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Sebastião diz que Marina ganha de Dilma no 1º turno no Acre

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O médico Sebastião Viana, 53 anos, governador do Acre pelo PT e forte candidato à reeleição – com 51% das intenções de voto segundo a sondagem interna do PT estadual -, diz que, se eleito, quer intensificar a economia do Acre com industrialização e projetos de vocação agrícola, sempre em bases sustentáveis.


O distanciamento com o grupo de Marina Silva, sua companheira de militância há 34 anos, está nas sutilezas do discurso do governador, que recebeu o Valor ontem na chamada Casa Rosada, em Rio Branco. Tião Viana, como é conhecido, diz que respeita os ambientalistas, mas é um “humanista”.

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Sobre a companheira de lutas e amiga de sempre, Viana diz que “Marina é uma combatente, não é só flores não”. E embora seja “Dilma por inteiro”, condena os ataques do PT à candidata do PSB. Leia trechos da entrevista:


Valor: Porque o PT é tão forte no Acre, mas os acrianos não votam no PT para presidente? Até o ex-presidente Lula perdeu aqui.


Tião Viana: Antes estávamos com a presidente Dilma em primeiro, com 40% dos votos até Marina ser lançada candidata, e o PSDB, com 23%. Quando Marina apareceu, Dilma caiu. Isso é natural porque houve uma comoção com a morte de Eduardo Campos, e Marina é daqui, tem uma base de referência. Mas pela primeira vez, o PSDB está na faixa de 17% (nas pesquisas de intenção de voto no Acre), que era quem ganhava da gente aqui, a Dilma com 32%, e a Marina com 44%.


Valor: Agora os acrianos votarão no PT estadual, mas não para presidente?


Viana: A luta aqui foi ideológica. Tivemos a luta das comunidades de base da Igreja, do Dom Moacyr [Moacyr Grechi, hoje arcebispo emérito de Porto Velho, figura essencial na formação política de Marina Silva e do grupo que formou o PT no Acre, no fim dos anos 80], que era chamado de comunista pelas forças da ditadura. E o Chico Mendes rompendo a visão da entrada das fazendas, querendo que os povos da floresta tivessem dignidade e não formassem as favelas do Acre. O que ocorreu foi este confronto ideológico. O PT foi a vanguarda deste processo. Por isso ficou um preconceito ao PT, mas não contra nós, que somos dirigentes. Entre os partidos, o PT é o melhor avaliado, com 11%.


Valor: Este preconceito não cola em vocês, que se elegem no governo do Acre há 16 anos?


Viana: É um fenômeno curioso. A visão é ainda aquela que o Lula ia fechar as igrejas, ia dividir os terrenos. Isso ficou marcado no debate ideológico de então, e ficou o preconceito. O Lula foi quem mais ajudou o Acre em toda a história do Estado. Foi um pai, uma mãe, tudo para nós. Olha, foi investido R$ 1,5 bilhão na BR-364 de Rio Branco até Cruzeiro do Sul em toda sua construção. Lula fez 80% disso, a presidente Dilma, 10% e Fernando Henrique, outros 10%. No programa Luz para Todos foram outros R$ 350 milhões de investimento.


Valor: Então era para a população votar no PT para presidente, não?


Viana: Era. Mas tem aquele resquício ideológico. Quando Lula vem, é a pessoa mais amada aqui, mas na hora de votar… E agora, pela primeira vez Dilma estava lá na ponta, aí entrou a Marina, embolou tudo, e deu a confusão toda.


Valor: O senhor acha que Marina Silva ganha no Acre?

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Viana: Acho que tende a ganhar no primeiro turno aqui. Mas sou Dilma por inteiro. Não me vejo na luta política do Acre com ar de oportunista. Eu seria oportunista, só porque a Marina está tendo a maioria dos votos, se eu fosse dizer, “vote na Marina”. Quem ajudou o Acre foram Lula e Dilma. Devemos tudo o que conseguimos de êxito neste Estado, de uma visão de desenvolvimento, a eles dois. Marina esteve ao nosso lado durante muito anos. Ela resolveu sair e seguiu o destino dela. Nós respeitamos. Mas eu continuo na trincheira que comecei em 1988, na formação do PT, desde o movimento estudantil. Acredito que o bem promovido por Lula e Dilma ao Acre, em termos institucionais, é uma oportunidade que nunca teremos igual. Daqui a 100 anos não teremos a oportunidade que tivemos para buscar a identidade econômica deste Estado.


Valor: Como o senhor vê os ataques a Marina feitos pela campanha do PT?


Viana: Acho errado. Preferia um debate de quem pode fazer melhor pelo Brasil. Temos a chance de ver um novo debate democrático no Brasil entre duas forças progressistas, o PT e a Marina. E é diferente porque desloca o eixo conservador da disputa de poder do Brasil para a periferia, que é o Aécio [Neves, candidato à Presidência pelo PSDB], que representa as forças conservadoras do mercado, querendo ter de novo espaço de poder nacional. Quando vem o ataque, é ruim. Mas não dá para dizer que o PSB é santo, não. A Marina tem atacado o PT injustamente.


