O cancelamento do vôo da Gol entre Rio Branco e Brasília na madrugada de 17 de julho me impediu de estar presente na sessão solene em homenagem a Wilson de Souza Pinheiro, o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Brasiléia assassinado em julho de 1980 naquele município. A realização dessa sessão em homenagem à luta e ao sacrifício de vida de Wilson Pinheiro foi uma iniciativa do deputado Léo de Brito, do Partido dos Trabalhadores, um jovem parlamentar que apenas chegou ao final do primeiro semestre de seu mandato mas já demarcou positivamente o terreno de sua atuação de maneira intrépida e qualificada.
Falar sobre Wilson de Souza Pinheiro é sempre um ato de grande responsabilidade, principalmente se levarmos em conta que sua história está fortemente ligada aos momentos iniciais da organização do Partido dos Trabalhadores no Acre. É sempre importante lembrar que, devido ao pronunciamento feito durante seu velório e sepultamento, o então líder sindical operário e ainda pouco conhecido metalúrgico Luis Inácio da Silva foi enquadrado na Lei de Segurança Nacional, num longo processo que respondeu juntamente com o advogado da Contag no Acre, João Maia, e com o também sindicalista Francisco Alves Mendes Filho, o Chico Mendes, que seria assassinato quase uma década depois em Xapuri praticamente pela mesma razão: a luta em defesa da posse da terra para aqueles que nela trabalhavam e dos direitos dos trabalhadores rurais que viviam sob as mais cruéis ameaças. Entre os assassinatos de Wilson Pinheiro e Chico Mendes, os trabalhadores da região de Brasiléia e Xapuri ainda choraram com a perda de Ivair Higino, outra liderança rural que teve a vida ceifada covardemente.
Sinto-me na obrigação de dirigir meus cumprimentos ao deputado Léo de Brito porque o requerimento de sua autoria aprovado pela Câmara dos Deputados para a realização dessa sessão em homenagem a Wilson de Souza Pinheiro foi a maneira mais eloquente de trazer para o plenário da casa do povo um pouco da história de lutas e sacrifícios que marcaram a trajetória do Partido dos Trabalhadores do Acre e do Brasil. Se lá no passado não tivéssemos contado com a coragem, a determinação e o altruísmo de pessoas como Wilson Pinheiro, Ivair Higino e Chico Mendes, dificilmente teríamos construído com sucesso o caminho de tantas batalhas com derrotas, vitórias e conquistas que experimentamos ao longo desses 35 anos.
A sessão proposta por Léo de Brito, que reuniu os deputados Raimundo Angelim e Érika Kokay e o ex-governador Binho Marques, foi um daqueles momentos em que nós somos forçados a parar para refletir sobre o quanto a boa luta política é benéfica para a sociedade e o quanto devemos ter orgulho da história que ajudamos a construir com a nossa participação.
É uma pena que os grandes veículos comunicação só tenham olhares e holofotes para os escândalos e os piores exemplos da política. Mesmo se tratando de uma sessão solene em homenagem a alguém que deu uma contribuição histórica, não passou despercebida a manobra regimental do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, ao arquivar quatro pedidos de CPIs e mandar um de seus seguidores assumir a direção dos trabalhos para fazer a leitura de outras quatro CPIs que não estavam na ordem cronológica. Mais lamentável ainda é ver nos noticiários que a história de Wilson Pinheiro não mereceu uma menção sequer ao passo que os atos de represália do presidente Eduardo Cunha às novas revelações de seu envolvimento com a Lava Jato roubaram a cena com farta exposição. A depender dos grandes veículos, a sessão em homenagem a Wilson Pinheiro nunca aconteceu!
Aníbal Diniz, 52, jornalista, graduado em História pela UFAC, foi diretor de jornalismo da TV Gazeta (1990 – 1992) assessor da Prefeitura de Rio Branco na gestão Jorge Viana (1993 – 1996), assessor e secretário de comunicação do Governo do Acre nas administrações Jorge Viana e Binho Marques (1999 – 2010) e senador pelo PT- Acre (Dez/2010 – Jan/2015), atual assessor da Liderança do Governo no Congresso Nacional.