Nos 16 anos de governos da FPA os personagens do poder mudaram várias vezes. Mesmo pregando a unidade não se pode dizer que foram quatro gestões parecidas da FPA. Os governos de Jorge Viana (PT) foram diferentes de Binho Marques (PT) e, agora, com Tião Viana (PT) as diferenças aumentaram ainda mais. Mas tem uma pessoa que atravessou todos esses anos “intocado” e sempre em destaque como o “homem forte” dos bastidores políticos da FPA, Francisco Nepomuceno, o Carioca. Mesmo com as mudanças naturais de comando o Carioca nunca perdeu a sua força. Um caso admirável de durabilidade, principalmente, porque sempre coube a ele as missões mais “espinhosas” e impopulares. Ele assumiu o papel de dizer “não” na articulação política com os outros partidos da FPA, negociações com sindicalistas e em outras funções desgastantes para quem participa de um governo. Mas o Carioca atravessou tudo isso incólume e, agora, na próxima gestão de Tião Viana será ainda mais forte acumulando funções políticas e de gestão. Mesmo colecionando “inimigos” e adversários durante esse longo período Carioca estará lá novamente dando as cartas e determinando os rumos do Estado.
Comparação pertinente
A direita brasileira teve nos tempos da Ditadura Militar o seu maior estrategista político na figura do General Golbery do Couto e Silva. Não caia uma folha no Planalto sem a aquiescência de Golbery. Apesar de trabalhar numa linha dura nos bastidores do poder foi graças a Golbery que a ditadura fez a sua transição à democracia. Mas o processo foi controlado por ele para que não houvesse caça às bruxas contra os militares. Pois o Carioca é uma espécie de Golbery no Acre.
Senhor da “guerra”
Nesses anos que cubro a política acreana vi vários políticos eleitos com votos populares desafiarem o “poderio” do Carioca, que nunca teve um voto na vida. Não me lembro de nenhum que tenha ganho a parada. Saíram todos “chamuscados” das contendas.
Recordar é viver
A deputada federal Perpétua Almeida (PC do B) foi uma delas. Bradou muito contra o Carioca pela imprensa, mas não deu em nada. Me lembro ainda dos deputados Taumaturgo Lima (PT) e Jonas Lima (PT). Carioca chegou a tirar o Jonas de dentro de uma reunião que seria coordenada pelo governador. Muita gritaria e rosnar de dentes, mas o Carioca levou a melhor.
Recordar é viver 2
Foram muitos outros parlamentares eleitos que se indispuseram com o Carioca. Os que permanecem na FPA ficaram “bonzinhos”. Os outros todos foram caçar rumo na oposição. E o Carioca continua lá no mesmo lugar.
Briga de gigantes
No processo de escolha da candidatura ao Senado da FPA, o próprio, senador Jorge Viana (PT), se estressou com o Carioca. Jorge queria Anibal Diniz (PT) e, o Carioca, obedecendo ordens superiores, articulava a candidatura de Perpétua. O resultado final da disputa está aí pra todo mundo ver. Carioca conseguiu mobilizar parte do PT para defender a comunista. Algo que parecia “impensável”.
Disputa interna do PT
Nunca tinha visto uma eleição interna pela presidência do PT acreano (PED) como a de 2013. O partido se dividiu em duas tendências, DR e DS. Carioca comandou, a pedido de Tião Viana, a campanha da DR. O PT ficou em “pé de guerra”. Houve gritos, pontapés, trocas de acusações e advinha qual a tendência levou a melhor? Não só a DR ganhou como ainda dá as cartas dentro do Governo e em algumas prefeituras petistas. Mesmo com seus aliados estrelados nacionais o deputado federal Sibá Machado (PT) perdeu “feio” para as articulações do Carioca, que colocou Ermício Sena na presidência.
Quem não puder enfrentar que se alie
Um outro fator que fortaleceu ainda mais o Carioca. As candidaturas proporcionais “ungidas” por ele, em 2014, saíram vitoriosas. Léo Brito (PT), se elegeu deputado federal, Ney Amorim (PT) foi o mais votado para deputado estadual e ainda deverá ser presidente da ALEAC. Daniel Zen (PT), que parecia um “azarão”, na minha avaliação, foi o segundo mais votado para estadual. Um saldo pra lá de positivo.
O segredo do Carioca
Quem observar as redes sociais verá que os setores da juventude do PT têm grande admiração pelo Carioca. É comum ver esses militantes postando fotos com o “guru”. A liderança do Carioca é construída levando em consideração as novas gerações de petistas. Ele não se articula só com os poderosos, mas também com a base. Podem não gostar do Carioca e, acredito, que milhares no Acre o detestam, mas o “cara” sabe fazer política. Isso é inegável.
Os desafetos
Por outro lado, pelas minhas observações, tenho certeza que atualmente o Carioca tem mais “desafetos” dentro do PT e em outros partidos da FPA do que na oposição. Parece uma contradição, mas é real. Os oposicionistas nem percebem as articulações do “guru petista” . Ele age nos bastidores e manda executar. Quando o cidadão acorda a manobra já foi feita e, para a oposição, os culpados são outros. Já nas raias internas da FPA o Carioca é temido. E o temor nem sempre desperta os melhores sentimentos.
Resumo da ópera
Como articulista político, depois de observar o novo secretariado de Tião Viana, não dava para não comentar a permanência do Carioca como homem forte no Governo. É um caso admirável. Mesmo porque todo mundo sabe que ele não é propriamente um monge budista meditando num mosteiro. O guru petista é de ir para batalha mesmo e “trocar tiros” com seus adversários. Tem esse longo histórico de “contendas” internas e externas. E com tudo isso o “cara” ainda sobrevive sem nenhum arranhão. Mesmo quando o envolveram num “triângulo amoroso” que tomou proporções enormes na mídia, o Carioca ainda conseguiu sair por cima. Portanto, não adianta reclamar e nem fazer cara feia. O Carioca ainda vai ser assunto por mais quatro anos. É só esperar e observar os seus movimentos de bastidores para saber quem perde e quem ganha politicamente dentro da estrutura de poder da FPA.