Às 21h15 da noite de ontem a última medição do sistema de monitoramento hidrológico da Agência Nacional de Águas (ANA) apontava o nível do Rio Madeira, em Porto Velho, de 9m31. Segundo o engenheiro Cleyder Razzini, responsável pela obra da ponte sobre o manancial, esse nível está 2 metros acima do registrado no mesmo período em dezembro do ano passado, mês que antecedeu o início da maior cheia já registrada em que o Rio Madeira atingiu a 17m52 em março deste ano.
“Com relação á dezembro do ano passado o Rio está mais alto”, confirmou o engenheiro durante coletiva na tarde de ontem (5) no canteiro de obras localizado no Distrito de Vista Alegre, a 248 km de Rio Branco.
Para execução das obras de fundação da ponte sobre o Rio Madeira, a empresa conta com uma estação hidrológica no canteiro de obras que realiza medição diária do manancial que nasce com o nome de Beni, na Cordilheira dos Andes.
O vice-governador do estado de Rondônia, Airton Pedro Gurgacz, durante visita técnica ao canteiro de obras na tarde de ontem (5), confirmou a subida do nível das águas e não descartou uma nova cheia com isolamento do estado do Acre, caso o volume de chuvas na bacia dos rios Mamoré, Madre de Dios (Peru) e Guaporé (no Brasil) continue forte.
Trechos em desmoronamentos – Gurgacz informou que as obras de recuperação em trechos da BR 364 que estão desmoronando no território de Rondônia não iniciaram devido as chuvas intensas. Os desmoronamentos estão registrados cerca de 150 km da capital Porto Velho próximos do Rio Igarapé. A região é a mesma que ficou inundada com uma lâmina d’água que chegou a 50 centímetros no início do ano.
“A informação que nós temos aqui é que o nível já está acima do que foi registrado no ano passado, segundo o engenheiro da obra”, disse Gurgacz.
Outro dado que a reportagem teve acesso, mostrou a subida repentina do Rio Madeira no final do mês de novembro, uma semana antes das eleições, quando o assunto de desabastecimento dominava os programas de TV dos principais candidatos ao governo do Acre.
No dia 26 de novembro, um dia antes do Segundo Turno, o manancial subiu 57 centímetros em 15 horas, saindo de 744 centímetros para 801 centímetros. Na leitura de ontem (5) à noite, o rio está 26 centímetros acima do nível normal que é 905 centímetros, registrOU 931 centímetros O dado é preocupante. A previsão é de que uma nova enchente de proporções assustadoras está para chegar, a partir, de novo, da Bolívia.
Comércio acreano se prepara para uma nova cheia
O presidente da Associação Comercial do Acre, Jurilande Aragão, confirmou para a reportagem que empresários acreanos do ramo alimentício e de eletrodomésticos já estocam produtos visando uma nova cheia e um novo isolamento do estado.
“Essa semana fui procurado para locar um armazém com a destinação de estocagem de alimentos,” garantiu Jurilande.
Ainda de acordo o representante da Associação Comercial e empresarial, em conversa com um fiscal da Fazenda foi confirmado a passagem de 15 % de produtos acima do que é normal para esta época.
“Eu não tenho dúvida de que os empresários estão se preparando para uma cheia até porque desde setembro que batemos nesta tecla e fazemos o mesmo alerta de que o Rio Madeira não voltou ao seu nível normal e que as obras de elevação do trecho da rodovia que foi inundado não foram executadas como previsto”, acrescentou Aragão.
De fato, o diretor dos Programas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), Roberto Borges, falou logo após a cheia história do Rio Madeira sobre a elevação da pista da BR-364 afirmando que nos trechos alagados os cálculos levaram em consideração a cota histórica da maior enchente do rio Madeira até então, que registrou 17,52 metros e ocorreu em 1997.
“Esta enchente de agora foi muito maior, sem precedentes na história do Estado, atingindo a marca histórica de 19,74 metros e, portanto, temos que refazer os cálculos e elevar o grade da rodovia acima da cota de 20 metros”, frisou.
Os estudos e a obra não saíram do papel. Alguns empresários do Acre, revoltados com a não realização dos serviços necessários de recuperação da BR 364 – o principal deles seria a elevação do grade – preferiram não se manifestar sobre o assunto.
ALERTA CIENTÍFICO – O sinal de alerta aceso no ramo empresarial ocorreu após a entrega de um relatório ao Ministério Público de Rondônia, que aponta a possibilidade de uma nova cheia e que pode ser pior do que a registrada em 2014. O estudo foi feito pelo engenheiro civil Jorge Luiz da Silva Alves.
O relatório aponta a necessidade de rever a maneira como os estudos para construção de barragens são realizados e afirma que atualmente, esses cálculos não levam em consideração toda a bacia hidrográfica da Amazônia.
O mais grave, segundo o engenheiro, estado e união tinham conhecimento e não tomaram providências para eliminar o gerador do impacto no rio Madeira. “Foram oito eventos que favoreceram a ocorrência da enchente”, afirma Alves.
As barragens são apontadas como a causadora da enchente este ano. Alves afirmou que “a usina segurou a água para colocar as turbinas para funcionar e aumentou a cota do reservatório”, relatou.
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