Oscar Sales Bueno Filho nasceu no dia 13 de julho de 1947 na cidade de Campinas. O filho mais velho de “Seo” Oscar, que “tocava” algumas pequenas obras da prefeitura da cidade, e da dona de casa Elvira passou toda a sua infância batendo bola na rua. Foi neste tempo que ganhou o apelido pelo qual passaria a ser conhecido no futebol. Certo dia, ele e um de seus irmãos, Walter, jogavam uma partida, quando um rapaz perguntou ao outro, qual deles era o Oscar, o “di lá” ou o “di cá”? Daí surgiu, Dicá. Há outra versão que ele seria sempre o escolhido para jogar no time “di cá” e não no “di lá”. Que possamos ficar com a versão que mais gostarmos.
O começo no futebol foi defendendo as cores azul e branca do clube do bairro onde morava, o Santa Odila Futebol Clube, que tinha o pai, Oscar, como técnico, fato que acabaria por lhe causar problemas. Sua habilidade em dar dribles e fazer jogadas de efeito logo chamou a atenção de muitos que costumavam se acotovelar para vê-lo atuar, ainda que ele tivesse apenas 14 anos. Apesar disso, alguns dos meninos, com quem atuava, e, sobretudo, seus pais passaram a reclamar com “Seo” Oscar, pai de Dicá, que ele driblava demais. Preocupado em não passar a impressão de estar, indevidamente, o protegendo, não foram raras as vezes que o pai resolveu colocá-lo no banco de reservas. Retraído, o menino Dicá sempre acatava, sem reclamar, ainda que todos soubessem que ele era o melhor do time. Este tipo de comportamento acabaria por marcar a sua carreira. Certo dia, quando ainda dividia o seu tempo de bola, com os estudos e o trabalho em uma tapeçaria, ao saber que um dos olheiros da Ponte Preta fora observá-lo, atuou bem abaixo de sua capacidade, o que acabaria por atrasar um caminho que já estava traçado, o de ser jogador de futebol.
Passaram pouco mais de dois anos e desta vez, além da Ponte Preta, seu maior rival, o Guarani também demonstrou interesse em contar com Dicá. A dúvida sobre o que seria melhor para ele foi resolvida por uma questão simples, o amor de seu pai à Ponte Preta. Desta forma, em 1965, com 17 anos, passou a fazer parte da equipe juvenil da Macaca. Sua estreia na equipe principal, comandada pelo técnico Sidney Cotrin, aconteceria em 27 de agosto de 1966, no empate em 2 gols frente ao Nacional, em partida realizada no estádio Nicolau Alayon, válida pelo campeonato paulista da primeira divisão, equivalente a atual A2 da competição e em muitos outros estados a segunda divisão. Seu primeiro gol como profissional aconteceu em 16 de outubro daquele ano, na goleada por 6 a 1 frente a Esportiva de Guaratinguetá, no estádio Moisés Lucarelli. Aliás, naquele dia, marcou duas vezes. Um pouco antes disso, no dia 27 de setembro, ainda como juvenil, foi campeão da Liga Campineira de Futebol, marcando 2 gols na goleada pontepretana de 6 a 1 frente a Mogiana.
Com a chegada do técnico Cilinho em 1967, Dicá passou de vez a equipe principal e chegou a ser vice-artilheiro na temporada, por conta de outra qualidade onde era quase insuperável, a sua precisão nas cobranças de falta. Seu chute era sempre certeiro, exigindo muita atenção dos arqueiros adversários. Ainda que já fosse considerado um dos melhores meio-campistas do estado, foi em 1969, que Dicá teve seu primeiro grande ano, com a conquista do título paulista da divisão intermediária, o que valeu a Ponte Preta uma vaga para a divisão especial, com uma equipe que fez história com jogadores de grande qualidade, como os meio-campistas Roberto Pinto, sobrinho de Jair da Rosa Pinto e Teodoro, que depois se destacaria no São Paulo e do lateral esquerdo Nelsinho Baptista.
O ano de 1970 seria ainda mais promissor. Inicialmente com o técnico Zé Duarte, com quem subirá de divisão, e posteriormente com Cilinho, que o substituiu após uma derrota para a Ferroviária por 5 a 0, sem a presença de Dicá, a Ponte Preta conquistou um incrível e surpreendente vice-campeonato, tendo o meio campista sido escolhido como a grande revelação da competição. Após quase ter sido negociado com o Corinthians, Dicá permaneceu na Ponte Preta, que ainda naquele ano se tornou a primeira equipe do interior do país a participar de uma competição de âmbito nacional, o Roberto Gomes Pedrosa, conhecido como Taça de Prata, que foi vencida pelo Fluminense.
Após a disputa do campeonato paulista de 1971, Dicá foi emprestado ao Santos de Pelé, comandado pelo técnico Mauro Ramos de Oliveira, o capitão campeão mundial em 1962. Sua estreia, ao lado do Rei, aconteceu durante excursão a América do Norte, em 24 de julho, no empate por 1 gol frente a equipe mexicana do Monterrey. Participou de boa parte das partidas santistas no campeonato brasileiro, em sua primeira edição, ainda assim, sem ter empolgado tanto, os dirigentes santistas acabaram achando alto o valor do passe estipulado, na época Cr$ 500 mil (quinhentos mil cruzeiros). Seu caminho de volta para Campinas estava aberto e era o que ele mais desejava.
