Categories: Acre

Acreanos de Coração

Por
Roberto Gaz

*Moisés Diniz


Eles escolheram o Acre como lugar pra viver, pra amar, construir família, erguer patrimônio e abrigo, como uma casa cheia de jardins, de crianças, um rio pra navegar, um sonho pra alcançar, uma nova vida, uma nova oportunidade, um novo encanto, como uma cidade que se ergue por suas mãos.


De terras próximas e terras longínquas, eles vieram e se apaixonaram pelo Acre. Só quem vive longe da família sabe o quanto de sofrimento e de medo incomodam a alma nesses instantes. Os primeiros dias, as primeiras semanas.


As primeiras e incessantes dificuldades da chegada, a angústia do desconhecido, do silêncio dos estranhos. O medo de ter que voltar, de não encontrar abraços e mãos estendidas. Os primeiros amigos, aqueles que a gente nunca esquece.


Quem sabe, no início, alguns desavisados daqui não os tenham recebido bem. Mas, a imensa maioria os acolheu como filhos, como dizem os índios, como txais, como irmãos.


Como diz um velho amigo meu, seringueiro, das cabeceiras do rio Gregório, lá de Tarauacá:


‘Eu vim para o Acre em busca de uma vida melhor. Não me arrependo. Hoje, eu sou um homem rico. Nunca uma canoa que passava, me deixou no barranco do rio. Em toda casa que eu chegava, me davam um bom dia fraterno e me chamavam para comer do que tinha. E, se não tinha mesa, comia todo mundo no chão”.


Assim é o Acre. Queremos homenagear todos que vieram de longe, com uma única palavra: amigo! E, para ser amigo…


Basta ser humano, basta ter sentimentos e basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada e de pássaros, de sol e de lua, do canto dos ventos e das canções da brisa.


Precisa gostar de água de chuva, sim, muita chuva, porque, aqui, mais parece um rio imenso sobre as nossas cabeças, como se cada ponto infinito do céu fosse a nascente de um igarapé e cada acreano fosse uma criança a tomar banho na rua. E saber respeitar os povos indígenas e sua caiçuma, seu uni, seu rapé e sua inocência.


Deve saber conviver com peruanos e bolivianos aqui na fronteira. Si, de amigos de los países fronterizos y el corazón, los sobrevivientes de una guerra, hermanos.


‘Deve amar o próximo e respeitar a dor que os semelhantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar. Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão.


Não é preciso que seja puro, nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.


Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonância humana, seu principal objetivo deve ser o de ser amigo.


Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer. E que se comova quando chamado de amigo.


Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações da infância. Um amigo para não enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações dos sonhos e da realidade.


Um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas, porque já se tem um amigo. Um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que bata no ombro sorrindo e chorando, mas, que nos chame de amigo, para se ter a consciência de que ainda se vive.’


Isso é ser acreano.


Os acreanos de nascença abraçam os acreanos de crença, de opção, que vieram se tornar acreanos aqui, sua larga contribuição, sua inteligência e seu esforço, o patrimônio material e o legado espiritual, o emprego que geraram, as crianças que ensinaram, os seus filhos, os seus netos, as vidas que salvaram, o Acre de todos nós, que ajudaram a construir.


Que Deus abençoe os homens e as mulheres que escolheram o Acre. São acreanos! São nossos amigos!


Moisés Diniz é membro da Academia Acreana de Letras e autor do livro Os Últimos Irmãos.


 


 


 


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Roberto Gaz

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