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Cheia do Rio Acre é a maior catástrofe do século na Amazônia

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Da redação ac24horas

Os bairros de Rio Branco sofrem demasiadamente com a cheia do Rio Acre. Famílias tradicionais, que moram há dezenas de anos no Seis de Agosto são obrigadas a abandonar seus lares para refugiar-se em casa de parentes e amigos, ou nos abrigos públicos mantidos pela prefeitura e governo. A água tomou conta de tudo e, não bastasse a alagação em si, o transbordamento além da calha superior provoca perigosas correntezas capazes de arrastar embarcações e crianças na Avenida Seis de Agosto e ruas adjacentes.



Se o tema é impactos da alagação, o Seis de Agosto é emblemático. São comuns imagens de moradores desolados, sentados em qualquer lugar onde se possa mirar o nada, pensando na catástrofe que bateu à porta de casa, invadiu o lar e não reluta em expulsar mesmo os mais teimosos. “Quero sair”, disse com os olhos marejados de lágrimas a dona de casa Maria José, que abordou o presidente da Empresa Municipal de Urbanização de Rio Branco (EMURB), Jackson Marinheiro, para pedir-lhe socorro. Moradora da Travessa Praxedes, Maria José é uma das poucas que ainda permanecem em casa mesmo vendo o rio subir a níveis catastróficos. Às 20h desta terça-feira, 3, o rio cravou 18,24 metros, algo jamais visto pela população. Não há nada parecido com esse fenômeno na Amazônia neste século.


Com a elevação constante e severa, a mancha de água só pode ser mesmo acompanhada com tecnologia. Para isso, a Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Gestão Urbana (SMDGU) produz até três mapas por dia atualizando a mancha de água na cidade. Pelo mapa, construído utilizando o software ArcGIS, a Defesa Civil vê claramente as áreas alagadas, os mananciais que provocam determinada inundação e a dimensão do fenômeno. O ArcGIS é uma ferramenta que complementa o georeferenciamento. Com a sobreposição da imagem gereferenciada o software constrói o mapa da mancha de água em Rio Branco, facilitando a compreensão do fenômeno e abrindo possibilidades para enfrentá-lo. Não fossem instrumentos como esse, o monitoramento seria mais complicado.


Três pontes que ligam as duas partes da capital, o 1º e o 2º Distritos, estão interditadas. Duas delas por questões de segurança e a terceira por moradores que, com suas casas inundadas, exigem vagas em abrigos. Apenas a 3ª ponte está livre para circulação. Com isso, longos congestionamentos acontecem no Centro. O Governo e a Prefeitura prorrogaram o ponto facultativo nas repartições pública para até o fim de semana, mais uma medida para reduzir o movimento no centro da cidade e mobilizar o maior número de voluntários a serviço das famílias que estão afligidas pela cheia.


Toda a cidade sofre muito nestes dias de inédito caos. A ordem, em muitas frentes de serviço da Defesa Civil (só a Prefeitura criou oito pontos de atendimento aos voluntários e alagados, distribuindo água potável, alimento e remédio) era simplesmente “organizar minimamente o caos”. Assim mesmo, ninguém fica sem atendimento. “Demora um pouco, mas chega”, disse um voluntário que em situação normal trabalha para o Departamento Estadual de Estradas de Rodagem do Acre (DERACRE). Esses pontos de referência são coordenados por um secretário municipal, como o ponto da Seis de Agosto, localizado a 30 metros da cabeceira da 4ª ponte na Avenida Amadeo Barbosa, é gerenciada pelo presidente da EMURB.


Moradores que permanecem nas casas mesmo com a água acima de um metro, correm sérios riscos e sofrem com a falta de muita coisa, inclusive a energia elétrica. Por medida de segurança a Eletrobrás está cortando o fornecimento de eletricidades nas áreas alagadas. O prefeito Marcus Alexandre acompanha detalhadamente os serviços, visitando diariamente os bairros alagados, apoiando a coordenação nos pontos de referência e fazendo a análise dos dados da Defesa Civil –e alertando para os problemas que os moradores enfrentam ao ficar em casa diante da alagação iminente.


