Texto: Dulcinéia Azevedo
Fotos: VALCEMIR MENDES
ARTES – Roberto Vaz
O ano é 1945. Estado do Paraná. Um fenômeno até então estranho, porém real, vai mudar para sempre o rumo da vida do casal de mineiros Aristóteles e Rosa e de seus treze filhos. As crianças estão dormindo. A mulher e o marido também se preparam para o repouso noturno, quando Rosa é acometida por uma crise súbita de asma.
A doença respiratória aguda nunca havia se manifestado antes, mas Rosa conhece bem, em decorrência das constantes crises da mãe dela, Dona Liceria Cardeal da Costa, que permanecia vivendo em Minas Gerais e não se conformava com a distância da filha, do genro e dos netos.
O casal fixou residência numa pequena comunidade rural. Vive cercado pelo mato. Um médico naquelas circunstâncias era praticamente impossível. Rosa piora com o passar dos segundos. Pele arroxeada, sem oxigênio, as palavras não saem mais. Aristóteles decide recorrer a benzedeira da localidade, que prontamente vai atender ao chamado desesperado.
O que o casal e nem a própria benzedeira sabiam é que esta era médium passista. Em virtude disso, ao impor as mãos em oração sobre a cabeça de Rosa, de forma inconsciente, praticou o Passe Espírita e recebeu o espírito que estava na mulher, passando esta, a sofrer do ataque de asma.
Aristóteles assiste a tudo procurando uma resposta para o que estava acontecendo. A partir daquele momento, se inicia uma conversação e o espírito se apresenta como a mãe de Rosa, Dona Liceria, de 70 anos, que havia ficado em Minas Gerais.
– Rosa, sou eu, Liceria, a sua mãe – disse o espírito para o espanto do casal. Ao tempo que Rosa indagou:
– A senhora morreu?.
E a mesma retrucou:
– Não, eu vim te ajudar a cuidar dessas crianças.
Por um breve momento houve uma discussão.
Rosa disse a mãe que ela não podia ficar, que ela precisava de cuidados especiais e que o melhor é que fosse morar com o filho caçula, que era fazendeiro, tinha boa condição, recém casado, não tinha filhos e podia lhe oferecer os cuidados necessários.
A contragosto, o espírito se despede e vai embora. Não existe telefone na localidade, nem telégrafo. A única forma de obter notícias é através de cartas, trazidas pelo trem de quatro em quatro dias.
E passada uma semana as suspeitas se confirmam. Chega uma correspondência de um dos irmãos de Rosa, informando a morte da mãe, durante uma crise de asma, no mesmo dia e hora que o estranho fenômeno aconteceu na residência do casal.
E mais: o irmão, a que Rosa indicou para a mãe ir morar, tinha apresentado a mesma crise, duas horas após a morte da matriarca, mas recebeu atendimento e passava bem.
A constatação atiça a curiosidade de Aristóteles. É trabalhador rural, todavia, letrado. Com o colegial completo desenvolveu o hábito da leitura. Tem bom entendimento e gosta de se informar.
Confuso com tudo que havia acontecido, vai a cidade em busca de explicações e conhece um delegado que entende um pouco sobre o espiritismo e lhe entrega o endereço de uma editora no Rio de Janeiro, que fornecia livros sobre o tema.
Rapidamente faz um resumo do ocorrido e solicita informações que ajudem a sua família a entender a situação. Não demora e recebeu os cinco livros básicos da doutrina espírita e, a noite, após o jantar, reúne a mulher e os filhos em volta da mesa e inicia a leitura dos exemplares.
Começava ali a missão de José Furtado de Medeiros [conhecido carinhosamente pelos acreanos como Doutor Medeiros], nascido em Monte Santo, na divisa de Minas Gerais com o Paraná, em 03 de abril de 1938. Quando os pais decidiram deixar Minas, José tinha apenas dois anos de idade, e sete quando a avó materna desencarnou e foi em espírito ter com a filha no Paraná.
– Minha avó não sabia que havia morrido. A morte é um sono. Uma troca de roupa. Então a partir das leituras de meu pai passamos a compreender isso. Ele descobriu que há uns 10 quilômetros de onde a gente morava havia um senhor português que fazia trabalho espírita. Ele tinha muitos livros. Ai meu pai colocou eu e meus irmãos para estudar, assim nós viramos espíritas e por causa do espiritismo virei médico -, conta.
