, é um ato de amor. Tem gente por aí, esperando um rim, esperando a oportunidade de viver uma pouco mais. As pessoas precisam saber disso!”, diz.

Elza Sales não precisou esperar que alguém com um rim compatível a ela morresse. Conseguiu compatibilidade com o sobrinho, e há quase dois ano, comemora nova vida, ainda com restrições, mas com a chance de viver mais, sem ter de passar pelo tratamento da hemodiálise. Elza tem 59 anos, e é servidora pública. Ela fez o transplante em maio de 2014, um ano e meio após descobrir que a doença renal crônica havia chegado até ela.


 


“Minha família achava que eu ia morrer. Muita gente fica anos e anos na fila, e não encontrar ninguém compatível. Meu sobrinho, graças a Deus, se compadeceu de mim, e vendo que eu tinha uma vida ativa, resolveu me ajudar. Eu vivia presa a uma máquina de diálise. Ainda bem que o estado nos dá o acesso àquela máquina. Muitos não tem essa oportunidade. Ali temos um rim artificial que mantém as pessoas em vida”, diz a mulher.


Para a servidora pública, “muita gente é chamada de forma rápida, porque gente que morreu é compatível. Acho que nós temos que, ainda vivos, aceitar uma doação de órgão. O transplante, para quem recebe, não é uma cura. A gente fica com a imunidade baixa, tem que fazer uma dieta, isso é um presente. Isso aqui , o transplante, é um sinônimo de vida. Eu vi muita gente passando mal, fazendo a hemodiálise, mas nunca podemos perder a esperança”, sugere Elza.


Diferente de Elza, a também servidora pública Daisy Gomes Silva, de 55 anos, preferiu esperar um pouco mais, antes de receber um novo rim. Ela, que convive há 20 anos com a doença, chegou a ser informada que o rim dela só funcionaria por mais dois anos, e, ainda hoje, é com ela que a mulher sobrevive. Daisy já tem um doador, o genro, que é 100% compatível. Ela espera a falência total do órgão para receber o transplante do rim.


Segundo conta, ela foi também, assim como o Braz [que conhecemos lá no início da reportagem], uma vítima da automedicação. Daisy explica que rotineiramente sofria com infecções urinárias, o que, com o passar dos anos, tornou-se um problema ainda mais grave. Desde 1994 até aqui, 2016, foram 14 cirurgias, mesmo assim, diz, “nunca faltou a esperança. Eu deixei meus filhos aqui, ainda pequenos, e fui em busca de tratamento em São Paulo, onde no Hospital das Clínicas, fui bem atendida e ainda hoje, sou acompanhada”, conta a mulher.


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Daisy conta que se automedicava, o que agravou o estado de saúde dela

“Eu nunca tomava a medicação corretamente. A gente toma o medicamento, e acredita que ele, em cinco dias, resolve o problema. Acontece que às vezes não é assim, e a gente prejudica nosso tratamento. As infecções foram aumentando, e muita cólica ia se repetindo. Isso me levou a uma calculose. Quando essa doença aparece, ela já está muito avançada. Foi assim que tudo começou. A luta, desde então, é constante. É uma busca pela vida”, relata.


Daisy lembra que antes de tudo é necessário “força, coragem, determinação e fé”, ingredientes necessários durante o tratamento da doença crônica renal. “Depois de eu fazer a cirurgia, em 2005 o médico disse que o rim duraria mais dois anos, mas com um tratamento específico, lá de São Paulo, estou há vários anos aguentando. Meus filhos não podiam doar. No entanto, meu genro se ofereceu e os exames estão perfeitos. Mas só vou receber o transplante quando meus ruins pararem de funcionar”, explica a paciente do HC de São Paulo.


A mulher diz que o leitor precisa levar o rim muito a sério. “É preciso evitar as bebidas alcoólicas, tomr muita água. Sentiu dor? Procure um urologista, faz uma análise da creatinina. É preciso cuidar do rim, assim como cuidamos do coração, do fígado, e até da pele – quando passamos o protetor solar. Eu, recomendo que ninguém se automedique, nem use receitas caseiras, porque isso só vai complicar ainda mais a situação” do enfermo, orienta Daisy Gomes.


INVESTIMENTO


Além do atendimento ambulatorial e dos tratamentos de hemodiálise e diálise peritoneal, os pacientes recebem gratuitamente medicamentos para continuidade do tratamento. Dados da Secretaria de Estado de Saúde (Sesacre) apontam que 100 pacientes acreanos já receberam um transplante. Deste, 75 procedimentos ocorreram no Acre, já os outros 25, em São Paulo, para são os pacientes do estado são preferencialmente enviados.


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Gestor diz que investimentos do governo proporcionaram melhoria nos serviços

Segundo Gemil de Abreu Júnior, secretário de Saúde, o governo mantém um olhar prioritário aos pacientes diagnosticados com doenças crônicas renais, não por acaso tem feito diversos investimentos no setor de Nefrologia do Hospital das Clínicas, resultado de esforços determinados pelo governador Sebastião Viana. Ele lembrou que o número de pacientes atendidos atualmente se aproxima dos 250, o que exige, inclusive, pensar na ampliação dos espaços.


 


“Quando esse serviço começou a ser ofertado, não tínhamos tantos pacientes. Agora, é só observar, temos uma demanda considerável. Lá nos temos nefrologistas experientes acompanhando esses pacientes com doença renal crônica. Nosso trabalho tem sido dos melhores. Somos uma referência em atendimento, nesse serviço. Temos a ideia, inclusive, de mais a frente ampliar a estrutura atual, o que vai possibilitar que a gente atenda muito mais pessoas”, anuncia o gestor.


O secretário destacou que parceiras importantes ocorreram em 2015 no intuito de reduzir custos e melhorar serviços, facilitando o acesso dos pacientes do Vale do Juruá, por exemplo. “No ano passado, para se ter uma ideia, nos começamos a ofertar 25 novos leitos de hemodiálise, lá em Cruzeiro do Sul.  Isso é fruto de parceiras que temos mantido com a iniciativa privada. O Sistema Único de Saúde contratou os serviços para a população. Agora, muitos nem precisam vir para a capital”, explica.


Segundo o governo, num primeiro momento a clínica atenderia 92 pacientes em dois turnos, podendo saltar para 150 pacientes em três turnos. Cada paciente necessita de três sessões de hemodiálise por semana, com duração de quatro horas cada uma.


FATORES DE RISCO


Estão mais propensos a desenvolver DRC as pessoas hipertensas, com diabetes, idosos com mais de 60 anos, obesos (IMC > 30 hg/m²), tabagistas, quem tem histórico de doença do aparelho circulatório (coronariana, acidente vascular cerebral, doença vascular periférica, insuficiência cardíaca), histórico de DRC na família, infecções urinárias de repetição, litíase ou uropatias.


Os casos de DRC têm aumentado em todo o mundo, constituindo um grave problema de saúde pública. Conforme dados do Datasus 2012/2014, estima-se que das 450.629 pessoas com mais de 20 anos de idade em Sorocaba, cerca de 96 mil tenham fatores de risco para hipertensão, 31 mil para diabetes e 67 mil para obesidade. Já a incidência anual de novos pacientes com problemas renais é de 63 casos, com uma média de 59 óbitos por DRC.


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