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O Maior Artilheiro Azulino, Alcino

Por
Manoel Façanha

Alcino Neves dos Santos nasceu em uma família pobre do subúrbio carioca em 24 de março de 1951. Desde muito pequeno seu grande sonho era jogar futebol e foi com muita alegria que recebeu a notícia que fora aprovado nos testes para jogar no Flamengo, que passou a lhe dar uma pequena ajuda financeira. Embora morasse longe, graças à ajuda de seu pai, conseguia pagar o transporte para treinar. A morte paterna caiu como uma bomba junto à família. Sem dinheiro para chegar a Gávea, Alcindo precisou abandonar o clube, quase na mesma época em que sua mão adoeceu. O desespero de precisar colocar dinheiro em casa e as más companhias acabaram por levá-lo a praticar um assalto a um motorista de taxi, com uma arma de brinquedo. Preso juntamente com o amigo, Damião, foi liberado enquanto o inquérito corria.


Logo o futebol o daria nova chance, agora na equipe do Madureira. Após disputar a Taça Guanabara, logo na sua estreia em campeonato carioca em 28 de junho de 1970, marcou gol no empate por 1 gol frente ao São Cristovão. Atacante alto, 1,91m, ótimo cabeceador, apesar de pouca habilidade técnica, sabia se posicionar como poucos na grande área e tinha um raro poder de finalização. Boas atuações e gols durante sua primeira temporada voltaram a atrair a atenção de outra grande equipe, desta vez, o Fluminense.  Os dirigentes da equipe do subúrbio acabaram dificultando as negociações com o tricolor e seu destino acabou sendo o Clube do Remo, do Pará.


Polêmico, em uma de suas primeiras partidas pela equipe azulina, em 4 de abril de 1971, justamente na vitória por 2 a 0 em um clássico frente ao Paysandu, no estádio da Curuzu, depois de driblar toda a defesa adversária, sentou sob a bola e fez o chamado “gol de bunda”. Acabou expulso pelo árbitro, que achou o ato desrespeitoso com o adversário, mas ganhou de vez a moral da torcida remista. Pelo campeonato paraense daquele ano, teve atuações históricas, ainda que não viesse a conquistar o titulo estadual. Na final da competição frente ao rival Paysandu, em 13 de outubro, colocou o Remo em vantagem, com 2 gols. A 10 minutos do final da partida a equipe remista sofreu o empate, provocando uma prorrogação que acabou com vitória do Papão por 1 a 0. Ainda naquele ano, se recusou a viajar para Aracaju na primeira partida válida pelas semifinais do campeão brasileira da segunda divisão frente o Itabaiana em 5 de dezembro. No jogo de volta, foi colocado no banco de reservas pelo técnico François Thym. Após 0 a 0 no primeiro tempo, acabou entrando após o intervalo, e embora não tenha feito gol, incendiou o jogo, sendo essencial na vitória por 2 a 0, gols de Robilota. A torcida invadiu o gramado e levantou o atacante gigante como herói, o levando às lágrimas. Aquela equipe do Remo seria vice-campeã da competição ao perder as finais para a equipe mineira do Villa Nova de Nova Lima.


Irreverente e admirador da noite, Dadinho passou a aprontar fora de campo. No Mosqueiro, onde o Remo costumava concentrar para grandes partidas, tinha como hábito desfilar nu em cima do seu opala envenenado. Em dezembro de 1973, titularíssimo da equipe azulina, os jornais do Pará estamparam em suas manchetes que o inquérito do assalto cometido no passado houvera sido concluído com a sua condenação a cinco anos e quatro meses. Os dirigentes remistas chegaram a escondê-lo para evitar sua prisão, enquanto os advogados do clube conseguiram livra-lo da condenação por conta dele estar plenamente recuperado e feito um crime quando ainda era menor de idade.