Apesar de ter conhecido o caminho da luz aos sete anos, José Medeiros demorou alguns anos para descobrir qual era a sua real missão nessa vida. A doutrina espírita lhe ensinara a tratar a todos como irmãos e que uns deviam cuidar dos outros, como prega o evangelho.
Até os quinze anos, auxiliou os pais na agricultura e fazia planos para cursar a faculdade de Engenharia.
– No Paraná tinham muitos japoneses. E eles são mais esforçados do que a gente, se dedicam a aprender, então eu tinha um amigo japonês muito bom em matemática e física, eu também era, estudávamos juntos e planejávamos prestar vestibular para Engenharia -, relata.
O que ele não sabia é que uma visita a um hospital público do Paraná lhe conduziria por caminhos que até então ele não imaginava.
– Eu nunca tinha ido num hospital. Então fiquei muito chocado com o que vi. Notei uma diferença muito grande no tratamento entre o pobre, o remediado e o rico, então decidi fazer alguma coisa, aquela cena de abandono não sai da minha cabeça até hoje -, confidencia.
Na sua ida ao hospital, Medeiros visitou uma enfermaria mista e se deparou com crianças, adultos e idosos em situação crítica de saúde, precisando não apenas de tratamento clínico, mas acima de tudo de doses diárias de amor, respeito, carinho, a cura física e também a cura da alma.
– Eu fiquei muito chocado porque eu também vinha de uma família numerosa e pobre, então decidi mudar meu rumo. Chamei o meu colega e disse que ao invés de Matemática ia estudar Biologia. Então, como eu era melhor nas exatas que nas humanas, eu demorei três anos para vencer a Biologia e passar no vestibular de Medicina, e não me arrependo -, garante.
José Furtado de Medeiros deixa então o Paraná, onde vivia desde os dois anos de idade com a família, e retorna a Minas Gerais para cursar Medicina, em Uberaba. Em 1968 segue para a capital federal, Brasília, onde dá início a residência médica e conhece lá o então secretário de Saúde do Acre, Dr. José Tomas Nabuco de Oliveira Filho- Dr. Nabuco, já falecido.
Ao contrário de muitos que visavam ganhar dinheiro fácil e rápido, Doutor Medeiros sempre teve um olhar diferenciado pelo Acre e os acreanos.
– Quando o avião deu uma rasante, eu me lembrei do Paraná e falei isso aqui é um lugar de futuro, isso aqui vai para frente e vai ser um lugar ótimo para se viver’ -, descreve como se retornasse no tempo.
Porém, nem todos que viviam aqui tinham o mesmo pensamento. O próprio secretário de saúde à época morava no hotel Chuí, onde hoje é a sede da Prefeitura de Rio Branco, e nunca sequer desarrumou a mala, estava sempre pronto para partir a qualquer momento. Estava no Acre a trabalho.
– Quando cheguei fui morar no hotel Chuí, encontrei o secretário de saúde lá com a mala e perguntei: O senhor não tem casa ou apartamento?
Ele disse não.
– Isso aqui não tem futuro, não vai para frente, vocês não invistam um tostão aqui.
Então falei:
– Não, o senhor está enganado. Na hora que a rodovia chegar isso aqui vai virar um lugar de progresso e vai vim muita gente -, relata.
Medeiros não gastou discurso à toa. Ele sabia que no Paraná, em Minas Gerais e São Paulo as terras eram muito caras e muita gente viria para o Acre atraída pelo baixo custo das terras.
– Eles viriam para cá comprar terra e depois vinham os hospitais, as escolas, o progresso.
Medeiros chegou em Rio Branco em 1969. Era especialista em cirurgia e anestesia, mas chegando aqui, por questão de necessidade e atendendo ao pedido do secretário de saúde, passou a atuar na pediatria.
– Quando cheguei tinha apenas um pediatra, era militar, ficava muito tempo fora, como no curso básico a gente faz seis meses de pediatria, foi uma questão de adaptação. Eu me dei bem com as crianças e fiquei diretor do antigo Hospital Infantil de Rio Branco por 30 anos -, informa.
