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Toinha: quituteira transforma banca de mercado em negócio de sucesso

Por
Ray Melo, da editoria de política do ac24horas


Qual o segredo então? Basta um segundo na presença dela para perceber. A magia está no sorrisão estampado no rosto. Na fala mansa, no caminhar tranquilo. No zelo com cada cliente, indistintamente. Impossível não voltar, ainda mais depois de provar a famosa, mistura de cuscuz, carne moída, ovo frito e picadinho de legumes, a baixaria.


Estamos falando da Antônia Maria Rodrigues Pereira, a Toinha do Mercado do Bosque, a quituteira mais alegre e mais famosa do Acre. Hoje, aos 59 anos de idade, dos quais 28 dedicados a sua clientela, ela se declara uma mulher realizada e revela uma façanha: formou dois médicos e uma fisioterapeuta com o dinheiro suado da sua humilde banca.


‘’Essa é a herança que eu vou deixar prá eles. O estudo, isso ninguém pode roubar. Eu não tive condições de estudar, mas Deus me deu saúde e coragem para ganhar o necessário para formar meus três filhos’’, diz orgulhosa.


Os filhos são Sara, Suelen e Aluzio Junior, frutos da união com o mestre em carpintaria Aluízio Alves Pereira, com quem celebrou matrimonio em 30 de julho de 1975 e está casada até hoje.


Uma trajetória
de luta e sucesso

Para compreender melhor a trajetória de luta e sucesso dessa mulher é necessário retornar ao dia 6 de fevereiro de 1956, quando nascia no Seringal Novo Natal, nas cabeceiras do Rio Iaco, em Sena Madureira, a primogênita do casal Raimundo Alves Rodrigues e Dalva Maria Rodrigues.


Ela mesma, Antônia Maria Rodrigues Pereira, a nossa Toinha, a primeira filha de um total de onze irmãos, seis mulheres e cinco homens. E como toda menina nascida no seringal, ela teve que encarar a roça para ajudar no sustento da família que vivia basicamente da agricultura.



Vida no seringal

‘’O meu pai trabalhava na extração da borracha e na agricultura, mas a gente não via dinheiro porque ele trocava tudo por mantimentos, foi essa a vida que eu tive até os 18 anos, trabalhando duro para sobreviver’’, lembra.


Por ser a filha mais velha, Toinha trabalhava ao lado dos pais para manter a casa, o que a impossibilitou de prosseguir nos estudos, só tendo cursado até a quarta série do primário.


A primeira vez que pisou na cidade tinha 18 anos. E aos 19, deixou sua terra natal, Sena Madureira, para se casar com Aloizio Almeida Lima. Até então Toinha não tinha ideia do futuro que a vida na capital lhe reservava.



 


O inicio do negócio

Sem condições de constituir casa própria, o casal passou a viver de favor na casa da mãe de Aluízio. ‘’ E foi graças a Dona Alzira, minha sogra, que eu comecei a trabalhar no Mercado do Bosque’’, revela.


Segundo ela, o ano era 1986. Dona Alzira era proprietária de uma banca no mercado e precisou se ausentar para acompanhar a filha a tratamento de saúde. ‘’Como eu morava com ela aceitei a missão e tomei conta da banca por um mês’’, diz.


O que Dona Alzira não esperava é que nesse período a sua clientela fosse se apegar tanto a Toinha e que não aceitasse mais que ela fosse embora. Diante das circunstâncias e das possibilidades de ter seu próprio negócio, Toinha não pensou duas vezes e saiu em busca do seu próprio ponto comercial.


‘’Nessa época fui informada que a banca da esquina estava fechada há três anos. Então fui à prefeitura em busca de informações do dono, o encontrei e fechei negócio. Trabalhei muito até me tornar a detentora da banca’’, narra.




 


Coragem e determinação

Nascia então uma história de sucesso. O pequeno espaço, pouco mais de 3m2, em pouco tempo se tornou o local mais frequentado nas madrugadas da capital. Todos queriam degustar as delícias da Toinha do Mercado do Bosque.


