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Rei Dada, o Beija Flor com Peito de Aço

Por
Manoel Façanha

Dario José dos Santos nasceu no bairro de Marechal Hermes, no subúrbio do Rio de Janeiro em 4 de março de 1946.


Filho do meio do casal Seo João José e de Dona Metropolitana, ainda aos 5 anos presenciou uma terrível tragédia. Sua mãe, que sofria de alucinações, jogou querosene em seu próprio corpo, ateou fogo e saiu correndo pela rua como se fosse uma tocha humana. Dario correu em sua direção para tentar apagar o fogo, o que poderia ter o levado a morte, quando foi empurrado pela mãe em uma vala a céu aberto. Aquele empurrão salvou sua vida.


A visão da morte de sua mãe completamente queimada marcou para sempre a sua vida. Pouco tempo depois, sem condição de mantê-los, o pai acabou por deixar os três filhos no Serviço de Assistência aos Menores.


Isolado, Dário passou a viver internado, e pouco pode contar com as visitas de familiares aos finais de semana. O mundo do crime pareceu ser o seu destino, ainda mais pelos inúmeros delitos que começou a cometer. Chegou a tentar o suicídio.


Certa vez passando pela rua viu um grupo de meninos jogando bola. Tentou se unir ao grupo, mas depois de pouco tempo, foi impedido. Motivo? Era muito ruim de bola. Ainda assim arrumou uma maneira para poder jogar, roubou uma bola e a levou como sendo o dono dela.


Passou a jogar como zagueiro, onde bastaria dar chutões para cima. Tudo estava indo razoavelmente bem até que o time da sua rua passou a enfrentar outro formado pelos irmãos Antunes. Dentre eles o próprio Antunes, Edu e Zico, que posteriormente se transformaria em um dos maiores nomes do futebol mundial. Acabou sendo deslocado ao ataque para fugir das “humilhações” que sofria, sobretudo dos dribles de Antunes.


Aos dezoito anos foi para o exército onde passou a atuar na equipe de seu regimento. Não sabia dominar uma bola, mas marcava muitos gols.  Animado com uma eventual oportunidade no futebol, passou a tentar uma vaga nas equipes cariocas, quase todas da capital fluminense, e foi recusado em todas elas.


Passou a trabalhar na Light, empresa de energia elétrica, cavando buraco para colocar postes de luz.  Vida muito dura. Resolveu tentar a sorte na equipe do Campo Grande, onde fez um acordo inusitado. Jogaria em troca de um prato de comida. Seus gols mataram sua fome e logo o fizeram titular da equipe.


Em 1967, na sua primeira partida no Maracanã, ganhou as manchetes dos jornais cariocas ao marcar os dois gols da vitória de virada frente o Vasco da Gama. Aquele resultado acabou por causar a queda do técnico cruzmaltino, Gentil Cardoso, o mesmo que anos antes houvera dispensado Dario e sugerido que fosse arrumar algum trabalho braçal.


Foi em 1968, no entanto, que surgiu sua primeira chance em uma grande equipe brasileira, o Atlético Mineiro, por conta da vinda de um diretor da equipe mineira, Jorge Ferreira, ao Rio de Janeiro para contratar um jogador do São Cristóvão. Acabou levando Dario. Sua chegada ao Atlético, no entanto, sequer foi considerada como reforço a equipe e ficou por quase 2 anos no banco de reservas. Quando entrava em campo, normalmente era vaiado pela torcida e depois de um tempo sequer passou a ser relacionado entre os reservas.


Tudo isto mudou em 1969, com a chegada do técnico Yustrich, que resolveu acreditar naquele atacante alto, sem qualquer técnica, mas que corria muito e cabeceava como poucos. Logo virou titular e artilheiro do campeonato estadual daquele ano. Em 3 de setembro de 1969, aconteceria o fato que marcaria de vez sua carreira como jogador de futebol. Naquele dia a seleção mineira, representada inteiramente por jogadores do Atlético venceu por 2 a 1 a seleção brasileira que houvera acabado de conseguir classificação para a Copa do Mundo de 1970. O gol da vitória foi marcado, justamente, por Dario e acabou por causar certa comoção em torno de uma eventual convocação sua para a seleção brasileira.


Enquanto o técnico da seleção, João Saldanha, sequer considerava pensar nesta possibilidade, coube ao presidente da república, Emílio Garrastazu Médici, revelar para a imprensa que era fã do atacante do Galo e que não entendia porque ele não era convocado. Daí surgiu a histórica resposta de Saldanha ao presidente: “Ele escala o ministério, que eu escalo a seleção.” Pouco tempo depois, Saldanha deixou a seleção.


Em 12 de abril de 1970, no Maracanã, Dario estreava na seleção, já comandada por Mário Jorge Lobo Zagallo, ao lado de Pelé, em partida amistosa frente a seleção paraguaia. O episódio com Médici acabou provocando certa dificuldade no relacionamento de Dario com os demais atletas selecionados, ainda assim o fato é que ninguém marcava mais gols que ele naquela época.


Campeão mundial em 1970 no México, como reserva, voltou ao Galo para ser campeão mineiro e artilheiro do campeonato estadual em 1970, campeão brasileiro e artilheiro da competição em 1971, com direito a fazer o gol do título na final. Novamente artilheiro do estadual e do brasileiro em 1972, ficou em Minas Gerais até 1973, quando foi contratado pelo Flamengo. Foi lá que ganhou o apelido, Dadá Maravilha, alusão a cidade Maravilhosa e a outro jogador folclórico que atuara na equipe rubro negra, Fio Maravilha.


Após breve retorno ao Atlético, em 1975 já estava no Sport Recife, que formara um verdadeiro esquadrão para quebrar o jejum de 13 anos sem títulos. Foi campeão estadual e artilheiro da competição. Em 7 de abril de 1976, mais um grande feito, desta vez mundial, na goleada de 14 a 0 frente ao Santo Amaro, Dario marcou 10 gols.


Ainda naquele ano, seus gols acabaram por levá-lo a atuar na maior equipe brasileira da década de 1970, o Internacional, onde foi campeão estadual, campeão brasileiro e artilheiro da competição, com direito, novamente, a gol na final. Ficou no Colorado até 1977, de onde saiu para atuar na Ponte Preta. Logo depois estava de volta ao Galo, para ser campeão mineiro de 1978.


A partir daí passou a percorrer o país, sempre marcando gols e firmando sua fama de artilheiro e campeão por onde passou. Em 1979 vestiu a camisa do Paysandu, no ano seguinte, a do Náutico, em 1981, passou pelo Santa Cruz e Bahia, onde foi bicampeão estadual 81/82 e condecorado Rei Dadá. Em 1983, esteve no Goiás, já em 1984 no Coritiba e em 1985 no América Mineiro e Nacional de Manaus, onde novamente foi campeão estadual. Em 1986, no seu ultimo ano como profissional, defendeu as cores do XV de Piracicaba e Douradense de Mato Grosso do Sul.


O homem das frases feitas, um exemplo de ser humano que enganou o destino que tinha pela frente, para se tornar um dos maiores nomes do futebol brasileiro. Dario sempre foi e será a alegria da bola, um orgulho para o futebol arte, muito embora sequer dominar uma bola soubesse, cá entre nós, azar dela.


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Manoel Façanha

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