De volta a Ponte Preta, onde continuou sendo o principal jogador da equipe, depois do campeonato paulista de 1972 Dicá foi novamente negociado, desta vez em definitivo, para a Portuguesa, clube que participaria do campeonato brasileiro e que vivia um grande momento, ainda mais pela inauguração oficial de seu estádio no Canindé, em 9 de janeiro daquele ano, em amistoso frente ao Benfica. Dicá chegou a equipe para ser titular e sua estreia aconteceu no dia 13 de setembro, na derrota por 1 a 0 para o Santa Cruz em partida realizada no Parque Antarctica. A derrota logo na estreia, ainda mais em São Paulo, caiu feito uma bomba no clube, cujo presidente, Dr. Oswaldo Teixeira Duarte, reunido com a diretoria, depois do jogo, decidiu dispensar vários de seus titulares em um episódio que entrou na história do clube como a Noite do Galo Bravo. Com uma equipe bem mais enfraquecida, a campanha da lusa foi pífia naquela competição e Dicá que fora contratado como a grande esperança da equipe, acabou sendo marcado por isso.
Em 1973, o surgimento de Eneias na equipe do Canindé trouxe ótimos ventos para a Portuguesa, que comandada pelo técnico Oto Gloria, chegou a conquista, dividida com o Santos, do título paulista daquele ano. Ainda que tivesse atuado em algumas partidas, Dicá foi preterido por Oto Glória que sempre deixou clara a sua preferência pelo combativo Basílio ao cerebral Dicá que passou a ser figura frequente do banco de reservas. Não foram poucas as vezes que era chamado para entrar em campo apenas nos minutos finais. Ao que parecia o menino que aceitava de forma passiva o pai colocá-lo no banco de reservas no pequeno Santa Odila, continuava a acatar as ordens do técnico sem reclamar. Mesmo depois da saída de Oto Glória do clube, Dicá jamais voltou a ser aquele jogador que fora na Ponte Preta, ainda que em 1975, tenha recuperado a condição de titular e tenha sido importante para a equipe que chegou ao vice-campeonato estadual, ao perder o título na decisão por pênaltis frente ao São Paulo (naquele dia, Dicá perdeu a sua cobrança).
Por conta disso, foi com uma alegria sem fim, que recebeu a notícia de seu pai, sobre o interesse da Ponte Preta em contratá-lo para a disputa do campeonato brasileiro de 1976, o seu primeiro defendendo a camisa da equipe campineira. Aos 29 anos, Dicá estava em casa novamente e com ela a alegria de voltar a jogar em alto nível. Em 1° de setembro de 1976, na primeira rodada da competição, lá estava ele como titular da Ponte Preta no empate por 1 a 1 frente ao Corinthians. A equipe de Campinas fez uma boa campanha e teve Dicá como um de seus grandes nomes. Mal sabia que 1977 seria ainda melhor.
Com uma equipe fantástica, talvez a melhor de sua história, e novamente com um velho conhecido como técnico, Zé Duarte, a Macaca que contava com os promissores e futuros atletas titulares da seleção brasileira em Copa do Mundo, Carlos e Oscar, fez uma campanha maravilhosa, chegando ao seu segundo vice-campeonato estadual e tendo como melhor jogador, o mesmo que se destacara em seu primeiro vice, em 1970, Dicá. Coube a ele, na segunda partida das finais frente ao Corinthians, em 9 de outubro de 1977, no estádio do Morumbi, marcar o primeiro gol, uma falta batida com perfeição, da épica vitória pontepretana por 2 a 1, que levou a decisão do título para uma terceira partida, que viria a ser vencida pelo Corinthians, por 1 a 0, com o gol de Basilio, aquele mesmo que ganhara a posição de Dicá na Portuguesa.
Não sairia mais da Ponte Preta onde sempre foi titular e principal atleta da equipe, enquanto atuou, que sob sua liderança voltaria a ser vice-campeonato paulista de 1979 e 1981, quando perdeu para o Corinthians e São Paulo, respectivamente e semifinalista do campeonato brasileiro de 1981, na melhor colocação da equipe campineira na competição. Sua despedida oficial aconteceu em 26 de janeiro de 1986, em partida amistosa realizada no estádio Moises Lucarelli frente à equipe suíça do Grasshoper. Naquele dia, a Ponte venceu a partida por 2 a 0, com um dos gols sendo marcado por Rivellino.
Dicá, talvez tenha sido o maior batedor de cobranças de falta no seu tempo, também um dos jogadores mais habilidosos e que por um capricho do futebol conseguia mostrar o melhor do seu futebol sempre que atuava no time de seu coração, a Ponte Preta, onde é considerado o maior jogador de sua história e o maior artilheiro, com 154 gols marcados em 581 jogos oficiais. Se a Seleção Brasileira não teve Dicá, azar da Seleção.