Aníbal Diniz
Vejo vídeo na internet em que um grupo de ativistas de clara inspiração fascista se vangloria das ações que vem desenvolvendo no sentido de hostilizar pessoas ligadas ao PT em todos os ambientes, dentro e fora do Brasil. Entre as façanhas relatadas, está a do jovem Igor Gilly, que detalhou como passou cerca de hora e meia encostando o ouvido em praticamente todas as portas dos quartos do hotel em que a presidenta Dilma Rousseff se hospedava em São Francisco, durante sua última viagem oficial aos EUA, com o objetivo de afrontá-la com ofensas e xingamentos. No dia seguinte, viajou de carro até a Universidade de Stanfort, na Califórnia, onde novamente passou por integrante da comitiva presidencial e conseguiu levar a termo seu objetivo de hostilizar a maior autoridade do Brasil em solo americano. Além da gritante falha no sistema de segurança, o episódio trouxe à luz, a meu ver, algo ainda mais preocupante, que é a intolerância ultrapassar a esfera da disputa partidária pelo poder político, quando os ânimos normalmente se acirram, e chegar ao extremo de pregar a morte aos petistas. Tudo devidamente registrado e espalhado na rede.
Se as últimas pesquisas revelam que a maioria das pessoas atualmente não aprova a administração do PT é, antes de tudo, sinal de que vivemos numa democracia com plena liberdade de expressão. Todos têm direito de manifestar sua opinião, a começar pelos grandes veículos de comunicação, que cada vez mais se associa à oposição na promoção do desgaste do governo, que, embora tenha falhas, é o que conseguiu mudar para melhor a vida do maior número de brasileiros. Aliás, é bom que se diga, na lógica desses veículos, quanto mais hostil à Lula, à Dilma e ao PT, mais liberdade e espaço nobre a pessoa tem para disseminar seu sentimento ao grande público. Mas tudo tem limite. Faltar com o respeito e partir para a agressividade a ponto de colocar em risco a integridade física da mulher, mãe e avó que o povo brasileiro escolheu duas vezes para a função de presidente é algo absolutamente inaceitável. Principalmente se forem levados em consideração os termos ameaçadores impublicáveis dos quais a presidenta Dilma Rousseff foi vítima nos Estados Unidos.
Confesso que sinto medo das consequências que essas atitudes extremas podem provocar. Por uma razão muito simples: o direito de um cidadão ou cidadã termina onde começa o direito de outra pessoa. Qualquer violação a este princípio básico constitui-se em afronta ao Estado Democrático de Direito. E a forma criminosa como esses grupos têm se organizado para constranger petistas em ambientes públicos exige uma resposta enérgica da justiça e da polícia, sob pena da institucionalidade ceder à barbárie. A sociedade não pode prescindir da política e dos arranjos institucionais dos quais dispõe para estabelecer as regras de convivência e zelar pelo respeito às leis e aos direitos das pessoas. Esses grupos representam uma ameaça à paz social porque, embora minoritários, o efeito multiplicador das ações espetaculosas que patrocinam é de grandes proporções. Se não forem coibidas, podem ser replicadas com frequência cada vez maior.
Quer protestar contra a corrupção? Tudo bem! Sou defensor de que haja investigação criteriosa de todos os escândalos e punição exemplar para os envolvidos em atos de corrupção, sejam profissionais de carreira de estatais ou órgãos da administração direta, sejam agentes políticos colocados em posição intermediária ou de comando. Mas é fundamental que a sociedade entenda que a prática do enriquecimento ilícito é antiga em todas as esferas do serviço público no Brasil, como revelam as atuais operações que, entre outras, acontecem simultaneamente na Petrobras, na Receita Federal e entre os fiscais de tributos do Município de São Paulo. Entendo que as estruturas colocadas à disposição da Polícia Federal e do Ministério Público, principalmente após o governo Lula, permitem muito maior eficiência dessas operações na atualidade, com tanta gente presa, tanta fortuna ilícita trazida aos holofotes e tanta revolta causada a pessoas que vivem honestamente com o fruto do seu trabalho.
Todos nós temos a obrigação de exigir que as investigações aconteçam de acordo com o devido processo legal e que haja punição exemplar aos que forem provados culpados. Mas não podemos e nem devemos aceitar que o Estado Democrático de Direito e a integridade física de pessoas que o representam sejam colocados em risco por grupos que, embora bem instruídos e conhecedores das regras democráticas, fazem questão de publicamente afrontá-las. O povo é pacífico e ordeiro e com certeza não aprova esse tipo de agressão.
Aníbal Diniz, 52, jornalista, graduado em História pela UFAC, foi diretor de jornalismo da TV Gazeta (1990 – 1992) assessor da Prefeitura de Rio Branco na gestão Jorge Viana (1993 – 1996), assessor e secretário de comunicação nos governos Jorge e Binho (1999 – 2010) e senador pelo PT- Acre (Dez/2010 – Jan/2015), atual assessor da Liderança do Governo no Congresso Nacional.