Multidão de peregrinos caminha na procissão de Nossa Senhora da Glória em Cruzeiro do Sul

Nem a chuva que caiu poucos momentos antes do ápice do Novenário em honra à Nossa Senhora da Glória, ao entardecer e noite deste sábado, 15, atrapalhou a manifestação de fé dos peregrinos. Para alguns mais antigos a água que caiu dos céus representou uma manifestação de contentamento da Padroeira do Juruá com a devoção centenária dos seus fiéis que se renova todos os anos.

Cerca de 30 mil pessoas com suas velas acesas subiram e desceram as ladeiras de Cruzeiro do Sul entoando cânticos de louvores e rezando as orações. Um verdadeiro mar de gente em busca das bênçãos divinas. A tradição do Novenário, que começou em 1917, teve um significado especial em 2015, porque a paróquia de Cruzeiro do Sul comemorou os 100 anos de existência.

O culto à Nossa Senhora da Glória foi celebrado pelo Bispo Dom Mosé Pontelo. Todo o tempo eram emitidas mensagens de fé esperança pelo auto falantes. Enquanto a procissão se arrastava pelas ruas, no Morro da Glória, jovens acendiam velas nas suas encostas para esperar a passagem do andor com a imagem da Padroeira.

Na descida do Morro da Glória em direção à Catedral os peregrinos entoavam ainda mais fortes os cânticos para a Virgem da Glória. Levantavam suas velas formando um tapete luminoso de manifestação de fé, amor e espiritualidade. A chuva que abandonou a procissão logo no princípio da jornada deu lugar a uma noite estrelada de verão amazônico e depois iluminada por uma enorme queima de fogos de artífico.

Fiéis de todas as idades seguiram a imagem de Nossa Senhora da Glória. Como, por exemplo, a dona Terezinha Gerônimo, de 78 anos, trajando vestes marianas em branco e azul que não perde uma procissão desde a infância. “A devoção renova as nossas forças para caminhar louvando a nossa Mãe. E essa força se nos dá mais ânimo para enfrentarmos as dificuldades da vida,” disse ela.

Talvez por se tratar de um ano de muitas dificuldades para muita gente com a crise econômica e política do país a Catedral esteve lotada durante as nove noites de rosário. Os sacerdotes sempre estimulando a fé como um instrumento para o povo vencer as adversidades. Nessa hora do apuro material a espiritualidade sempre é um caminho para aliviar a apreensão e o sofrimento.

Peregrinos sem caminho

O número de peregrinos em Cruzeiro do Sul, este ano, foi visivelmente menor. O fato da BR 364 estar praticamente intrafegável afugentou muita gente que costuma vir de outros municípios do Acre. Para se ter uma ideia, uma viagem de ônibus entre Rio Branco e Cruzeiro do Sul que costumava levar 10 horas, por esses dias, chegou a levar 26 horas. Também as caravanas de carros que se aventuravam pela estrada não vieram.

Melhoria na organização

 Mas por outro lado, o Novenário foi uma dos mais bem organizados da sua história. A coordenação feita pelo SEBRAE correspondeu às expectativas. A parte comercial das barracas de vendas de produtos e alimentação estavam muito mais ordenadas.  Muita gente elogiou o trabalho feito pelo SEBRAE em colaboração com a paróquia.

Revoada de políticos no Novenário

Já é uma tradição os políticos acreanos participarem da celebração espiritual em Cruzeiro do Sul, considerada a segunda maior da região Norte, segundo o deputado federal César Messias (PSB) que já foi prefeito da cidade. Claro que como 2015 não é um ano eleitoral, o número foi bem menor que em outras ocasiões.

O atual prefeito Vagner Sales (PMDB) acompanhado da esposa a ex-deputada Antônia Sales (PMDB) caminhou mais uma vez na procissão. Ele faz isso desde que era ainda menino e morava num seringal em Porto Walter. Antônia Sales há 40 anos na região também nunca deixou de comparecer ao Novenário.

O governador Sebastião Viana (PT) assistiu a missa que precedeu a procissão ladeado pela sua esposa Marluce Cândido e do seu irmão senador Jorge Viana (PT). Durante uma entrevista coletiva concedida pouco antes do ato de fé, Tião ressaltou o sentido do Novenário.

“Pedirei à Padroeira mais união e paz para o Acre. É neste dia da Ascenção de Nossa Senhora, que Ela intercede por nós junto a Jesus Cristo e o nosso Pai Criador. É nisso que nós católicos acreditamos. Por isso, nunca deixei de vir a Cruzeiro do Sul nessa época para renovar a minha fé. Espero que o Acre supere todos os obstáculos e possa ter um lindo futuro. É bom estar ao lado de tanta gente inspirada pela fé durante a procissão,” afirmou o governador.

O senador Gladson Cameli (PP) também esteve presente cumprindo o mesmo ritual que fazia todos os anos o seu tio, o ex-governador Orleir Cameli, já falecido.

“O Novenário me traz lembranças da fé da minha família que se criou no Juruá. Meu tio Orleir sempre foi um devoto de Nossa Senhora da Glória. Inclusive, todos se lembram de quando ele doava alguns dos seus melhores bois à paróquia. E depois ele mesmo arrematava por um preço muito alto para ajudar nas obras sociais dos religiosos, “ lembrou o senador.

Jorge Viana também manifestou-se sobre o ato de fé em Cruzeiro do Sul.“Nunca precisamos de tanta paz como nesse momento. O Brasil viveu 15 anos de absoluta tranquilidade social e econômica. Muita gente se esqueceu do que é uma crise. Mas temos que com muita humildade pedir à Nossa Padroeira para nos ajudar a enfrentar os problemas com compreensão e respeito ao próximo,” disse Jorge.

O deputado estadual Luiz Gonzaga (PSDB) que é membro da União do Vegetal também caminhou pelas ruas de Cruzeiro para saudar a Virgem.

“A procissão é uma manifestação de fé popular que transcende a questão religiosa. Não importa qual a fé que uma pessoa professe para se pedir proteção e saúde num momento tão forte de espiritualidade como o que acontece aqui. A verdadeira religião é o amor que é universal,” declarou Gonzaga.

Quem também sempre acompanha a procissão é o senador Sergio Petecão (PSD). Acompanhado do seu fiel escudeiro Montana Jack, que é de Cruzeiro do Sul, Petecão afirmou que a fé das pessoas é que move o mundo e faz as grandes transformações planetárias.