O futebol, para além da essência do jogo, que é a de fazer uma bola vencer um sujeito chamado goleiro e se aninhar no fundo de uma rede, é uma atividade cheia de expressões peculiares. Mas isso todo mundo sabe. A maioria dessas expressões é de domínio público, principalmente dos que acompanham o dia a dia dos seus clubes.
Algumas dessas expressões, porém, sofrem variações dependendo da região onde são pronunciadas. Assim sendo, o que se chama “chagão” num lugar, pode se chamar “drible da vaca” em outro e “meia-lua” em mais um outro. Da mesma forma, o que se chama “banho de cuia” num lugar, em outro atende pelo nome de “chapéu”.
Nessa mesma linha, a gente pode encontrar, ainda, os dribles denominados “lambreta” e “caneta”. A “lambreta”, que consiste em fazer a bola passar por cima do adversário, a partir de um movimento empreendido pelos calcanhares, em alguns lugares é conhecida como “carretilha”. E a “caneta”, que se trata de fazer a bola passar entre as pernas do adversário, também pode ser chamada de “janelinha”.
O que me interessa, porém, nessa crônica de hoje, é resgatar expressões que não caíram no domínio público, aquelas que são ditas pelos torcedores em ocasiões restritas, numa roda de amigos ou na companhia de desconhecidos, num dia de arquibancadas vazias. Essas expressões, de modo geral, quase sempre de cunho humorístico, via de regra permanecem restritas ao círculo da criatura que as inventou.
Numa tarde do final dos anos de 1970, naquele setor chamado “Vietnã”, do estádio “José de Melo”, em Rio Branco, a exemplo dessas expressões que permanecem restritas, ao ver o ponteiro Amenu, do Andirá, se esforçar inutilmente para alcançar uma bola lançada com força excessiva, um anônimo saiu-se com a seguinte pérola: “Essa aí o Amenu não pega nem com um motor de popa na bunda”.
Os meus amigos Lula (aquele reserva em tempo integral do Bico-Bico, no Independência) e Toinho Martins são especialistas em criar frases de efeito. É do Lula a expressão do “futebol nove e quinze”, para denominar o jogador de meio campo que só toca a bola para os lados. Já o Toinho quando quer dizer que um sujeito não joga nada, costuma afirmar que a criatura é “mais ruim do que refresco de tabaco”.
E na semana passada, quando eu, de radinho de pilha em punho, na Arena Castelão, assistia ao jogo entre Fortaleza e Botafogo da Paraíba, ante uma jogada bisonha do centroavante do time paraibano, ouvi um “comentarista” sair-se com essa: “Esse camisa nove aí do Botafogo é mais grosso do que papel de enrolar prego”. Rs.
Por hoje é isso, prezados. Nem sempre o melhor de uma partida de futebol acontece dentro das quatro linhas. Se a gente ficar ligado, mesmo que o jogo esteja mais pra carne de pescoço do que pra filé, ainda assim dá pra se divertir um bocado. Como diz o Joraí, “não quero nem saber quem fez o gol, o que eu quero é festejar”.
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