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O “falso” Adão

Por
Roberto Vaz


Foi um enorme prazer rever um amigo de infância que, por longos vinte anos, não se fazia presente aqui no Acre. Hospedado em São Paulo, vive da pintura, poesia e de outras atividades com as quais aqui teria dificuldades. Estranho à estética corporal, o falso paulista cigarreia, e tem na voz uma rouquidão que logo imaginei ser advinda também da fumaça que chamusca o intrépido coração econômico do Brasil.


Tivemos tempo para uma longa conversa agradável e, de tudo que me disse, guardei duas coisas que nunca tinha dado muita importância: a cidade permanece e mudou bastante, no sentido de afastar para mais longe a miséria; e as coisas aqui ganharam novos nomes, estranhos aos que ele conhecia outrora.


É bem curiosa essa segunda constatação! Como forma de buscar legitimidade de projeto político, os que estão no poder, geralmente, buscam criar uma identidade, espécie de “ativo simbólico”, que seja capaz de dizer aos dominados o que se propõe representar ideologicamente.


Posso falar que estudei parte de minha vida estudantil em uma escola que recebia o nome de um general assassino e assistia aos aviões pousar num aeroporto com um nome bem cruel. Mas o leque é maior, podia se perceber que inúmeros bairros e outros monumentos sempre ganharam homenagens de modelos desprezíveis de pessoas públicas, cujos efeitos eram ostentar onisciência e produzir, no subconsciente, ideias absurdas.


No fim do século XX, veio o Governo do PT e fez uma reconfiguração bem curiosa: eliminou os nomes que entendeu fazer parte do rol dos inaceitáveis e, colocou para funcionar uma fértil máquina de produzir heróis. Isso, claro, evidentemente planejado, a fim de criar um cenário meio escatológico e que fosse suficientemente capaz de separar o antes e o depois, os bons e os maus, os prós e os contras, numa eleição barroca, confusa e com drinques de soberba.


A AC 40 virou Chico Mendes, ao arrepio da Lei, tentaram pôr o nome de uma antiga companheira em uma biblioteca, muitos colégios ganharam nomes de aliados e vários marcos e prédios foram batizados com alguma coisa que contivesse a discutida e mentirosa “Revolução Acreana”.


Esse poder que tem a classe política da ocasião de vestir-se de Adão e nomear as coisas para fortalecer sua forma de pensar é bem emblemático. Tornam-se alquimistas da conveniência e da vaidade, acreditando que ao tocarem em algo, transformam-no em ouro e o levam ao sagrado panteão.


Tenho ressalva com os nomes escolhidos para solidificar o projeto, mas honestamente eu espero muito que no futuro não tenhamos uma escola, uma praça ou um órgão público com o nome de José Dirceu, José Genoíno, Henrique Pizzolato, Delúbio Soares, Jacinto lamas ou Marcos Valério.


Nada particular, apenas não gosto muito de nomes compostos!


 


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Roberto Vaz

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