No Acre de 1969, Doutor Medeiros se deparou com uma questão intrigante. O povo era pobre, mas as crianças que buscavam atendimento no Hospital Infantil não apresentavam desnutrição. Ao contrário, eram bem nutridas. Não demorou muito para ele descobrir que o segredo estava no leite materno. Por falta de recursos, as mães amamentavam os filhos até os quatro e cinco anos.
As doenças que acometiam as crianças na época eram a malária, por causa do mosquito, muito comum na região; verminose, que ocasionava um pouco de anemia; e pneumonia.
– As crianças que pegavam pneumonia acabavam morrendo desidratadas devido ao calor, e também tinha falta de vacina, mas ai com a chegada do soro da ONU, soro caseiro, e a sua difusão, o quadro começou a mudar -, explica.
No ano de 1973, uma epidemia de meningite causa pânico na população acreana. Uma média de três a quatro óbitos eram registrados todos os dias. Foi assim durante um período de três meses.
– O hospital ficou lotado de crianças, adultos, idosos, morreu muita gente -, relembra entristecido.
Lembra ele que eram tantos pacientes, que num dos atendimentos, o médico esqueceu de colocar a máscara e o liquido retirado de uma garota de 13 anos, caiu dentro da boca dele.
– Ela estava com meningite fulminante, morreu dentro de duas horas, mas eu tomei drogas preventivas e me livrei da contaminação -, conta aliviado.
Durante a epidemia, Medeiros contou com a parceria do médico Augusto Hidalgo de Lima.
– Eu fazia as pulsões e ele o esquema das drogas para ministrar nos pacientes. Ele passava o dia inteiro no Hospital de Base para dá conta de tanta gente. Hidalgo morreu pobre, não visava riqueza, era estudioso e atualizadíssimo -, afirma.
Nosso personagem registrar os nomes de outros médicos, in memoriam, que deixaram suas cidades para trabalhar no Acre, e que atualmente batizam postos, centros de saúde e até bairros de Rio Branco, como: Barray e Barral, Ari Rodrigues e Laélia Alcântara.
– A Laélia trabalhou comigo, veio do Rio de Janeiro, era pediatra e obstetra, mãe de família, tinha uns 10 a 12 filhos. O Barral era muito brincalhão, não ligava para dinheiro, era da Bahia e pessoa muito bondosa. O Ari estava numa fase decadente quando cheguei, no final da vida começou a beber, pegou cirrose e morreu pouco tempo depois, mas trabalhou muito, dizia que a sua especialidade era a Tudologia, pois atendia criança, adulto, idoso, era o que vinha -, relembra rindo da difícil situação da época.
No final da década de 70, já superada à epidemia de meningite, muitos óbitos de crianças continuavam sendo registrados no Estado do Acre. Por conta da falta de trafegabilidade das estradas vicinais, as famílias ficavam isoladas no período invernoso e não tinham como trazer os filhos para tratar de doenças como sarampo e pneumonia.
– Morria muita criança. Povo desinformado achava que os médicos eram culpados, todavia, na maioria dos casos havia pouco o que fazer. Lembro de um caso de uma família de 12 filhos pequenos que pegaram sarampo. Desses sete também tiveram pneumonia. Era época de chuva e não deu para os pais trazerem as crianças para fazerem tratamento -, observa.
Cessada as chuvas, a mãe se deslocou para a cidade trazendo consigo cinco das crianças doentes. O estado era grave. O médico pergunta por que, ela não tinha trazido as crianças antes e que havia pouco a fazer pelo avançado estado da doença. Após examinar todas, disse que das cinco talvez conseguisse salvar três.
E para espanto do Doutor Medeiros, a mãe responde:
E infelizmente, como previsto pelo médico, apenas três se salvaram.
– Então eu percebi que as pessoas ficavam anestesiadas pelo sofrimento. A morte era um alívio para muitas famílias e assim morreram muitas crianças -, constata.
E foi nesse período que Doutor Medeiros percebeu que morriam muitas crianças vítimas de acidentes domésticos. Afogadas, mordidas por animais, queimadas, eletrocutadas, porque ficavam a maior parte do dia sozinhas, enquanto suas mães trabalhavam.
– Precisava ajudar mais, então me veio a idéia de construir uma creche para abrigar as crianças que as mães precisavam trabalhar fora e não tinham com quem deixar os filhos -, informa.
