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Transmissão do Carnaval é antijornalística

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Manoel Façanha

Cada fim de desfile, a Globo levava para o seu estúdio na Sapucaí as principais atrações da escola e passava a entrevistá-las. E deixava de transmitir o principal: a entrada da outra escola no Sambódromo.


O ingresso de uma escola na avenida é o acontecimento mais emblemático do Carnaval. É o momento de maior tensão e emoção dos foliões comuns, que ansiaram o ano inteiro em estar ali.


Não há alguém que tenha desfilado em uma escola de samba, que não diga ser um dos ápices daquele evento participar dos minutos antecedentes ou iniciais do desfile.


O grito de exaltação da escola antes da entrada na avenida é uma mensagem, saudação e agradecimento àqueles que deram seu esforço para levar a agremiação ao seu instante máximo. Choro e alegria se misturam em meio às lembranças das dificuldades vividas em mais um ano de trabalho – esqueçam os destaques globais.


Porém, esse estágio foi ignorado solenemente pela TV Globo nas transmissões, que centrou em seu lugar entrevistas de dentro de seu estúdio, com carnavalescos, porta-bandeiras, mestres-salas, mestres de bateria da escola que acabara de desfilar – eles têm seu valor, merecem ser lembrados, mas a diminuta cobertura da concentração tira a possibilidade de mostrar ao público um pouco mais de realismo do carnaval, em meio ao mundo da fantasia ali apresentado.


É a priorização do espetáculo e o fim da centelha jornalística que esse tipo de transmissão poderia ter. Quem não se lembra de nervosos e emocionados compositores, passistas, ritmistas, empurradores de carros alegóricos, antes de a escola tomar o rumo da avenida? Esse é o fato, o clima, a notícia maior.


Mas o máximo que fizeram foi uma transmissão atrasada de quando os puxadores da escola começavam a cantar o samba-enredo. E antes?


Tem o aquecimento, as palavras de ordem, a emoção da rainha da bateria (sim, aquele que nasceu no bairro da sede da escola), os foliões que compraram um dos ingressos mais baratos do Sambódromo, no setor da concentração – na verdade, eles são, em boa parte, membros de comunidades que não puderam pisar na avenida.


Não vale uma entrevista ali outra acolá na concentração para justificar a presença. Aquele momento poderia ter sido muito mais explorado.


Sem isso, o telespectador tem a impressão de estar assistindo novela. Mas o carnaval é real. Queiram ou não, transmiti-lo é fazer jornalismo – e não forjá-lo.


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Manoel Façanha

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