Valor: Como? Quando?


Viana: Muito injustamente. Quando ela falou “como pode o governo bancar 12 anos um servidor para roubar?” Ora, aquele rapaz [Paulo Roberto Costa] era diretor da Petrobras no governo Fernando Henrique. Ele é funcionário de carreira Petrobras, serviu ao governo Fernando Henrique, como é que ela não criticou o PSDB? Marina foi do governo Lula. Então é fogo cruzado, não tem vítimas aí. Conheço a Marina, Marina é de combate.


Valor: De combate?


Viana: Sim, Marina não é só flores não. Ela combate duramente quando tem que combater. São 34 anos de militância juntos. Ela tem coisas lindas a passar, de uma visão de mundo. Mas Marina faz o combate duro. Somos amigos. O esposo dela, Fábio, [o técnico agrícola Fábio Vaz de Lima] trabalhou comigo até agora. É de uma dignidade absoluta, de uma retidão e competência únicas.


Valor: O projeto de se criarem peixes no Acre, ele implementou não?


Viana: Sim, ajudou muito. A ideia foi minha, em uma conversa com Lula, quando eu ainda era senador.


Valor: Este projeto é uma marca da sua gestão?


Viana: O maior projeto estratégico do Brasil é o do peixe do Acre. Fomos buscar tecnologia na Dinamarca, o BNDES é parceiro. O objetivo é ter escala de R$ 1 bilhão em poucos anos com surubi, pirarucu e tambaqui. Conseguimos ter 4,7 mil famílias sendo beneficiadas neste programa e queremos envolver outras 20 mil. O frigorífico mais moderno do Norte é o nosso.


Valor: Como o senhor espera fortalecer a economia do Acre?


Viana: Veja, um hectare de carne, de gado, gera R$ 500 líquidos por ano, um hectare de peixe, R$ 15 mil e um hectare de açaí, R$ 21 mil. Estamos invadindo a região com plantio de açaí. E apostamos também na suinocultura. A unidade industrial de suínos vai gerar 1.050 empregos diretos em novembro, e não tinha nada disso há quatro anos. Uma montadora de carros gera 250 empregos.


Valor: A crítica que se escuta é que o Acre não tem indústria, mesmo depois de 16 anos de governo do PT.


Viana: Sou o terceiro governador de um projeto político iniciado com os dois governos de Jorge Viana, um do Binho Marques e um meu. O governo de Jorge fez o rompimento de um modelo tradicional na Amazônia, aquele baseado em desflorestamento e pecuária. O uso dos recursos naturais era insensível ao componente socioambiental. Ele teve que fazer um projeto de Estado com a virtude das instituições sendo recuperadas e, ao mesmo tempo, com forte conceito socioambiental. A população nos aprovou. Mas na hora da eleição há disputa e os indicadores ainda nos desafiam.


Valor: Quais os desafios?


Viana: O componente eleitoral nos diz que a população respeitou o nosso caminho, mas quis se sentir dentro. É muito bonito preservar e desenvolver, mas a população dizia: “Onde estou aí? Estou com emprego, estou em um ambiente de prosperidade também? Tínhamos que fazer a construção, em pouco tempo, da inclusão da sociedade com os melhores conceitos de desenvolvimento amazônico.


Valor: O que o senhor conseguiu?


Viana: Quando assumi fiz um plano baseado em consolidar a economia. Corri atrás da industrialização do Estado e da atividade rural, sem perder o conceito socioambiental, mas não tendo preconceito com nenhuma atividade. Queremos triplicar a pecuária de corte no Estado, mas sem desmatar. Eram três distritos industriais quando assumi, hoje temos 13, sendo 11 já funcionando. O Acre mais que triplicou o PIB. A industrialização ainda é aquém do que poderia. E a atividade produtiva rural também.


Valor: A borracha está acabando no Acre?


Viana: Esta é a visão do desconhecimento. A borracha só perde em termos de valor econômico no Brasil para o eucalipto. São Paulo tem 100 mil hectares de borracha produzindo. Precisamos retomar a força da borracha no Acre. A borracha é uma força econômica inovadora, uma agenda de futuro. Não vamos abrir mão da borracha e nem da castanha.


Valor: Quão forte é o Bolsa Família no Acre?


Viana: São 132 mil famílias beneficiadas. Neste período tornamos desprezível a quantidade de pessoas em pobreza extrema no Acre. Mas temos uma base de pobreza ainda real, e que incomoda. Na cheia da Madeira, o Acre ficou isolado. Foi a maior tragédia ambiental da Amazônia. Ocorre uma vez a cada 300 anos. Temos um fluxo médio de 6 mil carretas mês de Rondônia para cá e caímos a zero. Ficamos semanas assim. O abastecimento foi comprometido. O Acre produz leite, mas não o suficiente, carne a mesma coisa. Temos que incrementar isso.


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