Os antigos romanos deram ao primeiro mês do ano o nome de janeiro em homenagem ao deus Jano, cuja figura é representada por duas faces dispostas em direções opostas. Jano era o deus dos portões, tanto os de saída quanto os de entrada.
Simbolicamente falando, uma das faces de Jano se volta para o passado e a outra se volta para o futuro. Tudo o que foi deixado para trás deve ser transformado em sabedoria para o que está por vir. Nada do que foi será do jeito que já foi um dia.
Sento à frente do computador para cometer a crônica da vez, depois de um dia de contemplação de um oceano de ondas pouco plácidas, numa praia chamada justamente de “futuro”. Fortaleza é porto privilegiado para curtir a linha do horizonte!
Provavelmente, a conjunção de todos esses fatores, passado, presente e futuro, primeiros dias de um novo ano, faces do deus Jano, é que faz rondar no espaço do meu cérebro uma série de indagações relativas ao que foi e ao que poderá vir a ser.
E assim, me afloram, entre outras divagações, questões como a dos motivos pelos quais os homens se viciam tanto no círculo do poder. Consequentemente, por quais motivos se viciam tanto em acumular dinheiro sem qualquer tipo de controle.
Pouco importa que a alma já esteja integralmente nas mãos do diabo. O que vale é não arredar pé do lugar “conquistado” a partir de toda sorte de falcatruas, ainda que o cheiro fétido das tripas seja exposto todos os dias nas luzes difusas das mídias.
Esse ano que acabou na quinta-feira foi pródigo na revelação das atitudes dos bandidos encastelados nos seus feudos de rapinagem. Raros foram os dias de 2015 em que a gente não ficou sabendo de algum tipo de roubo, corrupção ou pilantragem.
Me ocorrem, especificamente, duas situações nesse sentido: a dos diversos protagonistas da cena política brasileira, sucessivamente encarcerados por conta da ambição desmedida; e a da cartolagem infecta do futebol internacional. Tais e quais!
O mundo é um moinho e o planeta é uma bola. Tudo, como num jogo de paradoxos, vai embora para sempre, mas também volta para o mesmo lugar. Um canalha recebe adorno das algemas, delata parceiros, mas logo outros dois o sucedem.
Dentro de mais algum tempo os brasileiros elegerão novos dirigentes que, naturalmente, nas suas campanhas em busca dos votos dos eleitores, execrarão a prática dos inimigos e dirão que com eles tudo será diferente… Difícil de acreditar!
Os delegados do futebol mundial também elegerão outros dirigentes para a Fifa. Estes, igualmente à corja de corruptos brasileiros, também não se sentirão constrangidos de mentir com a mão direita (ou esquerda, tanto faz) sobre a Bíblia!
Se existem respostas para as minhas indagações? Talvez elas estejam no sopro do vento, como sugere a canção de Bob Dylan, que me alcança de um lugar distante: “The answer, my friend, is blowin’ in the wind. The answer is blowin’ in the wind”.
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