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Homens e mulheres de diamantes

Por
Roberto Vaz

Moisés Diniz


Falar na festa imortal dos 70 anos da Academia Acreana de Letras virou um fardo para mim, tamanho o seu peso, a sua importância. Essa data magnífica não pode estar dissociada da história, não pode abandonar suas raízes e nem esquecer sua eterna relação com o Acre real, de seus instantes mágicos, de sua ancestralidade. Se não, vejamos!


Quando alguém, além de nossas fronteiras, afirma que o Acre é um lugar especial, um pedaço encantado do Brasil, como se o seu povo fosse feito de diamante, os mais apressados enxergam uma defesa exagerada da territorialidade e um acreanismo sem nenhum valor.


Quando a Academia Acreana de Letras completa 70 anos, como uma pedra de carvão que fala, sente, torna-se diamante, chora, resiste, torna-se dia, noite, amante… Então, a gente pode comparar!


Comparar o Acre com outros lugares desenvolvidos, bem dotados, nutridos. Descobrimos que os fatos que ocorrem no Acre o fazem ímpar.


Em 17 de novembro de 1937, acreanos de valor fundaram a Academia Acreana de Letras. Apenas 34 anos separavam aquela data mágica da data de nossa própria existência como povo.


Apenas 34 anos entre a existência do Acre brasileiro e a fundação de sua academia de letras, o lugar onde o palpável cede lugar ao abstrato da imaginação e da ternura das letras.


Ao nosso lado, o poderoso vizinho Amazonas demoraria 163 para fundar a sua academia de letras. Em 1755 era constituída a Capitania do Rio Negro e somente em 1918 seria criada a Academia Amazonense de Letras. Esse o exemplo do norte, da Amazônia.


Vamos ao rico sudeste. Minas Gerais, em 1709, já era o centro econômico da colônia, mas a sua academia de letras seria fundada somente em 1909. Nada menos do que 200 anos depois da existência daquele rico lugar.


Exemplos não faltam. Em 1532 foi criada a Capitania de Pernambuco, mas a sua academia de letras foi criada somente 369 anos depois, em 1901.


A própria Bahia, onde foi forte e simbólico o desejo de olhar para a imaginação do homem e a sua rebeldia, somente em 1724 foi criada a Academia dos Esquecidos e depois a Academia dos Renascidos em 1759, duas das primeiras tentativas de dotar o Brasil de uma entidade cultural capaz de congregar os interesses literários.


Ocorre que em 1572 já existiam dois governos no Brasil, o do Rio de Janeiro e o da Bahia. Assim, mesmo lá, a academia de letras só surgiria 152 anos depois.


Nem o Brasil e os seus 500 anos de história escapam à comparação. A Academia Brasileira de Letras foi fundada em 1897, nada menos do que 397 anos depois do descobrimento. Apesar de Machado de Assis.


Aliás, dezenas e centenas de anos depois de muito acontecimento importante. A Academia Brasileira de Letras foi fundada 89 anos depois que a Família Real chegou ao Brasil.


O príncipe regente D. João fundou o Banco do Brasil, o Jardim Botânico, a Imprensa Real e a Escola de Medicina, mas não fundou a academia de letras.


  1. Pedro II proclamou a Independência, mas ainda demorou 75 anos para ser fundada a Academia de Letras do Brasil. E, pasmem, veio a proclamação da República, mas não fundaram a Academia das Letras, que nasceria somente 8 anos depois.

No Acre tudo foi diferente! A letra nasceu primeiro, junto com a sua imaginação, a sua liberdade em relação ao poder, a sua autonomia intelectual e a sua eterna utopia. Fazer do Acre uma terra de homens e mulheres livres, decentes e felizes.


Por aqui, como meninos no meio das águas, acabávamos de completar 17 anos que tínhamos governador e apenas 3 anos que havíamos conquistado o direito de ter representante no congresso nacional, apenas duas vagas na imensidão do Brasil.


Assim, acredito que a fundação da Academia Acreana de Letras, apenas 34 anos depois da nossa existência como gente brasileira, merece uma reflexão sobre a liberdade, a fraternidade e a igualdade que estamos construindo.


Que liberdade queremos para os nossos filhos? Que igualdade? Que fraternidade? Responder a essas interrogações é tarefa nobre daqueles que olham o Acre nos 70 anos de fundação da Academia Acreana de Letras.


Vida longa a todos vocês! Muito obrigado pela travessia! Vocês nos trouxeram até aqui, cheios de luz, irreverência, utopia, amor à vida, abraços e poesia.


Vocês, pela força das letras, são homens e mulheres de diamante!


Vida longa às letras! Muito obrigado!


Moisés Diniz é membro da Academia Acreana de Letras e autor do livro ‘Bandeira Gêmea’.


Nota: discurso que proferimos na sessão especial da Assembleia Legislativa do Acre, proposta por nós, no ano de 2007, em homenagem aos 70 anos da Academia Acreana de Letras.


 


 


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Roberto Vaz

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