O hoje conhecidíssimo jornalista Raimundo Alves Fernandes, que nasceu em 24 de fevereiro de 1955 num seringal amazonense chamado Maracaju, desde a infância era fascinado pelas vozes que ouvia no rádio. Tão fascinado que vivia dizendo para os irmãos que um dia o que eles ouviriam era a voz dele, mandando recados e dizendo as notícias da cidade. Os irmãos riam e o chamavam de maluco.
Do seringal Maracaju, Raimundo Fernandes se mudou com a família para o seringal Novo Andirá, já em território acreano. Desse local para Rio Branco foi só uma questão de tempo. Assim, aos 9 anos ele já estava na denominada “capital da borracha”. E como não podia ficar “de cara pra cima”, só vendo o tempo passar, tratou logo de arranjar uma profissão, aprendendo os segredos da arte da carpintaria.
O rádio que ele tanto amava acabou entrando na sua vida por conta de uma sequência de acasos. É que um dia, na falta de um árbitro para dirigir uma partida de infantis entre os times Rodoviária e Ponte Preta, no campo do Vasco, ele acabou assumindo o apito. E mandou tão bem que foi convidado para apitar num campeonato chamado Intercolonial, competição que era disputada sempre em rodadas duplas.
Acontece que, num determinado dia, foram escalados para apitar as partidas ele e o também repórter Antônio Carlos Batista. Este deveria apitar o jogo preliminar. Como não estava fazendo nada, Fernandes ficou brincando de narrar o jogo num gravador. Batista viu aquilo, pegou a fita e mostrou-a ao radialista Campos Pereira. Fernandes foi convidado para um teste na Rádio Novo Andirá. Foi aprovado na hora!
Estreia no rádio aos 23 anos
A estreia de Raimundo Fernandes como profissional do rádio aconteceu em 1978. Ele estava com 23 anos e começou na retaguarda da equipe esportiva. “A minha primeira missão foi transcrever resultados de jogos de um enorme gravador. Eu transcrevia e o Campos Pereira lia no programa de esportes, que era levado ao ar ao meio-dia. Só fui escalado para narrar um jogo meses depois”, disse Fernandes.
O primeiro jogo narrado por Raimundo Alves Fernandes foi um amistoso entre Alvorada e Juventus. Uma goleada do Juventus em que ele garantiu ter ficado rouco de tanto gritar gol. Apesar de dar conta do recado, ele optou por ocupar outras funções na equipe de esportes da Rádio Novo Andirá. E assim, ele acabou seguindo adiante atuando, sucessivamente, como plantonista, repórter de pista e comentarista.
“Nos meus dois primeiros anos de atuação no rádio esportivo, eu não ganhava nada para trabalhar. O Campos Pereira só me dava umas gorjetas. Mas eu fazia o que eu gostava e fui ficando. Salário mesmo, via contrato, eu só passei a ganhar em 1980, quando o Campos foi para a Rádio Difusora Acreana. Aí o José Conde me pediu para ficar e nós conseguimos formar uma senhora equipe de esportes”, contou Fernandes.
Foi por essa época, primeira metade da década de 1980, que Raimundo Fernandes se integrou ao projeto de um campeonato chamado Interseringais, disputado por 12 equipes formadas por moradores da floresta acreana. Ele ajudava a organizar, atuava como árbitro em alguns jogos, atuava como zagueiro de um dos times e ainda fazia reportagens. “Eu fazia de tudo um pouco”, garantiu Fernandes.
A ida para o jornalismo impresso
Em 1986, Raimundo Fernandes mudou-se para a equipe de esportes da Rádio Difusora Acreana, onde permanece até hoje. Paralelamente, porém, ele começou a atuar no jornalismo impresso, passando por inúmeros periódicos. Casos do Diário do Acre (convidado pelo também jornalista Roberto Vaz), A Gazeta, A Semana, Correio do Acre, O Rio Branco, Página 20, A Tribuna, Pontapé, Olé e, finalmente, Opinião.
No estágio atual Fernandes exerce múltiplas funções no Opinião fazendo a edição de um semanário para o município amazonense de Boca do Acre; produzindo matérias sobre memória, com personagens de vários ramos de atividades; e coordenando um caderno especial com reportagens sobre cidades do interior do Acre. Além disso ele ainda escreve matérias especiais para o semanário Jornal da Baixada.
Indagado sobre o que ele considera ter sido a sua maior lição enquanto repórter esportivo, ele não hesitou em responder que foi a de nunca julgar pelas aparências. De acordo com ele, um dia chegou um sujeito tão feio para jogar no Independência que ele não resistiu à tentação de fazer umas piadas com o fato. “No primeiro jogo dele, o feioso fez dois gols e comemorou olhando pra mim”, afirmou Fernandes.
Para finalizar, Fernandes fez questão de deixar a sua impressão sobre o atual futebol acreano. “Antigamente tínhamos muitos craques. Agora, infelizmente, quase não vemos mais jogadores de fino trato com a bola. Tudo mudou muito. Eu acho que a causa maior desse declínio foi o sumiço dos campos de pelada. De 116 campos na década de 1970 sobraram só uma meia dúzia hoje”, explicou o veterano jornalista.
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