Suspenso por vigas de alvenaria, o imóvel é anualmente visitado pelas cheias do vizinho Rio Acre, um tormento que se repete há cerca de 30 anos na vida dos Silva.
“Se a Marina ganhar para presidente, não vai deixar mais papai aqui neste bairro. Vai achar que também é demais, né? O que é que o povo não vai dizer: ‘ela ganhou, o pai dela continua ali, no alagado, e ela não está fazendo pelo pai. Vai fazer por alguém?'”, questiona Maria.
Ela conta que Marina tem pelejado para que seu Pedro – um ex-soldado da borracha, que por mais de 30 anos tirou o sustento dos seringais – finalmente aceite sair do local. Em vão. O pai prefere ficar perto da família, que vive, em sua maioria, na capital acriana e arredores. Duas irmãs moram em pequenas colônias na zona rural. O único irmão é instrutor de autoescola na cidade.
Numa das últimas enchentes, a água ficou a um palmo de invadir o pavimento de cima, o que fez a presidenciável viajar à cidade, na tentativa de tirar o pai do local. “Ela veio e pediu para ele sair, mas papai é uma pessoa que, quando quer fazer uma coisa, não tem ninguém que tire”, afirma Maria, lembrando que a ex-ministra, diante da recusa, comprou madeira para o caso de ser necessário subir os móveis.
Entra enchente, sai enchente, seu Pedro adianta que não vai arredar o pé dali. Questionado se aceitaria se mudar para Brasília num eventual mandato da filha, foi taxativo: “Morar lá, não. De jeito nenhum. Acostumei aqui”.
Foi Marina, contam os Silva, quem mandou construir uma casa mais alta para minimizar os danos provocados pelo Rio Acre. Antes da projeção política, ela morou num casebre na mesma rua.
Seu Pedro está no local há 34 anos. Mora com Maria e se sustenta com a aposentadoria por idade. Anos atrás, vendia tabaco na antiga rodoviária, mas a idade avançada já não permite muito esforço. Ele critica o valor do benefício social, de um salário mínimo, cujo ganho real nos últimos 12 anos é uma das principais bandeiras do PT. “Para o preço em que estão as coisas, não é um bom salário”, reclama, acrescentando não saber o que um eventual governo Marina faria a respeito.
‘Surpresa’
Seu Pedro é uma das pessoas mais próximas da presidenciável e, segundo os parentes, está sempre em contato com ela. No lançamento da chapa da filha com Eduardo Campos, em abril, estava em Brasília prestigiando a ex-ministra. “Foi de repente, pegou todo mundo de surpresa”, comenta, quando perguntado sobre o acidente que matou o ex-governador. Para ele, foi natural que Marina assumisse a campanha após a tragédia, afinal, “ela já era a vice”.
A campanha de Marina tem procurado blindar os familiares do assédio da imprensa. Nesta quarta-feira, 3, o jornal O Estado de S. Paulo encontrou seu Pedro descansando numa rede, no andar de baixo de casa e conversou com ele por cerca de meia hora, mas parentes que integram a campanha pediram depois que a entrevista com ele fosse interrompida. Maria conversou com a reportagem na segunda-feira, 1º, por cerca de uma hora.
Seu Pedro é católico, mas diz que entra onde “tiver Deus”. Já Maria frequenta a igreja Deus é Amor da esquina. Ela concorda com a decisão da irmã de não apoiar o casamento gay, uma das primeiras polêmicas da campanha. “Esse negócio de homem casar com homem, mulher casar com mulher é coisa do inimigo”, justifica, evocando conceitos da Bíblia. “A Marina não apoia, não. Não é contra, mas a favor também não é. Quem quiser viver sua vida, viva. Mas ela mesmo não assume a responsabilidade de ser a favor”, emenda.
A exemplo de Marina, os Silva são comedidos quando se fala na rápida ascensão da ex-ministra nas pesquisas e evitam cantar vitória antes da contagem dos votos. Mas dizem que ela está pronta para governar e que as condições são boas. “É uma mulher preparada para ser presidente. Neste ano, tenho pra mim que a Marina vai ganhar dela (a presidente Dilma Rousseff). O povo já está cansado de tanta promessa.”
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