Um verdadeiro mar de gente entupiu as ladeiras de Cruzeiro do Sul durante a procissão em louvor a Nossa Senhora da Glória na noite desta sexta, dia 15. Por duas horas os fiéis seguiram a imagem da Santa Padroeira do Juruá entoando hinos e rezando orações de Pai Nosso e Ave Maria. O maior evento de fé do Acre, e o segundo da região Norte, atraiu pessoas de todos os lugares do Estado e do Brasil. Empunhando velas acesas durante o percurso os peregrinos aproveitavam para pedir graças à Nossa Senhora e agradecer aos milagres recebidos.
O espetáculo que emociona os moradores de Cruzeiro do Sul, desde 1917, este ano, teve uma pequena mudança de percurso. Mas a tradicional descida do Morro da Glória em direção à Catedral da Padroeira continuou a ser uma das imagens mais belas de manifestação religiosa popular da Amazônia. Pessoas vestidas de branco em concentração e oração durante o caminho de penitência para os católicos.
Dom Mosé Pontello, o Bispo de todo o Vale do Juruá, abriu a caminhada pedindo aos fiéis concentração para que pudessem louvar e agradecer a Mãe Divina. Enquanto a imagem de Nossa Senhora da Glória no seu andor enfeitada de flores e com uma coroa vinda de Fátima, Portugal, abria caminho para milhares de pessoas renovarem os seus pedidos de dias melhores e de encontro com a espiritualidade.
Ao final da jornada de 50 mil fiéis aproximadamente, segundo os cálculos da Polícia Militar, houve uma grande queima de fogos num belíssimo espetáculo pirotécnico. No grande palco montado em frente a Catedral o pop star católico, Padre Antônio Maria apresentou-se por mais de duas horas aos peregrinos.
A procissão de Nossa Senhora da Glória é o coroamento das nove noites de orações que começam sempre no dia 6 de agosto e terminam no dia 15. Há 98 anos peregrinos de todos os lugares da Amazônia vão a Cruzeiro do Sul para participar do espetáculo de fé. Ao redor da Catedral barracas de venda de roupas, a praça de alimentação e o leilão mantém uma tradição ainda dos tempos em que a região era completamente isolada por terra do resto do Brasil. A tradição do Novenário de Nossa Senhora da Glória é um dos principais motivos de Cruzeiro do Sul ser o município com o maior número de católicos do Acre.
A fé e a busca de voto
A peregrinação à festa da Padroeira do Juruá sempre atraiu os políticos acreanos. Mas em ano de eleição a afluência é ainda maior. Seja para ser lembrado pela “bairrista” população da região, ou mesmo, para ter contato com a multidão de peregrinos que na realidade também são eleitores.
O anfitrião da festa religiosa popular sempre foi o prefeito de Cruzeiro do Sul. No caso da procissão deste ano, 2014, Vagner Sales (PMDB), que frequenta o evento desde quando ainda era garoto e morava num seringal da vizinha Porto Walter. Vagner, acompanhado da esposa, a candidata a vice governadora Antônia Sales (PMDB), declarou ao final da procissão que nunca tinha visto tanta gente. “Foi sem dúvida a maior procissão de Nossa Senhora da Glória de todos os tempos,” disse ele.
O governador Tião Viana (PT), candidato à reeleição, acompanhado da esposa Marlúcia Candido, frequenta o Novenário mesmo antes de ser político. Nos 12 anos em que foi senador e nos quatro em que governa o Estado, Tião Viana, nunca faltou ao evento de fé do povo do Juruá. Católico convicto Viana declarou: “A procissão é um momento familiar. Em que podemos renovar a nossa fé e rezar por aqueles que amamos. O quê acontece em Cruzeiro do Sul durante o Novenário de Nossa Senhora da Glória é uma autêntica e espontânea manifestação popular de devoção e religiosidade que deve ser incentivada e preservada,” afirmou.
Outro político acreano que também sempre frequentou o Novenário é o senador Jorge Viana (PT). Logo pela manhã do dia 15 Jorge postou na sua fan page. “O Novenário de Cruzeiro do Sul é uma festa bonita, reúne muita gente, pessoas que vêm de toda parte participar desta festa religiosa. Sempre que posso, participo. É bom essa comunhão com as pessoas simples que moram nos altos rios e que têm muito a nos ensinar, especialmente sobre fé.”
O candidato ao Governo, Márcio Bittar (PSDB), que estava acompanhado de Vagner, Antônia Sales e do deputado federal Flaviano Melo (PMDB) também ressaltou a importância do evento. “Está não é a primeira vez que participo do Novenário. Há 12 anos que sempre venho manter contato com a população do Juruá nesse momento especial de fé e devoção. Se for eleito quero incentivar esse tipo de manifestação para todas as religiões do Acre. Esse Novenário é o maior evento religioso do Estado que deve receber todo auxílio para continuar a emocionar os seus fiéis,” garantiu.
Bocalom (DEM), que também disputa o Governo, estava ao lado do seu candidato ao Senado Roberto Duarte (PMN). Bocalom garantiu que frequenta o Novenário há quatro anos e admira a manifestação popular de religiosidade do povo do Juruá. Na sua fala preferiu adotar um tom mais místico do que político. “A gente vê a fé das pessoas e sabe que essa força é capaz de curar a alma e o espírito. Assistindo a um espetáculo como esse entendemos a Palavra que afirma que a fé remove montanhas e o povo que vem aqui consegue alcançar milagres inacreditáveis movidos por essa força interior. É bonito ver pessoas dos mais diferentes lugares e com os mais distintos propósitos se irmanarem durante a procissão para renovarem os seus compromissos com a religiosidade,” declarou.
A tradição das velas
nas mãos de políticos
Os frequentadores tradicionais do Novenário de Cruzeiro do Sul costumam observar as velas que os políticos carregam durante a procissão. A lenda diz que aquelas que queimam mais rápido denotam aquele que precisa de mais perdão para os seus pecados. Na realidade isso se torna uma brincadeira entre os participantes que apostam em que chega ao Novenário mais carregado ou mais leve de pecados.
O cruzeirense, ex-deputado Edvaldo Magalhães (PC do B), ao lado da esposa, candidata ao Senado Perpétua Almeida (PC do B) brincava com Jorge Viana que chegou ao final da peregrinação com apenas um pequeno cotoco de vela acesa.
Já Vagner Sales que fez o percurso ao lado de Márcio Bittar garantiu que a vela do candidato foi a quê queimou mais rápido. Mas em tom de brincadeira garantiu que isso é muito bom porque Bittar disputará a eleição mais “leve” depois da peregrinação pelas ladeiras de Cruzeiro do Sul.
Por outro lado, os assessores de Bocalom vacilaram e, na confusão da saída da procissão, não entregaram a vela acesa ao candidato. Assim, Bocalom cumpriu o seu trajeto só em oração sem se preocupar com a velocidade da queima da sua vela.
Foto de capa: Suamy Beydoun