A tão sonhada e propagandeada ligação do Oceano Atlântico com o Pacífico, através da Ferrovia Bioceânica, que colocaria o Acre, definitivamente no caminho do desenvolvimento, como corredor de exportação, pode ter ido por terra. Uma análise divulgada pelo jornal O Estado de São Paulo revela que a ferrovia, que ligaria teria inicio na China e passaria até o Peru e o Brasil, se entendendo até o Acre, é economicamente inviável. O levantamento é da seção latino-americana da União Internacional de Ferrovias, que fez um demonstrativo que os custos de transporte da soja do Mato Grosso até o porto de Ilo, no Peru, seriam mais elevados que utilizando o porto de Santos, em SP.
Este levantamento pode ser um balde de água fria nas perspectivas de futuro promissor e de desenvolvimento acentuado para o Acre, anunciados como a redenção econômica para o Estado, pelo senador Jorge Viana (PT), que ao exemplo do que aconteceu na época que a empreiteira Norberto Odebrecht, concluiu a parte da estrada do Pacífico (BR-317), que ficou conhecida no Peru, como Carretera Interoceânica, cortando a Cordinlheira dos Andes, chegou a anunciar que a rodovia seria a principal rota de exportação de produtos brasileiros, alavancando a arrecadação e promovendo os negócios locais.
O governo do Acre também fez uma festa com direito a honras de Estado, para receber a primeira carreta de produtos importados e transportados via Interoceânica, que chegou ao Estado no dia 1º de fevereiro de 2014. Na época, os quites de bicicleta elétrica saíram da China e levaram 60 dias para chegar na capital acreana. A viagem até Porto do Callo em Lima, no Peru, foi de navio e depois a carga seguiu pela Interoceânica até Rio Branco. Mais tarde, o interesse da importação foi revelado, quando a empresa que mantinha ligações com o governo petista, venceu a licitação para vender bicicletas elétricas para o Estado. Mas o negócio acabou não sendo concluído, dado as denúncias de favorecimento a amigos do poder.
O governo anunciou ainda que a Carretera Interoceânica, estaria sendo usada para uma empresa transportar veículos para Peru e Equador, mas as dificuldades impostas pelo trajeto de subida das Cordilheiras dos Andes, logo provou que a rodovia não seria exatamente uma rota de passagem de carretas cheias de mercadorias. Aos poucos o sonho de desenvolvimento econômico com passagem pela estrada foi sendo deixado de lado até mesmo por empresas locais que se instalaram com objetivo de explorar o potencial turístico. O corredor só foi usado com assiduidade na época que as águas do rio Madeira isolaram o Acre do resto do país.
Estes e outros episódios que marcaram a propalada estrada da integração, que ficou nos discursos por longos anos, antes de ser concluída oficialmente pelo país vizinho, suscitam o seguinte questionamento: A Ferrovia Bioceânica é o novo sonho de desenvolvimento para o Acre ou embuste político para manutenção de poder dos governos petistas?
Políticos locais já levantam a possibilidade dos possíveis investimentos que o governo chinês possam ser usados como a bandeira política do partido que mantém a hegemonia do poder há 17 anos, mantendo o foco nas propagandas que colocam o Acre como referência para o resto do Brasil.
Jorge Viana anuncia o projeto antes da presidente Dilma Rousseff
De olho nos dividendos e benefícios políticos que a iniciativa poderia trazer e despertando novamente o sonho dos acreanos num novo projeto que poderá finalmente comprovar para o resto do país, que o Acre existe, o projeto que foi batizando incialmente de megaferrovia foi anunciado em primeira mão pelo senador Jorge Viana (PT), que não esperou o anunciou oficial da presidente Dilma Rousseff (PT). Empolgado com a assinatura do acordo entre Brasil, China e Peru, o parlamentar disse na tribuna do Senado, que a iniciativa estaria chegando como “uma das melhores notícias para o Acre e para a Amazônia brasileira”.
“A presidente vai anunciar a concessão para conclusão dessa obra porque já tem uma parte ligando o Atlântico, no Rio de Janeiro, até Goiás, que já avançou muito, mas o desafio agora é de Goiás até Lucas do Rio Verde, em Mato Grosso, depois a ligação segue por Vilhena e Porto Velho, em Rondônia, Rio Branco e Cruzeiro do Sul, no Acre, saindo para o Pacífico em Boqueirão da Esperança, na fronteira do Brasil com o Peru”, disse Viana, ao destacar a importância do empreendimento, especialmente para o Acre. O petista disse também que esta é uma ótima notícia para o governador Tião Viana, para prefeitos e para todo o povo acreano.
