Os últimos trinta dias tenho dedicado o meu tempo a me aproximar da alma educadora do povo do Acre. Durante vinte anos de mandato, por modelo mental, por agenda e até por descuido, fui me distanciando do cotidiano da Educação, de seus detalhes essenciais e de sua cumplicidade corporativa, necessária e vital para a vitória de nossas maiores conquistas.
Desde que assumi a nova função de secretário adjunto de Educação, como um aprendiz de mágicas utopias, venho tateando no escuro da minha bela profissão, que me deu dignidade, alimentou as minhas filhas e levou parte do meu mundo a ouvir minha voz e soletrar minhas letras.
Voltar à escola, suas salas de aula e pedaços iluminados de saber e de conhecimento, é como subir rios amazônicos, que escondem riquezas profundas e especiais, abraçar espíritos indomáveis da escrita e da oralidade, capazes de levar pela mão nossos filhos infantes e adolescentes.
De início, já posso dizer que me sinto profundamente incomodado por não ter percebido que vivi tempo demais sob luzes ilusórias e provisórias da disputa política, que te desumanizam e te tornam um operário de ideologias de grupos que se tornam máquinas, sob números eleitorais e disputas quase sem alma. Pelo menos, eu escrevi sobre isso no exercício do mandato (vide: http://agazetadoacre.com/noticias/moises-diniz-em-busca-da-alquimia-ideal-entre-a-politica-e-a-literatura/).
Nesse novo estágio de vida, como pássaro em migração, quero me desvencilhar de conceitos unilaterais e de parte, que empastelam o espírito e se tornam cartilhas, e navegar com mais liberdade no mar revolto da filosofia e do conhecimento humano. Serei um militante da humanidade.
De forma abrupta e sofrida, o povo do Acre me deu essa oportunidade. Vou aproveitá-la, como água em São Paulo, para corrigir erros no caminho, reencontrar espíritos de luta e de caminhada e ajudar na construção de uma Educação leve e especializada, que reconheça as inestimáveis conquistas dessa década e meia e avance para novos degraus e se consolide como modelo para a Amazônia, no acesso universal, na qualidade do ensino, na democracia na escola, no humanismo de nossos mestres e na possível e digna remuneração dos trabalhadores em Educação.
Nesses primeiros dias tenho encontrado solidariedade e espírito aberto dos dirigentes da Secretaria de Estado da Educação, diretores, coordenadores e, especialmente, do secretário Marco Brandão, um profissional de alto nível, mas, de jeito simples e conciliador, que não se deixa enclausurar na falsa redoma do poder e do conhecimento acadêmico.
De nossa parte, sob delegação do governador do Acre, dedicaremos tempo e energia em construir um poderoso e acolhedor movimento de erradicação do analfabetismo, que inclua no mundo das letras cerca de sessenta e cinco mil acreanos, das periferias das cidades, igarapés, ramais e aldeias indígenas.
Destes, cerca de trinta mil estão nas cidades e trinta e cinco mil nas comunidades rurais e indígenas. O governador Tião Viana vai coordenar uma luta para que, em 2018, a UNESCO declare ‘o Acre território livre do analfabetismo’.
Em 2000 o Acre tinha uma taxa de 24,5% de analfabetismo. Em 2014 essa taxa está em torno de 13%, demonstrando que os nossos governos e o nosso povo reduziram a exclusão alfabética em cerca de 11,5% nos últimos quatorze anos. Agora, Tião Viana que reduzir cerca de 13% do analfabetismo em quatro anos, uma luta de gigantes.
Esse é o nosso desafio, do governo e do povo do Acre, para que, nunca mais, ninguém passe pelo constrangimento de entregar sua senha para alguém tirar seu dinheiro no caixa eletrônico e a luz das letras possa embalar novos caminhos e resgatar autoestimas e sonhos.
*Moisés Diniz é secretário adjunto de Educação e membro da Academia Acreana de Letras.
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