Que no futebol brasileiro a corrupção corre solta, ninguém tem dúvida. Mas é preciso dar nome aos bois.
Não será agora que o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, e o ex-presidente Ricardo Teixeira, serão ouvidos pela CPI do Futebol no Senado.
Antes de chamá-los, a comissão optou em quebrar os sigilos bancário e fiscal de Del Nero, para entender suas movimentações financeiras recentes.
E priorizou em convocar para dar esclarecimentos à comissão quem gira em torno da CBF.
É o caso de Kléber Leite, da Klefer, empresa de marketing esportivo ligada à confederação por meio de vários acordos comerciais. Chamaram ainda o presidente da Nike no Brasil, Cristian Corso, patrocinadora da CBF. Além disso, convocou Wagner José Abrahão, interface da entidade em negócios ligados à compra de passagens e reserva de hotéis.
O primeiro (Kléber Leite) é peça-chave para compreender a base dos contratos assinados com a televisão. O segundo (Cristian Corso), nem tanto, por que qualquer empresa multinacional opera nos grandes negócios sobre absoluto controle da matriz – no caso da Nike, ela fica nos EUA e o FBI já a colocou sob investigação. O último (Wagner José) deve caracterizar as relações promíscuas da CBF com fornecedores.
O convite a Eurico Miranda, presidente do Vasco, é dispensável por que, apesar de ser um crítico da confederação, costuma falar muito e provar pouco.
Já o convite a alguns jornalistas esportivos para dar depoimento à comissão (caso de Juca Kfouri), já realizado, foi positivo pela contextualização que deram sobre o futebol brasileiro.
A CPI ainda aprovou acesso aos contratos referentes aos amistosos da seleção brasileira dos últimos dez anos. No entanto, os grandes acordos estão nas competições promovidas pela CBF e é preciso, portanto, aguardar para saber se a comissão chegará a eles.
A ida da CPI aos Estados Unidos para ouvir a procuradora que lidera as investigações de corrupção na Fifa, pode ter resultado se o órgão der esclarecimentos adicionais consistentes aos senadores do que já se sabe.
Além disso, a CPI pretende falar com o ex-presidente da Concacaf, mas não é certo se ele pode contribuir com o caso específico na CBF.
A comissão também convidou para se pronunciar o jornalista inglês Andrew Jennings, autor de livros sobre corrupção na Fifa. Os jornalistas autores do livro “O lado sujo do futebol” (entre eles, Luiz Carlos Azenha e Amaury Ribeiro Jr.), também foram convidados. Como são profissionais independentes dos grupos de mídia que costumam adquirir contratos de direitos de transmissão com a CBF, o depoimento deles pode ser enriquecedor.
A solicitação da CPI de dados sobre repasses do Ministério do Esporte às confederações soa como manobra meramente política.
A convocação ainda de relatores das duas CPIs do Congresso anteriores voltadas ao futebol (2000 e 2002) é desnecessária – basta a comissão colher nos próprios relatórios produzidos nessas antigas CPIs o material que deseja.
Enfim, federações, clubes, ex-jogadores, o Bom Senso FC e outros nomes por certo serão chamados para dar esclarecimentos.
A comissão pretende também colher depoimentos do ex-presidente da CBF, José Maria Marin, preso na Suíça, e J. Hawilla, que está nos Estados Unidos em regime de prisão domiciliar por conta de sua empresa, a Trafic, ser uma das envolvidas no escândalo da Fifa no que se refere a venda de publicidade e de direitos de transmissão à tv – mas é provável que ambos se calem perante à comissão, conforme declararam seus advogados.
A CPI diz querer avaliar o cenário atual do futebol brasileiro antes de entrar na identificação de irregularidades. É aguardar essa etapa para saber se, de fato, a comissão se transformará ou não em pizza.
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