A mídia em primeiro lugar
Antes de ser apresentado qualquer estudo de viabilidade, Jorge Viana tratou de fazer a propaganda da ferrovia. “Vou promover, tão logo seja anunciado pela Presidenta Dilma, um seminário em Rio Branco e outro em Cruzeiro do Sul sobre esta ferrovia. Com a equipe do meu gabinete, vou fazer um debate para que todos tomem conhecimento do projeto. Esta é uma maneira de compartilhar com as autoridades locais e com a sociedade este empreendimento que é um dos mais importantes para o desenvolvimento do Acre e do Brasil. Fica o meu agradecimento e o meu reconhecimento à Presidenta Dilma”.
Jorge contesta análise de inviabilidade
Após a divulgação da análise que atesta a inviabilidade da Ferrovia Bioceânica, passando pelo Acre, o senador Jorge Viana, que num passado recente, se negou a assumir o discurso de seu partido que colocava seus críticos como a “elite branca”, assumiu, tardiamente, a bandeira que justifica a defesa dos fatos que contrariam os projetos das administrações, desqualificando os argumentos contrários como “preconceito de uma elite que parece não querer que as regiões Norte e Nordeste do País deixem de ser deficitárias em todos os indicadores sociais e econômicos”, dispara o parlamentar na tribuna no Senado.
Na tentativa de desqualificar a reportagem do jornal O Estado de São Paulo, Viana questionou a veracidade dos fatos e dos “especialistas decretaram que o projeto é inviável. Acontece, porém, que a fase do projeto ainda é embrionária e já nessa fase há uma crítica que beira o preconceito contra essa ideia, pois tentam vincular essa ferrovia ao trem-bala; tentam vincular essa ferrovia a projetos que não tiveram sucesso no País. Essa ferrovia é uma intenção, é um propósito, uma cooperação da China com o Brasil e com o Peru, mas ela não interessa a essa elite poderosa brasileira”, ressalta o líder petista.
Jorge Viana, que também mudou o discurso em relação à BR-364, estrada que está em obras há quase 40 anos, no Acre, ressaltando que estrada nunca vai ser concluída, sempre vai ter que ser refeita após cada período invernoso, culpa os discursos da oposição pela divulgação da possível inviabilidade da Ferrovia Bioceânica. Para ele, “um dos que continuam olhando no retrovisor é o candidato derrotado Aécio Neves. A eleição ficou para trás. A presidenta Dilma foi eleita, reeleita e agora está fazendo aquilo que a sociedade cobrava que é apresentar seu plano de trabalho”, acrescenta o senador.
“É uma das poucas coisas boas que o PT fará pelo Acre”, diz o tucano Rocha
Ele afirma que o projeto defendido pela União e pela diplomacia chinesa, pode ser a única saída real de progresso para o Acre, “um estado que tem serias limitações na questão ambiental, não tem indústrias de transformação e conta apenas com as benesses dos recursos federais . Eu tenho que acreditar que esta ferrovia irá sair do papel, por mais que seja um projeto que demore décadas para ser implementado. O senador Jorge Viana, não pode fazer este discurso falso que a oposição e os estados mais desenvolvidos economicamente tratam nosso estado com preconceito. Isso não é verdade”, enfatiza Major Rocha.
O parlamentar informa que vai aproveitar o momento de euforia em torno do projeto da Ferrovia Bioceânica, para apresentar um projeto que contribuirá com as pretensões de crescimento do Estado. “Estou com o projeto de criação de uma zona franca em Cruzeiro do Sul. Desta forma, poderemos abrir espaço não apenas para comércios como prevê a Área de Livre Comércio, aprovada e nunca implantada no município. Se tivermos mesmo esta ligação ferroviária, vamos atrair industrias de transformação interessadas no mercado asiático, que estarão neste corredor de exportação criado pelo empreendimento”, destaca o tucano.
Gladson Cameli diz que Viana tenta fazer politicagem
Para Cameli, o senador petista deveria tentar esclarecer a população do Estado, sobre os tramites burocráticos que envolvem o licenciamento de uma obra de grande porte. “Ao invés de confundir o povo, fazendo uma guerra política usando como pano de fundo, um projeto que ainda está nas boas intenções do governo brasileiro e do governo chinês, ele poderia explicar que os estudos de impacto ambiental de uma ferrovia desta dimensão poderão demorar mais de dois anos. Não é bom tentar jogar a população contra os adversários, usando artifícios desta natureza. Todos trabalhamos para o bem no nosso Estado”.
Para Gladson Cameli, quando todos os tramites burocráticos estiveram concluídos, o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), poderá estar no final, antes mesmo do início das obras. “Apoio integralmente este projeto, mas não vendo ilusões que ele vai acontecer num curto prazo. Estou torcendo para que todos os acordos firmados saiam integralmente do papel, mas esta é uma obra continental. Além de extensa, envolve questões burocráticas bem complicadas. Os estudos serão demorados, o processo de licenciamento deverá passar pela análise de cada estado que a ferrovia vai cortar”, finaliza o senador.