Com esse propósito é fundada em 1980 a primeira creche da capital acreana, a Creche Espírita Lar da Criança, localizada na Travessa Campo do Rio Branco, nº 400, ao lado da Federação Espirita do Acre.
O terreno foi comprado e doado pelo próprio Doutor Medeiros, que ainda custeou 50% da obra. Os outros 50% foram bancados por um sócio especial, o Manoel Alves de Souza, saudoso Manduca, já falecido, que à época era fazendeiro e dono da Construacre Material de Construção.
– Ele virou espirita por causa de problemas de saúde e ajudou muito a manter o nosso trabalho social. Nos quinze primeiros anos as despesas foram mantidas por ele e eu. Recebemos muitas ofertas de ajuda de políticos, mas como a creche ainda não estava com a documentação em dia, perdemos muito dinheiro por causa disso -, revela.
Atualmente, com a documentação em dia e os devidos registros, a rede de colaboradores é extensa e a creche funciona regularmente sem problemas.
– O próprio governador Tião [Sebastião] Viana e a sua esposa, o prefeito, sempre nos perguntam se estamos precisando de alguma coisa, e o que falta a gente complementa -, assegura.
O terreno onde hoje está construída a Federação Espirita, e que pouca gente sabe, um dia abrigou uma casa de umbanda, também foi doado por Manduca e foi graças as suas doações que foram erguidos os centos do Tucumã e Tancredo Neves.
O terreno da 6 de Agosto, onde funciona o centro espírita Amor e Caridade foi doado pela Dona Francis (Agroboi). Ela também é mantenedora da sopa que servimos aos idosos no local, registra agradecido.
Apesar de a Federação Espirita manter vários centros em Rio Branco e em outros municípios, para o Doutor Medeiros o trabalho mais importante está na creche. É para lá que foram direcionados os frutos do seu trabalho durante todos esses anos no Acre.
– Se eu não fosse espírita, provavelmente, eu seria igual a meus amigos, fazendeiro, dono de empresa, a minha fazenda é a creche, tudo que eu ganhei, tirando o necessário para a minha sobrevivência e da minha família, eu investi lá -, assegura.
– Certa vez, foi realizado um congresso de Pediatria aqui em Rio Branco e numa conversa com um professor de Curitiba ele me indagou: você deve ser dono de uma grande fazenda aqui no Acre? Respondi sim, vou mostrar ao senhor, é bem pertinho… ai levei ele na creche.
De acordo com Doutor Medeiros, o episódio foi marcante para ele e para o professor. Quando eles chegaram no local, as crianças haviam acabado de almoçar e estavam na sala de descanso, tirando um cochilo, deitadas em suas toalhas estendidas ao chão.
– Ai ele começou a chorar, pediu para fazer fotos e disse que iria mostrar nos congressos que participasse pelo Brasil -, relata feliz.
A creche, que inicialmente atendia 150 crianças, de zero a seis anos, hoje recebe 130, na faixa etária de dois a quatro anos, em horário integral, de segunda a sexta-feira. No local, além de alimentação, instrução, atendimento médico e odontológico, elas recebem amor e muito carinho.
Doutor Medeiros ressalta ainda que a creche não faz distinção de religião. A única exigência para o ingresso é que a criança seja realmente necessitada e que não tenha com quem ficar para a sua mãe trabalhar.
– Aqui não temos religião para as crianças, ensinamos uma doutrina cristã que é para todo mundo. Também não perguntamos na ficha de matricula se tem religião, perguntamos se tem necessidade, é para os necessitados – faz questão de deixar claro.
A seleção acontece todo início de ano, no mês de janeiro.
– Contamos com a ajuda de uma assistente social para selecionar as crianças que realmente precisam, explica.
O atendimento médico é mantido pelo próprio Doutor Medeiros e o odontológico pelo Dr. Lira, militar aposentado, que além do trabalho voluntário custeia do próprio bolso os materiais utilizados nos tratamentos. O dentista Luciano Zago também atende como voluntário na creche. O atendimento também é estendido as mães das crianças.
A diretora da creche também atua de forma voluntária, já os professores e demais servidores são todos remunerados, fazendo jus a todos os benefícios que a lei os assegura.