Dadinho se transformou no maior nome do futebol paraense nos anos de 1973, 1974 e 1975, sendo tricampeão estadual e artilheiro das três edições com 7, 12 e 21 gols respectivamente. No entanto, foram suas atuações no campeonato brasileiro que o fizerem ganhar notoriedade em todo o país. Na edição de 1974, em 10 de março, no empate por 2 gols frente ao Botafogo do Rio de Janeiro, ao ver a bola parar em uma poça d´água a poucos centímetros da linha do gol, não se furtou a se jogar de cabeça para marcar o gol e empatar a partida. Já no ano seguinte, em 25 de outubro, foi dele, de cabeça, o primeiro gol da vitória remista frente ao Flamengo de Zico, por 2 a 1, no primeiro triunfo de uma equipe paraense no estádio do Maracanã. Seus feitos o fizeram ser contratado pelo Grêmio em 1976.


Com a camisa do Imortal Tricolor, conseguiu ser o artilheiro máximo do campeonato gaúcho, com 19 gols marcados, embora tivesse perdido o título do estadual para o Internacional. O frio intenso para quem estava acostumado a jogar nas altas temperaturas do Pará e a dificuldade em manter o peso, acabaram fazendo com que, logo após o campeonato brasileiro daquele ano, fosse negociado com a Portuguesa de São Paulo. Aos 26 anos de idade e pesando 97 quilos, sua estreia na Lusa foi promissora, em 27 de março de 1977, numa goleada por 3 a 0, com direito a um gol, frente ao São Paulo em partida realizada no Pacaembu e válida pelo campeonato paulista. Para a imprensa da época, enfim a Portuguesa teria um parceiro ideal para seu craque Eneias. A dificuldade em manter um bom preparo físico, no entanto, continuou sendo seu principal inimigo. Para piorar, em 21 de outubro de 1978, após marcar o gol da vitória da Portuguesa frente o Paulista de Jundiaí, por 1 a 0, correu para comemorar sambando junto a torcida. A euforia demonstrada pelo atacante chamou a atenção do médico da Federação Paulista de Futebol, Hélio Grillo, que resolveu chama-lo para fazer o exame antidoping ao final da partida. O resultado do exame foi positivo para o uso de um inibidor de apetite, receitado, segundo o atleta, pelo próprio médico da Portuguesa.  Por conta disso, o clube correu riscos de perder os pontos ganhos na partida e preventivamente Alcino foi suspenso por 60 dias. Afastado do clube e sem treinar, acabou esquecido, sendo emprestado para a equipe do Atlético Goianiense que participaria do campeonato brasileiro de 1980.


Embora continuasse marcando seus gols, não conseguia se manter na equipe por muito tempo. No segundo semestre daquele ano foi contratado pela Internacional de Limeira. Fez algumas boas partidas pela equipe do interior que chegou as semifinais do campeonato paulista de 1980. Ainda assim, no ano seguinte foi emprestado ao Bangu para disputar o campeonato brasileiro. Ao final da competição, de volta a Limeira, acabou sendo negociado com o grande rival do “seu” Clube do Remo, o Paysandu. Em 1981, aos 30 anos de idade, sua contratação agitou ainda mais a rivalidade entre os dois clubes, no entanto, em campo, estava claro que o fim da carreira estava próximo. Foram apenas 5 partidas pelo Papão, sendo 4 delas amistosas. Com apenas 1 gol marcado e mais um caso de indisciplina, foi afastado antes do término do campeonato paraense. Sua fama de artilheiro, no entanto, o fez ser contratado em 1982 pela equipe amazonense do Rio Negro. Vice-artilheiro da equipe com 8 gols e campeão do estadual, ainda chegou a disputar seu ultimo campeonato brasileiro em 1983. Logo estaria de volta ao futebol paraense, defendendo a pequena equipe do Pinheirense, onde encerraria a sua carreira.


Alcino foi um retrato do jogador de origem simples, que em um momento de fraqueza se envolveu com o submundo do crime, ganhou do futebol a chance de se reerguer, mas que não teve equilíbrio para crescer com ele. Ainda assim, considerado o maior jogador da história do Clube do Remo, é admirado como ídolo por milhares de torcedores.


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Manoel Façanha

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