‘’Não tinha água. O ambiente era apertado, só cabia eu, minha filha de 9 anos e o fogão. Para lavar a louça a gente pegava água atrás do mercado e lavava dentro de uma bacia’’, lembra.



Os benfeitores

Foi então que apareceu na banca da Toinha, o vice prefeito de Rio Branco, à época, Carlinhos Santiago e lhe fez uma promessa: ‘’Se o prefeito Jorge Kalume se ausentar por algum motivo e eu assumir prometem que resolvo o problema d’água de vocês!’’.


Para felicidade das donas de bancas do mercado, Jorge Kalume viajou, Carlinhos assumiu e todas as bancas ganharam torneiras e a água está jorrando até hoje. A segunda melhoria veio na gestão de outro Jorge, o Viana. Este, além de revitalizar o mercado fez uma segunda entrada pela Avenida Nações Unidas.




O sucesso e alguns dissabores

O que a Toinha não imaginava é que o grande sucesso da sua banca fosse incomodar as cozinheiras mais antigas. ‘’Elas chegaram a organizar um abaixo assinado para me tirar do local, me acusavam de está atrapalhando o movimento delas, mas é tudo igual, eu não tenho culpa se as pessoas preferiam a minha, não posso expulsar os meus clientes’’, diz sorrindo.


E depois de quase três décadas de árduo trabalho, o pequeno espaço ganhou uma extensão de nada menos que 80 metros quadrados. Isso mesmo. A filha de 9 anos que a acompanhava, se formou em Medicina e para atender a clientela ela conta hoje com a ajuda de onze funcionários e mais cinco diaristas nos finais de semana.


Quando eu tinha só a banca, acordava todo dia à 1h da manhã para abrir as 3h. Agora, a gente vira direito, 24h, no final de semana, e abre todos os dias para servir o café da manhã.


Uma curiosidade revelada por Toinha é que, apesar do novo espaço, é a antiga banca que continua sendo o chama da clientela.‘’ Fiz um teste. Fechei a banca por uma semana e a clientela desapareceu. Então abrir de novo e mantenho das duas até hoje’’.


E como surgiu a famosa baixaria?

A ideia do prato foi do marido, que adorava comer cuscuz, carne moída e vinagrete. Mas o nome baixaria foi dado pelo saudoso jornalista Wilson Barros. Numa de suas coberturas jornalistas no local ele decidiu destacar o preparo do prato e perguntou a Toinha como se chamava.


‘’Eu falei que os clientes chamavam de vários nomes: espinafre de Moscou, boi ralado, mexidinho, mexidão. Ai ele disse, nada a ver, tem que ser baixaria. O cuscuz é forte, a carne é forte, ovo frito é forte, então tem que ser baixaria’’. Wilson acertou na escolha e o nome junto com os ingredientes caíram na graça e no gosto de povo.


E para apreciar o prato típico acreano, vários famosos já passaram pela banca da Toinha, dentre eles, o presidenciável Ciro Gomes e sua esposa Patrícia Pillar, a atriz Regina Casé e o ex-BB Calboy.


Por lá também já passaram os três governadores da frente popular: Jorge, Binho e Tião, dentre outras personalidades do Legislativo e do Judiciário.


Feliz com o que a vida lhe deu

Em 28 anos de trabalho, Toinha tirou férias apenas uma vez. Foi para Fortaleza, no Ceará, e enquanto o resto da família se divertia quem diria, ela adoeceu. ‘’Minha vida é isso aqui. Os filhos reclamam, gostariam que eu trabalhasse menos, mas não consigo, tenho que ficar de olho em tudo’’, confidencia.


E não duvidem da energia dessa mulher. O prospero negócio não para de crescer. Tudo é feito com muito carinho e amor. Para os que preferem a simplicidade e o ambiente natural, a banca da Toinha está lá, cuidada por outra Antônia, que já acompanha a patroa há dez anos.


Aos mais modernos, o novo espaço, com ambiente climatizado, e decoração caprichada. O local funciona como ponto de encontro de boêmios e intelectuais. Todos acompanhados pelos olhos atentos da Toinha.


 



 


 


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Ray Melo, da editoria de política do ac24horas

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