E lá, na sua creche Lar da Criança, que o Doutor Medeiros diz viver os melhores dias de sua vida, e revela, por lá já passaram muitos advogados, contabilistas, empresários e tantos outros profissionais.
– Infelizmente não conseguimos atender nem 10% das pessoas que nos procuram. As pessoas reclamam e a gente explica. Não podemos salvar todos, mas seguimos salvando alguns -, observa com certo ar de tristeza.
– Muita gente conhece o evangelho, ler e não absolve, não se conscientiza. Por herança genética e social, o ser humano é muito ligado ao materialismo, então em todas as religiões nos querendo ver as coisas imediatas, nós pensamos pouco no futuro -, diz, convidando as pessoas a um momento de reflexão.
Hoje, aos 77 anos, aposentado há seis, Doutor Medeiros mantém os hábitos simples que adquiriu quando ainda criança, quando vivia ao lado dos pais e dos irmãos numa comunidade rural do Paraná.
Vive num apartamento modesto na capital ao lado da esposa Vera Lúcia, com quem contraiu matrimonio ao vir para o Acre e cujo padrinho de casamento foi o então governador Jorge Kalume.
– Ele ficou tão satisfeito com a nossa permanência aqui que se ofereceu para padrinho de casamento -, conta ele, entretanto, em nenhum momento da entrevista demonstra simpatia política por este ou aquele partido.
Da união nasceram três filhos, um mineiro e dois acreanos, um médico, um odontólogo e um economista.
E quem foi que disse que a aposentadoria parou o bom doutor. Ao contrário, ele acelerou ainda mais o ritmo de trabalho, e sob as críticas de alguns colegas mantém atendimento voluntário nos centros espiritas e também em alguns centros de saúde da capital.
Na terça-feira de manhã, o atendimento voluntário é no Posto de Saúde da Vila Ivonete, no horário da manhã, na área de pediatria. A fila de espera é longa, mas ele atende pacientemente a todos que necessitam.
– Tem poucos pediatras, estou bem, nunca fumei, nem bebi, faço um check up uma vez por ano, enquanto estiver precisando eu estarei aqui -, diz sorridente.
Na terça à noite, o atendimento é na seis de agosto, a partir das 19h. Só que em virtude do horário, o atendimento médico ocorre no Centro Espírita Amor e Caridade, ao lado do centro de saúde, e é voltado para idosos.
Na quinta-feira, no ambulatório do centro de saúde do Aeroporto Velho, quando conta com a ajuda do também voluntário, o ortopedista Dr. Vinicius.
– É um quebra galho, nós damos receita para hipertensos, diabéticos e encaminhamentos para aqueles que não tem tempo de enfrentar as filas da madrugada.
No domingo, enquanto a maioria descansa e curte aquele cochilo após o almoço, Doutor Medeiros inicia a partir das 15h, o atendimento no bairro Cidade Nova.
– Lá nossa prioridade é o idoso, estamos lá todo domingo, há 30 anos, sem falhar uma semana – , declara sorridente, e conclui – o limite do trabalho é o limite da força. Enquanto eu tiver força vou manter os atendimentos. Se duvidar eu fico mais feliz do que o próprio paciente.
Questionado por que nunca ingressou na política, haja vista seu grande legado social, ele responde:
– Sou uma mão de obra, nasci para trabalhar, a política ficou para pessoas que saibam administrar.
É evidente que os convites surgiram, e não foram poucos, mas todos recusados.
– Fui convidado várias vezes, porque o médico fica logo conhecido, então é fácil arranjar votos, mas eu tenho que fazer aquilo que sei. Eu seria um péssimo político, então fui um médico regular – , diz mostrando humildade.
Todavia, do seu jeito simples, ele nunca deixou de dar a sua opinião em prol da melhoria da coletividade e cita duas oportunidades que tentou, mas infelizmente foi vencido pela falta de vontade política dos governantes da época.
A primeira foi logo quando chegou aqui. Estavam abrindo ruas no centro da cidade. Então, ele sugeriu que ele alargasse as ruas porque elas estavam muito estreitas, e ficou frustrado com a resposta que obteve:
– isso aqui não vai prá frente, eu vou colocar uns tijolinhos aqui para dá uma melhorada.
