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Criança intoxicada com rapé foi receitada com garapa de açúcar

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Da redação ac24horas

Uma criança de apenas cinco foi intoxicada, em casa, com rapé – folhas de tabaco moídas em pilão e misturadas com outras ervas – bastante utilizada por tribos indígenas da região norte para esfriar o corpo. O caso aconteceu no município de Porto Walter, no Juruá. Chegando ao Hospital da Família com fortes efeitos após inalar o produto, a Unidade estava sem médico e os enfermeiros plantonistas não sabiam como desintoxicar a criança.


“Uma pessoa que tinha costume de usar o rapé foi quem orientou para que ele ingerisse garapa de açúcar”, disse um técnico em enfermagem que temendo represálias, pediu para não ter o seu nome revelado.


Ele seguiu contando que a criança chegou completamente grogue e vomitando. “A garapa de cana acabou fazendo efeito após alguns instantes”, acrescentou. O pai do menino informou aos enfermeiros que a intoxicação aconteceu em sua casa, onde ele deixa o produto ao alcance das crianças.


“Assustado, ele [o pai da criança] a levou para casa antes de fazermos os procedimentos de identificação, inclusive, com o uso do cartão de vacina do menor, por isso não temos como identificar o nome da criança” revelou o enfermeiro.


Ainda segundo o profissional da enfermagem esse é um dos primeiros casos por intoxicação de rapé que chega à unidade de saúde. Ele revelou que embora o uso da substância seja rotineiro, “não estamos treinados para lhe dar com situações como essa”.


RAPÉ VIROU ARTIGO DE LUXO – Embora a Secretaria de Saúde do Estado não tenha se alertado para o uso do rapé no Acre, o produto virou nos últimos anos, artigo de luxo, saiu das aldeias indígenas (Hunikuí) para o mundo. E é muito utilizado na região por adeptos da Doutrina do Daime, embora não faça parte do ritual sagrado dos centros que utilizam o Daime com orientações espirituais do Mestre Irineu.


No Brasil, o Espaço Rapa Nuy, em Porto Alegre, é referência em trabalhos espirituais junto aos povos indígenas do estado do Acre. Nos últimos dez anos, esse grupo vem se especializando ao que já chamam de “medicina do rapé”. O espaço tem realizado alianças, trocas culturais e espirituais com as etnias Kaxinawá (Huni Kuin), e também com a etnia Yawanawa, ambas localizadas na nossa região.


O QUE É O RAPÉ – A palavra rapé vem do francês “râper” (raspar). Basicamente, é tabaco moído, raspado ou pilado, inalado ou aspirado via nasal. Até o início do século XX, era bastante comum o uso de rapé no Brasil. Costumava ser vendido em caixinhas (semelhantes às de fósforo) ou estojos. Seu uso, neste caso, não é ligado a rituais (espirituais).


USO FORA DE RITUAL – o uso fora do ritual e sem o conhecimento de que plantas estão na composição do produto é o grande perigo. Na planta do tabaco encontra-se nicotina, que, se não for usado com moderação, pode viciar o organismo, transformando o usuário de rapé em dependente químico além de causar sérios danos à saúde.


O CONSELHO TUTELAR – O Conselho Tutelar teve informação sobre o caso hoje (1) à tarde e afirmou que tem as mesmas informações que a imprensa.
Ainda de acordo a instituição, os casos envolvendo intoxicação de crianças e adolescentes com Rapé crescem no município e na região do Juruá. O Conselho no município de Porto Walter tem atuado junto às escolas, orientado as crianças e jovens com relação ao risco que ocorre na inalação do produto.


Segundo José Romevandro, presidente do Conselho, houve casos de adolescentes que ao experimentarem o rapé, inalaram vidro e tiveram que procurar uma Unidade Hospitalar. “Vamos tomar as devidas providências que o caso requer” disse Romevandro.


NAS TRIBOS DO ACRE – No norte do Brasil, povos indígenas usam o rapé há séculos (antes da chegada do homem branco). Algumas etnias, tais como a Huni Kuin – Kaxinawa e a Yawanawa, tem o rapé como uma “medicina” (associada ao uso terapêutico e espiritual).


O tabaco utilizado para a elaboração do rapé é cultivado (orgânico) pelo próprio povo (e geralmente rezado em todas suas fases: plantio, cultivo, colheita, preparo). O tabaco mais conhecido é do tipo “mói”, que é preparado em corda.
O rapé neste caso é constituído de tabaco (pilado) e cinza (pau pereira, cumaru, canela, canela de velho, entre outras).


Para esses povos, o rapé é uma medicina que contém um espírito com grande poder, trazendo curas, proteção e afastando todo tipo de males. Outro ponto a salientar, é que o rapé não é aspirado, mas sim soprado nas vias nasais através de uma espécie de canudo, chamado de “tepi”. Também pode ser autoaplicado através de um instrumento chamado de “curipe”.


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