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Paulo Maia: uma vida de dedicação ao futebol acreano

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Da redação ac24horas

Qualquer que seja o dia ou a hora, quando alguém ver um grupo de ciclistas transitando pelas ruas ou estradas adjacentes de Rio Branco, pode ter certeza que ali está o senhor Paulo Maia Sobrinho, na leveza dos seus recém-completados (22 de setembro de 2014) 61 anos. Amante do ciclismo, ele pedala centenas de quilômetros durante seis dias por semana.


A paixão esportiva da vida inteira do Paulo Maia, porém, é outra, bem diferente dos pedais recentes. O mundo em torno do qual ele sempre gravitou, de verdade mesmo, foi o do futebol. Já na adolescência, no 2º distrito de Rio Branco, ele tratou de dividir o tempo livre entre chutes como zagueiro de um time de futebol suburbano e a direção de um time infantil.


“Eu tentei ser jogador, mas no Bairro 15, onde eu morava, tinha muito menino bom de bola. Assim, o máximo que eu consegui foi jogar no América, do Chico Macaco, e em times das empresas onde eu trabalhei. O time infantil que eu fundei foi o Vasquinho. Fundei pra bater na Ponte Preta, do Belo, que era jogador do Atlético”, contou-me o Paulo Maia.


Do Vasquinho, no início dos anos de 1970, até hoje, a bola jamais saiu de perto do Paulo Maia. Dessa forma, ele acabou exercendo várias funções relativas ao futebol: árbitro, delegado da Federação Acreana de Desportos, comentarista esportivo, diretor do Atlético, dirigente do Vasco, auditor do TJD e membro do conselho fiscal da federação de futebol.


Nas próximas linhas, segue-se um resumo de uma entrevista que eu tive a oportunidade de fazer com o citado personagem, numa manhã de sábado, na residência dele, no Jardim Tropical. Ressalte-se que foi uma conversa cheia de interrupções, uma vez que o telefone dele não parava. “É a turma do ciclismo, combinando a próxima volta”, disse-me ele feliz.


 


Francisco Dandão – Como é que se explica essa sua paixão da vida toda pelo futebol?


Paulo Maia – A paixão mesmo veio por conta das copas do mundo de 1958 e 1962. A minha família morava na Rua Cunha Matos e o meu pai era um dos poucos moradores que possuía um rádio a bateria… A gente ouviu aquelas copas pelo rádio… E a narração falando de Pelé, Garrincha, Amarildo, Zagalo e toda aquela turma, culminando com os títulos mundiais, tudo aquilo despertou em mim a paixão pelo futebol. Quer dizer, não só em mim, mas em quase todos os garotos da época. Depois disso, já mais ou menos em 1965, o Edmilson Jansen, que era namorado da minha irmã, me influenciou para torcer pelo Vasco, no Rio de Janeiro, e pelo Palmeiras, em São Paulo. Foi daí, então, que tudo começou.


Francisco Dandão – Quanto ao envolvimento com a organização do futebol, de maneira oficial, como é que isso se deu?


Paulo Maia – Eu comecei a mexer oficialmente com futebol como diretor da Federação Acreana de Desportos [FAD], a convite do presidente Adel Derze, em 1974. O delegado, que é uma função que existe até hoje, pra quem não sabe, é a pessoa encarregada de verificar se tudo está em ordem para o início de uma partida de futebol. Então, eu era quem orientava o preenchimento das súmulas, colhia as assinaturas e verificava as carteiras dos atletas, todas essas coisas. Eu, assim como as outras pessoas que exerciam a mesma função, tinha que ser o primeiro a chegar ao estádio e o último a sair. E note que era uma função sem remuneração alguma. A gente fazia apenas no intuito de colaborar com a organização do futebol local.


Francisco Dandão – A experiência como árbitro foi depois disso?


Paulo Maia – Foi quase ao mesmo tempo. Eu já era delegado da federação quando pintou um curso de arbitragem de futebol. Esse curso foi promovido em 1975. Eu fui um dos primeiros a me inscrever. Tinha muita gente boa, desportistas de uma época romântica, cujo intuito era apenas o de colaborar com o desenvolvimento e com a organização do futebol acreano. Mas eu nunca apitei um jogo assim da, digamos, primeira divisão do campeonato acreano não. Eu apitei muito no subúrbio, nos campos de várzea, nas colônias, nos seringais… Tinha dia que eu saía de madrugada para apitar num seringal e só voltava de noite. Como pagamento, ganhei muita galinha, pato, melancia, farinha, carne de caça [risos divertidos].


Francisco Dandão – E a passagem pela crônica esportiva, Paulo, fale um pouco disso.


Paulo Maia – A minha passagem pela crônica esportiva aconteceu entre os anos de 1977 e 1982. Fui trabalhar na equipe de esportes da Rádio Novo Andirá, a convite do saudoso radialista Campos Pereira. Comecei como carregador de fios. A tecnologia era bem diferente do que existe hoje em dia e eu tinha que sair carregando os fios dos microfones dos repórteres de pista. Se o repórter corria para entrevistar um jogador, um técnico ou dirigente que ia saindo do outro lado do campo, eu tinha que desembestar na carreira para poder dar condição do microfone chegar lá no entrevistado. Mas depois de algum tempo, eu fui promovido, sucessivamente, a repórter de pista e comentarista. Aí ficou mais fácil, passei a ver o jogo de cima!


Francisco Dandão – Daí você virou “cartola”, né isso?