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Pontos tradicionais e mercados debaixo d´água


Localidades tradicionais que foram tomadas pelas águas, como o Calçadão da Benjamim Constant, tiveram a luz desligada. Ali estão mais de 200 comerciantes, levando-se em conta que a região agrega outros espaços, como o Mercado Aziz Abucater e as pensões Raimundo Benício de Melo, próximas ao Terminal Urbano, os quais também estão alagados.


Os mercados vivem um cenário de doer o coração. “Em 25 anos que trabalho na beira do rio nunca vi nada igual”, afirmou o comerciante Francisco Carlos Belarmino, dono da Comercial Beira Rio, instalada dentro do Aziz Abucater e completamente alagada. E esta é a segunda tragédia que ele vive desde que trabalha na orla do rio: há dois anos, ele viu seu comércio ser destruído pelo incêndio que acabou completamente com vários estabelecimentos localizados aos fundos do mercado. A Prefeitura está construindo novos boxes no local, também afetados nesta cheia sem precedentes. Os boxes abrigarão oficinas de conserto de motor de barco, uma de conserto de bicicleta e outra de consertos gerais. Os outros comércios foram realocados e acompanhados pela secretaria de agricultura, que é responsável pelos mercados municipais. “O problema é que nossa capacidade empresarial foi perdida no incêndio. Não podemos perder ainda mais agora”, disse Berlamino, lembrando que o prefeito Marcus Alexandre “foi um guerreiro” em favor das vítimas do fogo, mas qualquer outra melhoria esbarrou na burocracia dos bancos e agências de fomento. Seu colega e também vítima do incêndio de 2013, o mecânico de motor de barcos Renato Batista, está assustado. “Já vi bastante cheia, mas nunca imaginei que essa água fosse chegar aqui”, espanta-se em meio à oficina alagada. “De modo geral a situação está sob controle. Os permissionários foram todos avisados previamente e conseguiram remover suas mercadorias”, disse Juliana Alves, coordenadora dos mercados de Rio Branco pela Secretaria Municipal de Floresta e Agricultura (SAFRA).


O Mercado Flávio Pimentel, na Seis de Agosto, está debaixo d´água e o último comerciante a fechar as portas, Laucimar Souza já foi jornalista e agora vende farinha de mandioca no Segundo Distrito. Com uma pequena canoa, ele faz incursões esporádicas à loja que toca com a mãe no Flávio Pimentel e também vive a tensão do fenômeno: “Só Deus para nos ajudar”. O prejuízo está sendo grande, dizem os comerciantes.


Ruas encobertas pela água retratam dor e esperança



Adentrar aos bairros alagados é surpreender-se com o cenário diluviano. Ao percorrer de canoa as ruas tomadas pelas águas o observador testemunhará situações bizarras, como galinhas e patos junto com cães e gatos descansando nos telhados e gente sentada em cadeiras de balanço nas varandas com 1,5 metro de água. Em geral, ao serem questionados por que permanecem debaixo d´água respondem simplesmente “vou ficar”.


A Baixada da Habitasa, o Seis de Agosto, e a Baixada da Cadeia Velha são emblemáticos nesse quesito. Quem não saiu, teima em manter-se na casa alagada. “Aqui no Seis de Agosto fizemos cerca de 50 remoções de moradores retirando os móveis pelo telhado”, relata Jackson Marinheiro, presidente da EMURB.


A Loja da Deusa, cujo nome é o apelido de família de Deusimar Vieira, está tomada pelas fortes águas que cortam a Avenida Seis de Agosto. Há 45 anos trabalhando naquele local, dona Deusa construiu uma casa bem alta para escapar das enchentes. O problema, disse ela, é que a alagação atual é muito grande. “Espero que passe logo”, declarou.


 


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