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Artigo: A grande lição da vida

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Da redação ac24horas

O meu primeiro contato com o Acre foi através de uma reportagem da revista da TFP (Tradição Propriedade e Família). O texto tratava dos bispos comunistas que atuavam nos rincões do Brasil, como dom Moacir Grechi na Prelazia do Acre Purus que defendia os seringueiros amazônicos e o bispo espanhol dom Pedro Casaldáliga que organizava o movimento campesino na diocese do Alto Araguaia.


Desde a militância no movimento estudantil de Vitória da Conquista no Estado da Bahia, sempre escutava dos militantes mais engajados nos movimentos sociais da luta incansável de dom Helder Câmara, contra a Ditadura Militar, enquanto dom Paulo Evaristo Arns cobrava das autoridades do judiciário a punição dos torturadores do jornalista Vladimir Herzog. Estes dois religiosos com forte atuação na região Nordeste e Sudeste, pelo cumprimento dos direitos humanos, sempre eram taxados de comunistas pelos ditadores de plantão que governavam o nosso país.


Porém, na segunda metade da década de noventa, conheci o bispo dom Moacir, quando ingressei no curso de teologia mantido pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), na capital acreana. Antes que fosse fechado, pelo papa João Paulo II, tive o privilégio de assistir às monumentais aulas do mestre Leonardo Boff, que tinha abandonado o sacerdócio, do seu irmão Clodovis Boff e da saudosa irmã Marlene, que falava com muito entusiasmo da Teologia da Libertação.


Depois de cursar quatro períodos na faculdade, tive que abandonar a vida acadêmica, porque não conseguia mais conciliar a minha atividade diária, como repórter do jornal Página 20. Nesta época, sempre passava pelo Palácio Episcopal em busca de alguma notícia para o dia seguinte. Afinal, o religioso vinha travando uma queda de braço, com os oficiais da Polícia Militar que patrocinavam a atuação de grupos de extermínios nos aparelhos de segurança do Estado.


Senti isso na pele, quando cheguei ao Palácio Episcopal, no dia seguinte, para olhar se o editor Stélio tinha dado destaque para minha matéria sobre o sequestro de uma mulher, com os filhos de um caçambeiro acusado de matar o suboficial, Itamar Pascoal, durante uma discussão de rua num posto de combustível. Para minha surpresa, os quatro diários locais estavam em cima da recepção, mas nenhuma linha sobre o assunto.


O bispo, que descia do seu gabinete para conversar com os ativistas do Grupo de Direitos Humanos, parou e olhou para mim com uma expressão de reprovação. Em seguida, folheou os jornais em cima da mesa e teceu o seguinte comentário: “Enquanto vocês não dão nenhuma linha sobre o sequestro de pobre família, o caso ganhou a primeira página dos grandes jornais”.


Esta indiferença dos jornais e redes de televisão, ao movimento da educação faz recordar aquela declaração, enquanto ignoram os grevistas, a luta ganha fôlego nas redes sociais. Portanto, estas lições cotidianas foram fundamentais, para eu aprender que a honra é inegociável, mesmo que muitos ativistas que passaram pelo curso de formação política da Diocese de Rio Branco ignorassem este preceito básico, por conveniências políticas ou oportunismo.


Os companheiros que continuam ignorando este preceito básico estão condenados ao mesmo ostracismo dos dirigentes que passaram pelo movimento sindical da educação. Durante a minha peregrinação, pelos corredores da Diocese de Rio Branco, comecei a perceber que os valores éticos é antes de tudo, uma ação prática, como declarava há dois mil e quinhentos, o filósofo Aristóteles.


Cezar Negreiros é estudante do curso de licenciatura em Filosofia da Universidade Federal do Acre (Ufac)


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