Alguém aí na frente deste texto já ouviu falar numa mulher exercendo o ofício de massagista de um time de futebol masculino? Alguém aí, igualmente, sabe se existe em algum time do futebol brasileiro na contemporaneidade uma profissional dessa área? Provavelmente a resposta da maioria seja “não” para ambas as perguntas.
Pois saibam, caríssimos leitores, que no futebol acreano isso já aconteceu. A massagista se chamava Nazaré Santos e exerceu a sua profissão no Atlético entre os anos de 1974 e 1979. Uma situação tão incomum, insólita mesmo, que ela (Nazaré Santos) virou até tema de uma reportagem na revista Placar, de circulação nacional.
Amazonense de Boca do Acre, Nazaré Santos mudou para Rio Branco na adolescência, em 1951. No início da década de 1970, já trabalhando como auxiliar de enfermagem, ela precisou ir ao Rio de Janeiro se submeter a um tratamento de saúde. Como o tratamento a deixava com muitas horas vagas, ela resolveu ocupar o tempo frequentando um curso de massagista. Daí para o resto da história foi só um passo.
Ao retornar com as novas habilidades à capital acreana, vários fatores contribuíram para que ela virasse a massagista do Galo. Primeiro que ela já era torcedora fanática do time. Segundo que ela morava pertinho da sede do clube. Daí, a Dona Flora, esposa do dirigente Fernando Diógenes, perguntou-lhe se ela topava assumir a “parada” e ofereceu-lhe um excelente salário. Nazaré topou sem pestanejar!
“Apesar de ser uma coisa inédita em termos de futebol masculino no Brasil, topei o desafio e fiquei muitos anos nessa condição. Todos me tratavam muito bem e os jogadores me respeitavam até demais. Eles evitavam até dizer palavrões na minha frente. Além do mais, o dinheiro que o Atlético me pagava era muito bom, mais do que o dobro do que eu ganhava como funcionária pública”, disse-me Nazaré Santos.
Ela gosta de falar sobre o seu tempo de massagista do Atlético. Guarda com carinho numa pasta de papelão vários recortes de jornais e fotografias da sua atividade. Se alguém, como foi o meu caso, se interessar pelo assunto, Nazaré pode passar horas desfiando as suas lembranças. São histórias e mais histórias, desde as comemorações pelas vitórias até a dedicação dos Diógenes na condução do clube.
Uma passagem que Nazaré gosta de contar diz respeito a um time de artistas da Globo que veio jogar no Acre. É que os caras exigiram ser massageados por ela, antes e durante a partida. Aí, segundo seu relato, na hora de entrar em campo, as mulheres na arquibancada gritavam que queriam assumir o seu lugar. Ela conta e ri divertida.
A ex-massagista Nazaré Santos, que hoje, aos 76 anos, dedica-se a aprender tocar violão, é outra das personagens que vai ter o seu perfil de antiga profissional do esporte publicado na quinta edição de Futebol Acreano em Revista, cujo lançamento está marcado para o próximo dia 4. Eu garanto que você não perde por esperar, leitor.
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