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As rosas não falam

Por
Roberto Vaz


Rosinha era bonita. Tinha cheiro e olhar de menina, porém mostrava, nas curvas acentuadas do corpo, que tinha chama de mulher. Era um aroma suave, capaz de chamar todos os homens da Terra.


Seu Horácio, o vizinho do lado direita da casa dela, parava tudo para vê-la lavando roupa. A grade magra e flácida, já beirando os setenta, sabia bem que não tinha como ter uma fruta daquela na boca.


Era preciso usar suas últimas armas: as lembranças do que fez, quando novo, e a poderosa imaginação. Aquele momento era um dos poucos que lhe fazia quente, sentir-se homem ainda e ver despertar algo que a mulher feia e desatenta matou.


O “titio”, como Rosinha chamava, sabia toda a rotina dela. Sete horas, acordava aos gritos repetidos da mãe, o rádio era ligado aos oito e, antes das dez e meia, já tinha casa e comida feita. À tarde encontro com as colegas na escola onde cursava o ensino médio e à noite, depois dos espasmos da mãe, reclamando da vida, do aluguel vencido e da falta de dinheiro, um namorinho sem vergonha com o menino mais bonito da rua.


Depois do terceiro mês, o dono da casa avisou a mãe de Rosa que não tinha mais como tolerar a falta de pagamento. Isto estava lhe levando à ruina, alegava quase chorando que nem o que comer tinha mais.


Do quarto mês não passava e, quando não querendo mais ouvir os lamentos da locatária, fez lembrar que dinheiro se consegue com trabalho.


Bem curioso é que muita coisa mudou!


Dez horas, Rosa Maria acordava aos pedidos carinhosos da mãe, o rádio era ligado as onze e, antes das doze e meia, a mãe já tinha casa e comida feitas. À tarde encontro com as colegas na escola onde cursava o ensino médio, e à noite, depois da novela com a mãe, fuxicando a vida e as roupas que não caiam bem nas artistas, um namorinho sem vergonha com o menino mais bonito da rua. Depois disso, algumas vezes na semana, encontros velados com Seu Horácio.


Todos ganharam! Rosinha tinha um celular cheio de luzes e roupas novas para mostrar para as amigas na escola.


A mãe dela passou a entender melhor os dramas da televisão e até melhorou aquelas dores nas costas e nas pernas, por causa da velha cama que não tinha mais.


A mulher de Seu Horácio se sentia mais aliviada em não ter que fazer algo que, mesmo sendo raro, lhe doía todo o corpo.


O marido tinha em fim encontrado prazer na vida depois de tanto tempo. Agora sim, morreria em paz. Depois de se lambuzar todo no corpo da menina, sempre se perguntava: pra que serve o dinheiro, se não pra isso?


 


 


 


 


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Roberto Vaz

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