Paulo Maia – Exato. Em 1983, eu recebi um convite do doutor Adauto Frota, presidente do Atlético, para ser diretor de futebol do clube. Não pensei duas vezes em aceitar o convite, principalmente porque se tratava do time do bairro [15], onde eu passei a minha infância e a minha adolescência, lugar, posso dizer, das minhas raízes. Fiquei dois anos nessa função. Foi uma época de extrema dificuldade. Não havia dinheiro pra nada. Pra se ter uma ideia, teve um momento que não havia dinheiro nem pra contratar um treinador. Quem teve que fazer às vezes de treinador, em algumas situações, foi o velho Jaú, um abnegado que passou a vida no Galo, ora cuidando do uniforme do time, ora cuidando do campo… Mas foi um tempo também de muito aprendizado. O doutor Adauto Frota foi uma dos dirigentes de futebol mais íntegros que eu tive o prazer de conhecer.


Francisco Dandão – E depois do Atlético, Paulo?


Paulo Maia – Fiquei dois anos no Atlético. Em 1985 fui convidado para ser vice-presidente do Vasco da Gama, na chapa encabeçada pelo professor Almada Brito, outra criatura de moral ímpar, um educador por excelência, cuja vida foi dedicada quase integralmente à causa do time da Fazendinha. Passei dois anos acumulando a função de vice-presidente com a de diretor de futebol. Quando chegou o ano de 1987, sempre a pedido do professor Almada, eu aceitei assumir a presidência do clube. Se no Atlético, havia dificuldades, imagine só como não era no Vasco, que era um clube tido como pequeno, praticamente sem simpatizantes para ajudar. Cheguei ao ponto, no meu período como presidente, a dilapidar os recursos de uma caderneta de poupança que eu tinha para poder comprar o uniforme de jogo do time. Nunca fui ressarcido, mas absolutamente não me arrependo.


Francisco Dandão – Do Vasco você foi para a federação, certo?


Paulo Maia – Certo. Encerrado o meu mandato na presidência do Vasco, eu fui convidado pelo presidente Antônio Aquino Lopes para ser vice-presidente dele na Federação de Futebol do Acre. Isso no biênio 1989/1990. Foi justamente no ano da profissionalização do futebol. Posso dizer que foi uma experiência extremamente enriquecedora. Na o futebol acreano já vivia um ritmo profissional, só que não de forma oficial. Todos, ou quase todos, os atletas, na prática, recebiam dinheiro para jogar, mas não havia documento algum nesse sentido. Nós tivemos que começar do zero, no sentido de dotar os clubes da documentação pertinente. E esse passo da profissionalização tinha que ser dado. Não havia alternativa para o futebol acreano. Eu diria que a profissionalização foi o primeiro grande feito do presidente Aquino. Foi um trabalho árduo que eu tive o prazer de participar.


Francisco Dandão – Encerrado o seu mandato como vice-presidente da federação, você foi fazer o quê?


Paulo Maia – Depois de encerrar o mandato como vice-presidente, eu passei para o conselho fiscal. Eu sou membro até hoje do conselho fiscal da federação de futebol. Mas antes até de ser vice-presidente, eu também fui auditor do Tribunal de Justiça Desportiva, durante um breve tempo, ainda na época do amadorismo. Naquele tempo não havia a exigência que existe hoje de que os auditores sejam advogados. Os auditores podiam ser leigos, bastando que estudassem a legislação esportiva. E a gente dava conta do recado direitinho. Teve até um caso que o voto mais esquisito foi justamente de um auditor formado em direito, no caso o Chico Doido. Ele fez todo um discurso de defesa da atitude do atleta que estava em julgamento, falando do quanto ele era um dos abnegados que trabalhavam em prol do futebol acreano, atleta esse que era o Stúdio, do Andirá. Ao final do discurso, porém, o Chico Doido votou pela pena máxima. Ninguém entendeu nada.


Francisco Dandão – De todos esses cargos e atribuições que você exerceu qual o que te deu mais prazer desempenhar?


Paulo Maia – Olha, com toda a sinceridade, o que me deu mais prazer foi ser presidente do Vasco. Primeiro, porque eu sou vascaíno de coração. Embora eu seja também atleticano, o amor que eu tenho pelo Vasco do Rio de Janeiro, faz o meu coração bater mais forte pelo clube local do mesmo nome. E depois porque eu recebi esse encargo de ser presidente do Vasco das mãos de uma pessoa que eu vi lutar pelo clube com uma dedicação sem igual ou precedente. Eu tive uma satisfação imensa em ser presidente do Vasco. Mas eu tenho que confessar que todo o prazer que eu senti em dirigir o Vasco hoje se transformou em desgosto, por causa do descaso e do abandono ao qual o clube está relegado nos dias que correm. Uma lástima!


Francisco Dandão – Pra encerrar, Paulo, qual é o futuro que você vislumbra para o futebol acreano?


Paulo Maia – Eu acho que o presidente Toniquim é um super-herói do futebol acreano, por tudo que ele fez até aqui, lutando sem recurso e sem nenhuma fonte de arrecadação própria, dependendo exclusivamente dos repasses da confederação brasileira. O futebol acreano não tem fonte de renda nenhuma. Nesse sentido, eu vejo com muita desconfiança o futuro do futebol acreano, por causa dessa falta crônica de recursos. É muitíssimo difícil fazer o futebol acreano subir de divisão. Os bons jogadores que atuam em outros centros mais adiantados não aceitam vir jogar aqui se não for para ganhar muito bem. Por sua vez, os meninos das categorias de base quando se destacam são levados para clubes de outros estados, o que é muito natural. Então, eu vejo o futebol acreano num impasse, por conta dessa falta de investimentos. Eu não sei mesmo onde ele poderá chegar.


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