O dólar fechou, nesta sexta-feira, cotado a 3,24 reais, uma alta de quase 3%, em meio ao pessimismo com o cenário político e econômico brasileiro. Este é o maior patamar desde abril de 2003, ou seja, em quase 12 anos.
A forte oscilação é um movimento global nesta sexta-feira, com investidores precificando a subida dos juros nos Estados Unidos e o início da política de estímulo monetário na Europa. O euro também caiu ao menor valor em 12 anos em relação ao dólar. Contudo, no Brasil, a queda foi mais ampla.
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Para André Guilherme Pereira Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos, o cenário e o clima são ruins, influenciados pelas tensões políticas. Contudo, o economista acha exagero dizer que investidores fogem em manada do país. “Não há fuga de capitais como vimos em outros períodos”, diz.
Fontes do governo afirmaram, nesta sexta, que não haverá retirada de reservas internacionais para conter a disparada da moeda. Isso porque o Palácio do Planalto não acredita que o movimento se intensifique. A maior expectativa do mercado, contudo, é sobre a continuidade da intervenção do Banco Central no mercado cambial, por meio dos leilões de swap, ou seja, a venda de dólares no mercado futuro. Perfeito acredita que o BC não deverá prosseguir com o plano. “O câmbio está flutuando e tem que continuar. O câmbio faz parte do ajuste”, acredita, referindo-se ao “choque de realidade” que a economia brasileira vivencia neste início de mandato da presidente Dilma. “Acho que o BC vai agir via taxa de juros, para conter os ânimos e a inflação”, diz o economista.
A situação atual remete ao momento de instabilidade visto em 2003, no primeiro ano do governo Lula, quando o Banco Central teve de agir de maneira forte para conter a alta do dólar e impedir que ela impactasse de maneira irreversível a inflação. Diante do cenário de piora econômica, a Gradual alterou sua projeção para a taxa básica de juros, a Selic, de 13,50% para 14,50% este ano.
Para o gerente de câmbio da Treviso Corretora, Reginaldo Galhardo, as incertezas no mercado doméstico disseminaram o pessimismo e ajudaram a cristalizar a avaliação do mercado de que o Brasil deixou de ser um local muito atrativo para investimentos – e isso impactou diretamente a moeda americana. “Não temos noticias boas pela frente. A instabilidade política e a não progressão das reformas fiscais interferem e podem resultar em um downgrade lá na frente. A situação está caótica”, alerta.
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Outro fator que influenciou a disparada do dólar, na avaliação do economista Robert Wood, da Economist Intelligence Unit (EIU), é o fato de o Banco Central não ter detalhado, na última ata do Copom, como o governo pretende responder à forte desvalorização da moeda americana. Há a expectativa de que a subida de juros se intensifique, mas Wood acredita que o BC precisava ter mostrado mais clareza em relação a isso, tendo em vista as preocupações com o avanço inflacionário. “Esse fato enfraqueceu a credibilidade da política monetária, de certa forma”, afirma o economista.
Na ata, o BC, além de destacar que a inflação tende a permanecer elevada em 2015, também retirou do texto a avaliação de que os preços entrariam em “longo período de declínio” ainda este ano. Com isso, sugeriu que os resultados que conseguiu nos últimos meses no combate à inflação ‘não são suficientes’.
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