Estudo feito pelo Departamento de Psiquiatria da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) indicou que a ibogaína é pelo menos cinco vezes mais eficiente para interromper a dependência química do que tratamentos convencionais.
A substância é extraída da raiz da iboga, planta encontrada em alguns países africanos. “Ela é usada desde a pré-história em rituais por tribos no Gabão, na África, que professam uma religião que se chama bwiti. Eles usam essa planta em rituais de entrada na vida adulta”, explicou o médico Bruno Chaves, um dos responsáveis pela pesquisa.
O estudo foi feito com 75 pacientes, entre usuários de crack, cocaína e álcool, entre janeiro de 2005 e março de 2013. Dos 67 pacientes homens, 55% ficaram livres do vício por, pelo menos, um ano. Entre as oito mulheres, a taxa foi 100%. Os tratamentos convencionais interrompem o vício em um índice que varia de 5% a 10% dos casos. Os resultados do trabalho inédito foram publicados no The Journal of Psychopharmacology, da Inglaterra, uma importante publicação na área de psicofarmacologia.
A ibogaína tem efeitos semelhantes aos da ayahuasca, bebida feita de plantas amazônicas usada em cerimônias religiosas. “A diferença é que a ibogaína é muito mais potente do que a ayahuasca. Para você ter uma ideia, o efeito da ayahuasca dura quatro horas. A da ibogaína dura de 24 a 48 horas”, explicou Chaves sobre a substância, que causa a sensação de expansão de consciência. “O paciente começa a perceber melhor o que ele representa na vida, qual é a função dele no planeta, quais são as coisas que está fazendo certo, o que está fazendo errado”, detalhou o médico que acompanhou os pacientes durante a administração da medicação.
Na maioria dos casos, com apenas uma dose, o medicamento corta a vontade de usar drogas e impede crises de abstinência. “Ela equilibra a quantidade de neurotransmissores que há no cérebro e isso faz com que o paciente tenha uma sensação de bem-estar definitiva, não é só durante o efeito da medicação. A impressão que dá é que a ibogaína interrompe o processo que leva à dependência química”, explica Chaves.
O objetivo agora, de acordo com Chaves, é conseguir financiamento para um estudo mais amplo, com um número maior de pacientes e testes que possam mostrar os efeitos da ibogaína no cérebro.
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