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Papelim: o cigano dos gramados

Por
Manoel Façanha

Quando, aos 14 anos, em 1981, ele chegou ao estádio Marinho Monte para fazer um teste no time infantil do Independência, ninguém quis saber o seu nome. Era tão magrinho que alguém o achou parecido com um tipo de papel usado para enrolar cigarros artesanais. E assim, o menino batizado Flaviano Caruta Quintela passou ser conhecido no mundo do futebol como Papelim. O apelido pegou mesmo para sempre.


Vas co da Gama – 1987. Em pé, da esquerda para a direita: Ademir Sena (vice-presidente), Juarez, Da Gata, Éricson, Neném, Boroco, Morais, Vianinha (t) e Paulo Maia (p). Agachados: Rônei, Valdé, Roberto, Geovani, Zé Gilberto e Papelim. Arquivo pessoal de Paulo Maia.

O fino da bola que ele jogava logo chamou a atenção dos demais clubes acreanos. E, assim, no ano seguinte ele já estava integrado à equipe juvenil do Vasco da Gama, levado pelo professor Rivaldo Melo. Nessa condição de jogador exclusivo da base ele ficou só um ano. Em 1983, ele subiu para o time principal, alternando partidas nas duas categorias. “Eu queria era jogar, não importando onde”, disse ele.


Ficou no Vasco até o primeiro semestre de 1986, sendo, inclusive, convocado para a seleção acreana de juniores que disputou o campeonato brasileiro do referido ano e sagrando-se campeão da região Norte. “As finais dessa competição foram jogadas em Serra Negra, interior de São Paulo. Perdemos do Paraná por 1 a 0, do Rio de Janeiro por 2 a 1 e empatamos com o Mato Grosso em 3 a 3”, afirmou Papelim.


No segundo semestre de 1986 foi para o Rio Branco, sendo na nova casa  também escalado para jogar nos juniores e no time principal. Mas não ficou muito tempo no Estrelão. A essa altura tudo o que ele desejava era se firmar entre os titulares. Como a concorrência no Rio Branco era difícil, ele resolveu voltar ao Vasco. Inquieto, foi mais uma vez para o Estrelão em 1988 e retornou ao Vasco em 1989.


Objeto de leilão entre Remo e Paysandu


Clube do Remo – 1994. Papelim é o segundo agachado. Acervo pessoal de Papelim

Entre 1990 e 1991, Papelim trocou de camisa três vezes. Primeiro ele pulou do Vasco para o Atlético Acreano. Depois migrou para o Independência, sua casa de origem, para disputar o campeonato brasileiro da série B. As suas exibições magistrais no meio campo da equipe acreana foram suficientes para chamar a atenção dos paraenses Remo e Paysandu. Ambos fizeram propostas. Ele preferiu o Remo.


Pa pelim (Remo) e Ageu (Tuna), em 1992. Foto: acervo pessoal de Papelim

No dizer de Papelim, os dirigentes do Paysandu mandaram chamá-lo no Inácio Hotel, onde a delegação estava hospedada quando eles jogaram no Acre. “Perguntaram se eu topava ir para Belém e me ofereceram uma boa grana. Eu topei e eles disseram que a minha passagem chegaria dois dias depois. Essa passagem nunca chegou. Quem chegou foi o Remo, me oferecendo um salário bem maior. Aí eu fui”.


No Remo, Papelim virou uma das referências da equipe. Mas os primeiros tempos foram difíceis. Dois dias depois de chegar, ele acordou tarde para um treino, tomou uma bronca do técnico Paulinho de Almeida, ficou chateado, largou tudo e se mandou para o Acre. Os dirigentes, porém, o convenceram a voltar para Belém uma semana depois. Aí ele se firmou e virou até o cobrador oficial de pênaltis do time.


Papelim se deu tão bem no Remo que já no ano de estreia foi campeão paraense e indicado como o melhor meio de campo da competição. Para completar a lua de mel com a torcida remista, ele fez o gol do título, no empate em 2 a 2 contra o Isabelense. “A gente estava perdendo por dois a um até aos 43 minutos do segundo tempo. Se o placar ficasse assim o título era deles. Aí eu fiz o gol”, explicou ele.


Entre idas e vindas, uma aventura na China


Depois de passar mais um ano no Remo, Papelim foi emprestado para o XV de Piracicaba, do interior de São Paulo. Mas não chegou a jogar no time paulista. Um problema familiar o fez voltar para Belém. Na capital paraense ele foi emprestado ao Bragantino. Mas no novo clube, achou tudo muito desorganizado. E aí, então, foi parar no São José, do Amapá. Uma mudança que culminou com novo título estadual.


Pa pelim com a camisa do Paysandu, em 1994. Foto: acervo pessoal de Papelim

Independência FC – 1998. Em pé, da esquerda para a direita: Jorge Cubu, Milson, Dedé, Klowsbey e Redson. Agachados: Claudinho, Papelim, Artemar, Getúlio, Marquinho Paquito e Dênis. Foto: Manoel Façanha

Seu passe continuava preso ao Remo, clube pelo qual jogou no primeiro semestre de 1994. No segundo semestre deste ano, entretanto, por incrível que pareça, reforçou o rival Paysandu, na disputa do campeonato brasileiro da primeira divisão. Mas jogou somente uma vez. O treinador Tata, que havia sido demitido anteriormente do Remo, não queria dar chances a nenhum jogador do referido clube.


Rio Bra nco – 2000. Em pé, da esquerda para a direita: Sampaio, Marcelo, Romilton, Odinei, Marcão e Bertoldo. Agachados: Mundoca, Ricardinho, Jota Maria, Papelim e Leonardo. Foto: acervo pessoal de Francisco Dandão

Depois disso, Papelim voltou para o Acre, vestindo as camisas do Juventus (1995), Atlético Acreano (1996 e 1999), Rio Branco (1997 e 2000) e Independência 1998). No meio disso tudo, em 1997, chegou a fazer testes num time da terceira divisão de Portugal e num outro do futebol chinês. “A China foi a maior roubada. A comida deles era horrível. Perdi 5 quilos em 11 dias”, garantiu Papelim gargalhando.


Em 2001, mesmo ainda contratado como jogador do Rio Branco, Papelim se iniciou na carreira de treinador de futebol. Primeiro, orientando as categorias de base. Depois, em 2002 e 2003, dirigindo o time profissional. De lá para cá, ele dirigiu outros três times: Adesg (2004), São Francisco (2005) e Amax (2015). Atualmente ele  trabalha como funcionário público, mas seu desejo é continuar no mundo do futebol.


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Manoel Façanha

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