O primeiro (talvez único) time de futebol masculino brasileiro (provavelmente mundial) a contratar uma mulher como massagista foi o Atlético Acreano. O fato aconteceu em 1974 e a profissional se chamava Maria de Nazaré Santos Macedo, uma amazonense de Boca do Acre que migrou para Rio Branco aos 12 anos, em 1951. O fato curioso virou até reportagem da revista Placar, de circulação nacional.
Pode-se dizer que o estopim dessa história foi aceso dois anos antes, em 1972, quando Nazaré Santos precisou viajar para o Rio de Janeiro para se submeter a um tratamento de saúde. Nas horas vagas, na capital fluminense, ela aproveitou para fazer um curso de massagem, o que a habilitou em quatro especialidades: massagem esportiva, massagem terapêutica, massagem estética e massagem estética facial.
“Antes de ir para o Rio de Janeiro eu já trabalhava no Acre como auxiliar de enfermagem. Então, eu já era profissional da área médica. Quando eu voltei, com as novas habilidades, e levando em conta que eu era torcedora do Atlético, uma vez que eu morava no 2º Distrito, tudo isso contribuiu para ser convidada pela Dona Flora Diógenes para assumir o departamento de massagem do Galo”, explicou Nazaré.
“Apesar de ser uma coisa inédita em termos de futebol masculino no Brasil, topei o desafio e fiquei vários anos nessa condição. Todos me tratavam muito bem e os jogadores me respeitavam até demais. Eles evitavam até dizer palavrões na minha frente. Além do mais, o dinheiro que o Atlético me pagava era muito bom, mais do que o dobro do que eu ganhava como funcionária pública”, garantiu Nazaré Santos.
Os técnicos, os dirigentes e as festas
Nazaré Santos gosta de falar do seu passado enquanto massagista de time de futebol. Basta que exista um interlocutor interessado no assunto. A memória privilegiada dela vai contando uma história atrás da outra. Fatos, personagens, curiosidades, tudo enfim que diz respeito ao glorioso Galo do 2º Distrito de Rio Branco vai fluindo das palavras dela a medida em que aconteça uma provocação.
Sobre os técnicos com quem ela trabalhou, por exemplo, ela cita dois cuja convivência a marcaram positivamente: Rivaldo Patriota e Ariosto Miguéis. “O Rivaldo era um treinador que gostava de cuidar dos mínimos detalhes. Já o Ariosto, foi um dos técnicos que mais entendia de tática e estratégia de jogo. Mas o que eu mais gostava é que eles sabiam envolver todo mundo no trabalho”, disse Nazaré.
No que diz respeito aos dirigentes, Nazaré contou que a família Diógenes, principalmente o casal Fernando e Flora, tinham uma dedicação comovente à causa do Atlético Acreano. No dizer da ex-massagista, “a Dona Flor era uma espécie de psicóloga dos jogadores. Ela cuidava deles, dava conselhos, ouvia as suas queixas, recebia todos na sua casa, organizava comemorações. Uma verdadeira mãe mesmo”.
A saudade, porém, parece bater forte no coração da ex-massagista quando se fala sobre a sede social do Atlético, relegada ao abandono nos dias que correm. “A nata da sociedade acreana se reunia nos bailes promovidos pelo Galo. Ali aconteceram festas de mobilizar toda a cidade. Mas também existiam comemorações na Chácara Capitão Ciríaco, quando o Atlético vencia um jogo”, contou Nazaré.
Jogadores, árbitros, historinha e aposentadoria
Entre os jogadores com quem conviveu no seu período como massagista do Atlético Acreano (entre 1974 e 1979), Nazaré Santos destaca seis: o volante Tadeu, que para ela era o mais “estiloso” de todos; os zagueiro Lécio, Mário Mota e Paulão, sendo o primeiro pelo seu estilo vigoroso e os dois últimos pela técnica refinada; o atacante Vanginho, pela velocidade; e o lateral Belo, pela sua eficiência em defender.
Dos árbitros, o nome que ela cita primeiro é o de Antônio Soares. “Nós somos amigos até hoje. Quando a gente se encontra em algum lugar, ele ainda me convida para visitá-lo na sua fazenda. Eu acabo não indo, mas só o fato de me convidar demonstra o carinho que ele tem por mim. Além do Soares me lembro que me eu me dava bem igualmente com o Aldeci Paz D’Ávila”, afirmou a ex-massagista Nazaré.
Ao ser perguntada por um fato marcante na sua carreira, Nazaré lembrou uma vez em que um time de artista da Rede Globo de Televisão veio ao Acre. De acordo com ela, os artistas pediram para ser massageados por ela, a única mulher a exercer essa profissão no Brasil. “O interessante”, disse Nazaré, “é que quando eu entrei em campo com eles, as mulheres na arquibancada pediam para trocar de lugar comigo”.
Hoje, aos 76 anos, aposentada, Nazaré mora com a filha Camila e duas netas. Mas a aposentadoria não a deixa inativa. Ela trabalha três dias por semana, numa casa para idosos, no bairro Cidade Nova. E ainda gosta de dedilhar um violão. Até ensaiou uma música para o repórter. “Pássaro de fogo”, da Paula Fernandes, cujos versos finais são uma promessa: “serei os seus pés nas asas do sonho rumo ao teu coração”.
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