Revolução dos Cravos: o dia em que os militares garantiram a democracia

Foto: Sérgio Zaliz

A situação do Brasil é preocupante. Por onde se anda as pessoas perguntam sobre o que está acontecendo no nosso país. Por coincidência, estou em Lisboa, hospedado num hotel no Largo do Carmo, o mesmo local que, em 1974, aconteceu um dos episódios mais importantes da história política contemporânea de Portugal, a Revolução dos Cravos. Mas qual é o paralelo desse fato histórico português com o momento político brasileiro? No domingo, 15, aconteceram manifestações contra o Governo da presidente Dilma Rousseff (PT)  em todo país. Alguns mais radicais evocaram a interferência dos militares no processo, o que significa um baita retrocesso à democracia brasileira. Pois, aqui no Largo do Carmo, a ação dos militares foi justamente para derrubar uma ditadura que já durava mais de 50 anos em Portugal. Um grupo de capitães do Exército português mobilizou os subalternos que, por sua vez, se uniram a estudantes e sindicalistas para dar fim ao cruel regime de Salazar, sucedido por Marcello Caetano e, restabelecer a democracia portuguesa. Interessante que enquanto alguns no Brasil pensam nos militares para capitanearem outro regime de exceção a história revela qual a verdadeira função deles. Garantir a liberdade de cidadãos e cidadãs. Isso que aconteceu na Revolução dos Cravos, assim conhecida porque os manifestantes distribuíam flores aos militares fiéis à ditadura, é o inverso do que alguns radicais querem. Desejo que apesar de todos os problemas, a democracia seja preservada e possa evoluir corrigindo os erros do seu processo histórico.

A corrupção: a marca negativa
Conversando com pessoas na Europa não há mais como negar que infelizmente os sucessivos casos de corrupção constituem uma mancha na nossa história. O único caminho é extirpar o câncer da corrupção da nossa política para o Brasil realmente entrar numa nova era de bem-estar social.

Governo de coalizão
Na minha avaliação, a presidente Dilma só sobreviverá a esse processo social desencadeado com os protestos se conseguir unir todas as forças política do país. Deveria fazer uma espécie de trégua para garantir a governabilidade e a democracia brasileira.

Capa de proteção
O fato das Olimpíadas de 2016 serem no Brasil pode significar um alento para nós brasileiros. Entendo que não interessará à comunidade internacional que um evento tão importante aconteça num país desestabilizado politicamente. Ao contrário do que alguns petistas mais fanáticos andam dizendo, as nações mais poderosas do sistema capitalista, farão o possível para ajudar o Brasil nesse momento.

Boatos internacionais
Muitos brasileiros que moram na Europa afirmam que as eleições brasileiras de 2014 foram fraudadas. Não há como tampar o sol com a peneira. Existem muitos questionamentos sobre a eficácia e a lisura das urnas eletrônicas.

Reflexão
Na minha opinião e, posso parecer ingênuo, as urnas eletrônicas são mais eficazes do que o processo de escrutínio manual. Mas existe realmente um descrédito mundo afora a respeito da lisura do nosso processo eleitoral.

Nota positiva
O fato das manifestações não terem casos notáveis de violência é favorável. No entanto, a participação de alguns políticos nos atos me parece inconveniente. Não há como se negar que nunca houve uma eleição com tantos debates públicos através da mídia como em 2014. Então a hora desses políticos já passou.

Mágoas ao vento
A impressão de políticos que perderam as eleições, como é o caso do senador Aécio Neves (PSDB), e apareceram nas manifestações é de revanche. As manifestações populares transcendem a questão política partidária. Há realmente um sentimento de insatisfação do povo brasileiro que precisa ser atendido.

Reforma política
Diante de tantas desconfianças sobre o nosso processo eleitoral já caiu de madura a necessidade de uma Reforma Política urgente no Brasil. Os deputados e senadores deveriam se debruçar para criarem um sistema com credibilidade tanto para nós brasileiros quanto para a comunidade internacional.

A hora da mudança
O momento é para entender o sentimento popular e realizar as reformas desejadas pela maioria. Para isso acontecer é preciso humildade por parte dos nossos governantes. Afinal todo o poder emana do povo e para o povo. Essa máxima da democracia não pode ser contrariada.

Notícias do Velho Continente
Estou em viagem para participar da comemoração do Dia São José, em Santiago de Compostela, na Espanha, promovida pelo escritor brasileiro Paulo Coelho, no dia 19. Nas próximas colunas vou publicar conversas com personalidades brasileiras e internacionais ligadas à política, economia e artes. A tentativa será de traduzir a opinião do máximo de pessoas sobre esse difícil momento que o Brasil atravessa.