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O dia em que a vergonha se vestiu de paletó

Foi deprimente e vergonhosa a sessão da CPI da Petrobras, que ouviu o depoimento do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB). Todos os líderes, sem exceção, desfilaram argumentos manjados para defender o presidente, transformando a sessão da CPI num suspeito ato de desagravo.


A maioria o fez, porque Eduardo Cunha se transformou no cavalo de Tróia da República. Seu Partido emprega seis ministros no governo Dilma, mas, o presidente da Câmara Federal encurrala o Palácio do Planalto com mais rigor e mais competência do que Aécio Neves e todo o seu exército oposicionista.


Quantos aos líderes governistas, agiram sob o medo e o encurralamento. Foi deprimente. Podiam, pelo menos, fazer como o deputado Carlos Sampaio, líder do PSDB, que aproveitou os holofotes enquanto defendia Eduardo Cunha, e desmontou a denúncia contra o ex-governador Anastasia. E olha que Carlos Sampaio nem é de Minas Gerais. Era o que merecia também o governador do Acre, por sua biografia. É que, nessas horas, uma palavra vale mais do que um diploma.


No Acre, todo mundo já sabe, mas o Brasil ainda não ouviu a defesa do governador. Nas eleições de 2010, o PT nacional transferiu para a conta de campanha do então candidato ao governo do Acre, Tião Viana, o valor de 300 mil reais. Fez o mesmo procedimento com outros candidatos pelo Brasil afora. Todos esses procedimentos estão registrados e aprovados pelo TRE. No site do TSE, a gente pode comprovar a doação, do dia 28 de agosto de 2010.


De lá pra cá, parte da mídia vem tentando transformar em crime essa doação legal. Enquanto isso, Eduardo Cunha, acusado de receber 25 milhões de reais, foi aplaudido, canonizado. O irônico é que as empresas, que doaram ao PT nacional (que transferiu para a conta de campanha de Tião Viana), fizeram o mesmo com candidatos da oposição, no Acre e no Brasil.


Em 2010, Tião Viana recebeu (via diretório nacional do PT) R$ 300 mil, da IESA Óleo e Gás S/A. Márcio Bittar recebeu R$ 240 mil, da Andrade Gutierrez e Bocalom recebeu R$ 100 mil, da UTC Engenharia, empresas que, se descobriu depois (em 2014), estavam envolvidas em atos ilícitos, vinculados a obras públicas, na Petrobras e nas elétricas (que breve virá à tona).


Quanto à Andrade Gutierrez, Paulo Roberto Costa diz que a empreiteira pagou propinas para o PMDB, sob o comando do lobista Fernando Baiano. Essa mesma empresa foi também a campeã de doações ao candidato Aécio Neves, do PSDB, repassando R$ 19 milhões, em doações legais, como fez a IESA Óleo e Gás S/A, em relação a Tião Viana.


E, nem por isso, seria ético vir aqui condenar Aécio Neves ou Márcio Bittar. Doação eleitoral, por dentro da conta de campanha e permitida por lei, é uma coisa e propina é outra coisa.


A UTC Engenharia é a empreiteira de Ricardo Pessoa, o poderoso líder do ‘clube do bilhão’, que, se fizer acordo de delação premiada com o MPF, estremecerá os alicerces políticos da República. Se alguém quisesse agir com maldade, já dava para colocar o líder oposicionista no olho do furação, mas, não seria ético, porque doação de campanha é uma coisa e propina é outra coisa.


Quem tem coerência não utiliza o erro dos adversários para legitimar os seus e nem nivela crimes com atos lícitos, não bota no mesmo saco a doação legal de campanha e a propina. Foi o que procuramos deixar claro aqui: Tião Viana recebeu uma doação legal de campanha e não pode ser misturado à lama de quem se envolveu com ilícitos.


É o que nós pensamos. No meio dessa política de guerra, nós não podemos abrir mão de defender o que precisa ser defendido ou, pelo menos, ser reconhecido, sejam amigos, sejam adversários, porque a ética é um valor universal, sem canga e sem sigla.


Tanto quanto os líderes oposicionistas, aqui citados, o médico Tião Viana está limpo, seguindo com a sua consciência ética. Essa é a regra da presunção de inocência. E a presunção de inocência se torna mais forte e irreversível, quando a biografia do acusado ajuda, por ser aberta, ética e corajosa.


O contrário disso, é presunção política.


Moisés Diniz é membro da Academia Acreana de Letras e autor do livro O Santo de Deus (Editora Bagaço).


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