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O silêncio de Malu

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Quando o Acre ainda não era Acre, acreditava-se numa história muito curiosa. Já faz muito tempo, mas acho que ainda me lembro das coisas que me contaram. Escutem atentamente. Eu vou falar das coisas que me contaram.


No centro da cidade, havia, numa praça feia e rude, um teatro coberto de secas palmeiras e falho em sua estrutura de madeira mirrada. O local servia como espaço de crítica, uma alegre manifestação cultural, que reunia todos os descontentes com os desmandos e provocações absurdas dos donos da Vila Empresa.


Dentre todos os artistas, a mais destacada, a mais revoltada, a mais inconformada era Malu. Menina nova, criativa, sabia produzir peças bem adequadas à insatisfação popular. Cantando era a que mais empolgava! Na dicção, todos quase não piscavam a vê-la, de um lado para o outro, desenvolvendo o papel da peça que interpretava.

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Com a idade, a maturidade. Com a maturidade, a cidade, sim, toda a cidade queria ouvi-la e, mudar a ordem das coisas e o triste fim a que estavam submetidos. Malu rapidamente virava líder.


Temerosos, os donos da cidade resolveram agir. Alguns cogitaram matá-la secretamente, outros queriam que fosse expulsa e outros mais radicais até propuseram a forca em praça pública. Venceu os que tinham a ideia de tirar-lhe sua empresa mais produtiva.


Ofereceram e lhe construíram um belo teatro, dando-lhe, sem enfeites de humildade, todos os brilhos do palco. Malu representaria em um ambiente novo, confortável e acolhedor. Abandonaria o sol, a poeira, as caretas e deformidades do seu velho público. Um novo tablado para ela.


Suas peças foram reformuladas, os artistas que contracenavam com ela agora eram outros mais limpos, mais rechonchudos. Corroídos pelas vaidades, penteavam os cabelos e até usavam bons talcos.


No Teatro Central do Estado, a antes, menina, agora tinha maquiagem e melhorava propositalmente o seu canto. Para aquele novo público, não tardou em buscar os sábios do teatro grego, a fim de aprender novas técnicas, novas oratórias, diálogos e novas encenações faciais.


Os anúncios eram diários. Oh! Venham ver! Sim, oh, venham ver. A moça que canta e dança. Venham ver a moça que canta e dança para uma plateia requintada. Venham todos! Olhem, olhem, e não se cansem de olhar, porque nada mais se pode ter que não apenas a imagem dela. A orquestra que lhe acompanha, não lhe deixa mais ser ouvida.


Era o silencio de Malu. Calaram-na! Não foi preciso tirar-lhe a voz, apenas fazê-la cantar em outros lugares, onde sabia que ninguém mais a ouviria, porque cantariam mais alto que ela.


Oh! Venham ver! Sim, oh, venham ver. A moça que canta e dança. Venham ver a moça que canta e dança para uma plateia requintada. Venham todos! Olhem, olhem, e não se cansem de olhar, porque nada mais se pode ter que não apenas a imagem dela. A orquestra que lhe acompanha, não lhe deixa mais ser ouvida.


 


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