– O engenheiro era meu amigo, me mostrou as plantas, então eu disse rapaz cria vergonha, faz um negócio melhor, alarga essas ruas para três carros. Ele foi no governador e pediu autorização para mudar o projeto, mas este disse que não, pois o dinheiro que veio só dava para aquilo mesmo.
Doutor Medeiros ficou indignado, até pelo conhecimento que tinha na área de engenharia.
– Os dois conjuntos podiam hoje ter ruas amplas e o povo ter mais liberdade, ao invés disso, vivem espremidos por falta de espaço – , critica.
E durante todas essas décadas de trabalho, o médico manteve a sua postura de independência e nunca deixou de fazer sugestões aos pacientes famosos que passaram pelo seu consultório.
– Muitos daqueles que estão hoje com 55 e 60 anos foram meus pscientes -, constata.
Em defesa da profissão
– O médico quer obter êxito, ele não quer errar de jeito nenhum. A maioria dos casos de erro médico que se faz divulgação, na verdade é acidente de trabalho. A alegria do médico é dá alta ao paciente -, declara doutor Medeiros em defesa da profissão.
Como todo profissional, ele já passou pela experiência de perder uma vida enquanto estava tentando salvá-la, e assegura que a equipe sofre igual ou até mais que a família, porque a cobrança em torno do médico é maior.
Situações que aprendeu a lidar desde logo ainda no período de residência médica e nunca deixou de dizer a seus pacientes que qualquer pessoa está paciente de óbito.
– Qualquer um de nós pode morrer, Deus leva na hora que ele achar que deve levar e ninguém e insubstituível. Como espirita estou convencido que para o indivíduo a vida continua após a morte, e a possibilidade de comunicação com essa criatura que já morreu é um consolo.
Como exemplo de consolação, ele cita o caso de um homem que chegou ao hospital com a mulher em estado grave e, em desespero, recomendou ao médio, seu professor, que esta não podia morrer porque o casal tinha 12 filhos. Não teve jeito, o coração da paciente parou e ela foi a óbito durante a cirurgia de emergência.
Quanto as acusações de erro médico, ele sai em defesa de um colega de profissão, já falecido, mas que segundo ele foi alvo de críticas infundadas.
– O Queiroz foi um grande médico [legista do IML do Acre que morreu de acidente], não deixava ninguém sem atendimento; o pessoal falava que ele deixava sequelas, mas depois fizeram ume estudo e ficou comprovado que a média de sequela por cirurgia ortopédica é de uma a cada dez. Ele operava 100 e deixava duas, três sequelas, na verdade foi um herói.
E dos muitos amigos que perdeu no exercício da profissão, um caso em especial, lhe marcou bastante, a morte do ginecologista obstetra Luiz Cachapuz.
– Ele morreu dentro do hospital, em frente ao centro cirúrgico, do lado da UTI, do lado do posto de saúde, sozinho, sem ninguém ver, relata entristecido.
No dia da morte, os dois haviam realizado oito cesarianas e encerrado os trabalhos por volta de meia noite.
– Eu era anestesista dele. Terminou as cirurgias ele foi para o repouso e pergunte se ele não iria me chamar mais naquela noite. Ele disse não, já limpamos o centro cirúrgico e eu vou dormir.
De acordo com o doutor Medeiros, Cachapuz fumava muito e comia bastante comida gordurosa, o que fez subir o seu colesterol e aumentar os risco de um infarto. Mas ele tinha iniciado o tratamento, todavia, mantinha o ritmo de trabalho.
– O infarto foi fulminante e desencarnou deixando o seu legado -, declara.
Para o Doutor Medeiros não existe ninguém ateu. O que existe é o indivíduo que está com o bolso cheio de dinheiro, a barriga cheia, vida boa, carro na garagem, ar condicionado.
– Ai ele é ateu na hora que não está precisando, mas na hora que a barriga dói, que o médico fala o seu caso é grave, ai ele procura o padre, o pastor, o centro espírita, ou ele mesmo faz uma prece pedindo para Deus não deixar ele morrer, justifica sua posição.
“Agradeço a ac24horas pela oportunidade. Todo mundo diz, os jornais, as tvs, os sites só mostram coisa ruim. Eu digo, não tem muita coisa boa, no Acre todo tem muita coisa boa, o povo tem que conhecer, a sociedade para viver bem precisa de harmonia e que cada um faça a sua parte”.
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