“Minha autoestima está 300 metros abaixo do chão”, disse Maria Zulmira da Silva, a Maria Preta (PSB), como é popularmente conhecida, após sofrer chacota de populares por, supostamente, não ter obtido um voto sequer para o cargo de deputado estadual computado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Acre, no 1º turno das Eleições 2014.
Maria Preta conta que logo após o encerramento da votação ocorrida no último domingo, 05 de outubro, seguiu para o estacionamento do Arena da Floresta, na companhia de amigos, de onde pretendia acompanhar a apuração dos votos, mas acabou saindo de lá humilhada após sofrer ‘chacota’ de populares diante da contagem de 0, 0 % dos votos.
Chorando muito e extremamente desanimada, Maria Preta relata que somente no dia seguinte foi informada pela direção do partido que a ausência de votos era efeito de um processo que tramita no Tribunal Superior Eleitoral, referente a irregularidades na prestação de contas de uma campanha ocorrida em 2010.
Em entrevista ao ac24horas, Maria afirma que até o momento não teve acesso ao número de votos recebidos. “Fiz minha campanha direitinho, rodei todos os bairros de Rio Branco pedindo voto, visitei amigos e uma certeza eu tenho: eu votei em mim! Estou muito triste porque fui humilhada publicamente. Muita gente veio me procurar, outras ligaram afirmando que votaram e mim e perguntando o que havia acontecido e, eu não sabia o que falar, somente chorava e me sentido humilhada”, disse chorando.
Em contato com a Assessoria de Comunicação do TRE, a reportagem foi informada que dos candidatos na mesma situação, Maria Preta e outro candidato teve a contagem de votos zerada por indeferimento em agravo de recurso junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outros quatro candidatos zeraram por terem renunciado a candidatura. Em nota, o órgão informou ainda que não será possível fornecer a contagem de votos da candidata Maria Preta, pois os votos permanecerão em oculto até que seja julgado o processo pela Corte superior, em Brasília.
Quem é Maria Preta?
Maria Zumira da Silva, 57 anos, natural de Cacoal (Piauí) chegou ao Acre em 1982. Formada em técnica contábil, ela conta que nunca atuou na área devido ao preconceito racial. “Sempre batalhei por um emprego na minha área de formação, mas após inúmeras entrevistas eu acabei desistindo. Naquela época ninguém dava emprego para uma negra. O que me restou foi trabalhar de doméstica mesmo!”, conta.
Ela relata que entrou para a política em 1994 e adotou o codinome de Maria Preta em homenagem a uma escrava nascida e criada numa propriedade, que anos depois pertenceu aos avôs de Maria Zumira.
“Quando decidi encarar o desafio da política me disseram que eu deveria adotar um nome, então lembrei da história dessa escrava e disse que me chamaria Maria Preta e o codinome pegou, hoje todos me conhecem por esse nome, que agora faz parte da minha história de vida também”, conta.
Maria Preta prometia varrer a corrupção e dar ‘cabada’ de vassoura em corrupto
Os acreanos com mais de 30 anos devem se recordar de uma mulher negra, que em 1994, marcou a propagando eleitoral no Acre. Em posse de uma vassoura, seu instrumento de trabalho na época, Maria Preta prometia varrer a corrupção e com o cabo da vassoura ameaçava “lascar na cabeça de político corrupto”, foi assim que ela caiu no gosto do povo e mexeu com o orgulho de muitos políticos da época e ganhou reconhecimento no movimento sindical no Acre.
A irreverência de Maria Preta acabou causando ‘ciúmes’ em outros candidatos que concorriam a uma vaga a deputado estadual. A originalidade da candidata lhe rendeu inclusive uma citação em um livreto intitulado: Ir para o Acre, de Gilberto Braga de Melo. Em quatro páginas, o autor relata como foi à inserção da humilde empregada doméstica que se tornou o sucesso da campanha eleitoral de 1994 e conquistou popularidade em toda a capital com o slogan: Maria Preta, Neles!.
Embora já tenha encarado cinco pleitos eleitorais (1994, 1996, 1998, 2010 e 2014), Maria Preta não conseguiu ainda se eleger, mas destaca que a defesa pelo direito dos mais necessitados, pela igualdade racial, pelo fim do preconceito aos negros e da corrupção será defendida até o último dia de sua vida.
“Quero agradecer aos amigos que votaram em mim e outros tantos que se solidarizaram comigo nessa eleição. Aqueles que riram de mim e me humilharam peço que pensem antes de falar e humilhar alguém. Me senti e me sinto ainda muito magoada com o deboche, a chacota e ironias daqueles que sem saber, sem buscar informação correta se deram ao trabalho de humilhar uma pessoa”, desabafou Maria Preta que completa dizendo que ainda não foi eleita nenhuma vez porque em muitos momentos se dedicava a eleger prefeitos e governadores.
Para encerrar, Maria Preta reforça a luta pela igualdade e promete voltar com força total na próxima eleição. “Enquanto eu tiver voz nunca vou me calar! Sempre estarei lutando pela igualdade de oportunidade e de raça, pelos direitos da mulher e pelo fim do preconceito a pessoa negra”, concluiu.