Líder do governo na Aleac afirma que construção da ferrovia levará até 20 anos
O líder do governo na Aleac, deputado estadual Daniel Zen (PT) não concorda com a análise apresentada da reportagem do jornal O Estado de São Paulo. Para ele, o material divulgado não passa de uma “análise precipitada e superficial. O periódico tenta abordar de forma simplificada, pautas que requerem abordagem analítica profunda. A reportagem fez um corte raso sobre a questão, desprezando diversos aspectos que precisam entrar nesta questão. Pode ter sido um material confeccionado sem que a reportagem saísse da redação para levantar todas as questões econômicas pertinentes. Foi um reportagem medíocre”.
O petista não descarta que pode haver contexto político envolvido na abordagem realizada pelo jornal paulista. “Não enxergo como preconceito, mas como reflexo de uma visão pessimista que, mesmo diante das evidências empíricas de cooperação técnico-científica e financeira já celebrados entre ambos os países, se nega em crer que é possível inovar em transporte e logística em nosso país”. Questionado pelo tempo que as obras deverão ser executadas, o deputado diz acreditar “que seja um algo de longuíssimo prazo. Nada inferior a 10, 15 ou 20 anos”, opina o deputado estadual que defende a iniciativa.
Para petecão, petistas faltam com verdade quando falam da ferrovia
O senador Sérgio Petecão (PSD), que apoia o governo de Dilma Roussef, em Brasília, mas faz oposição ao partido da chefe do executivo, no Acre, muitos fatos ainda devem ser esclarecidos sobre a construção da Ferrovia Bioceânica. “Discutimos na Comissão de Infraestrutura (CI), a Ferrovia Bioceânica. Foram ditas algumas verdades totalmente diferente do que está sendo dito em nosso Estado. Pra se ter uma ideia, entre outras foram ditas pelo ministro do Planejamento Orçamento e Gestão, Nelson Barbosa, se quer se sabe onde a ferrovia vai passar em no Acre. O que existe é muita falácia”.
Vagner Sales defende o traçado da ferrovia passando por Cruzeiro do Sul
“Não podemos tratar esta importante questão como uma mera bandeira política de grupos que pensam apenas em se manter no poder. Estamos falando de um futuro promissor para o nosso povo. Esta ferrovia não pode ser tratada como projeto político do PT, temos que ter uma visão ampla, mantendo a certeza que os políticos passam, mas os benefícios precisam ficar para as gerações futuras”, disse o prefeito de Cruzeiro do Sul, Vagner Sales (PMDB), ao repudiar a abordagem política de Jorge Viana, ao afirmar que os opositores de seu partido estariam trabalhando para impedir a construção Ferrovia Bioceânica.
O peemedebista defende o traçado da ferrovia passando pelo município de Cruzeiro do Sul. “O projeto de construção estrada do Pacífico contemplou o Alto Acre, nada mais justo que desta vez, todos os municípios do Vale do Purus e do Vale do Juruá sejam contemplados. A região também ajuda, já que as características geográficas favorecem o acesso ao Peru. Esta será a oportunidade para um desenvolvimento igualitário dos municípios do Acre. Sem contar que poderemos implantar a tão sonhada Área de Livre Comércio. Este projeto depende de união, não de guerra partidária como Jorge Viana quer fazer”.
Ministro de Dilma não sabe onde ferrovia passará no Acre
Nem mesmo o ministro de Orçamento, Planejamento e Gestão, Nelson Barbosa, sabe onde a ferrovia, que será construída pelos chineses no Brasil, passará no Acre. A informação foi dada pelo senador Sérgio Petecão (PSD-AC), após perguntar ao ministro, durante reunião da Comissão de Infraestrutura do Senado, sobre a obra. Petecão concluiu que há muita “falácia” política em torno da construção da ferrovia.
“Na comissão de Infraestrutura discutindo a Ferrovia Bioceânica. Foram ditas algumas verdades totalmente diferente do que está sendo dito em nosso estado. Pra se ter uma ideia entre outras , foi dito pelo ministro do planejamento orçamento e gestão Nelson Barbosa, se quer se sabe onde a ferrovia vai passar em nosso estado. O que existe é muita falácia”, disse Petecão hoje pela manhã em sua página no Facebook.
A construção de uma ferrovia para ligar o Brasil ao Oceano Pacífico, passando pelo Peru, chamada de Ferrovia Transoceânica, foi anunciada no mês passado pelos governos da China e do Brasil. Rapidamente, políticos governistas do Acre trataram de informar que a obra passaria ao lado da BR-364, no sentido Cruzeiro do Sul. Outro mapa da obra mostra a ferrovia saindo do Rio de Janeiro e passando pelo Acre só que pela BR-317. Seria paralela à Estrada do Pacífico.
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